Sentado num banquinho, sem camisa, estava esperando o tempo passar. Na frente da casa, mastigava alguma coisa que o distraía. Coçava a cabeça suja e branca, quando descoberta do chapéu. O sol já ia, mas o calor continuava. Sentado, com uma calça maltratada pelo tempo, mais que o seu rosto pelo sol, e com umas alpargatas pretas, iguais a seus pés, ele acompanhava o vôo dos pássaros, a caminhada das formigas, o sono do cachorro. Assim como o cão não se incomodava com as moscas pousando nas feridas dele, o bom senhor não se importava com o fedor de fumo que estava impregnado em seu corpo, fruto do trabalho com a planta e do bode que acabara de acender. “Seu José”, dizia o moço que passava. A resposta era um levantar de braços. “Seu José”, dizia a senhora cheia de sacos. Outra vez o levantar de braço. “Tarde, cumpade”. Seu José agora insinuava levantar da cadeira, mas não insistiu no cumprimento. – Vamo chegando, vamo chegando, Zequias. Maria, me traz um banquinho pro cumpade, pra mode nós prosear... E ali permaneceram. A conversa, de poucas palavras, mas longa, ficou restrita somente no trabalho na roça, no casamento da filha de Seu Zequias e do tempo quente, sem chuva, dos últimos dias. Maria trouxe um café para acompanhar a conversa. Em duas canecas sem asa, rachadas, Maria despejava a bebida feita naquele instante. Zequias agradeceu e teceu elogios à senhora: – Gostoso... – Isso porque ocê num provô o bolo de fubá... Uma delícia! – dizia Seu José, todo orgulhoso. Minha senhora é muito prendada. Tem mãos maraviiosas... Maria dava um sorriso sem dentes. Resolveu ficar por ali também, mas sentada no chão, na porta, tangendo o cachorro que dormia em sua entrada e caçando um pedacinho de pau ou talo de planta para ocupar a boca. Seu Zequias só demorou o tempo do cafezinho. Ele ainda ia seguir longe, caminhar um bocado. Quando se fora, Seu José ficou só. Ninguém passava. Só o tempo. E nessa, o sol deu lugar à lua. Assim como o caminhar das formigas dera lugar ao canto das cigarras, e o silêncio dera vez ao som da televisão.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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