Sentou-se. Recostado na cadeira, pôs a caneta e um papel em cima da pequena mesa. Não sabia como começar. Desejava encontrar as palavras certas, para não gerar mágoas ou ações desastrosas. Pegou a caneta. Letras, palavras, frases surgiam. A carta de despedida foi tomando forma. Começou timidamente, mas conseguiu exprimir seu pensamento de bom modo. Tudo o que era preciso escrever, lá estava escrito. Detalhes, explicações e a atitude de partir – necessária e difícil. Há cinco meses havia conhecido Amanda. Linda, perfeita, na medida para ele. Sempre pronta e disposta, confortava-o, dando noites maravilhosas, descanso. Para inveja dos amigos. Tempo de glória, de alegria, confidências... Boa parte do dia passava com ela. Mas chegava a separação. Os amigos choraram. Fizeram uma pequena celebração. Houve até discurso. Bolo e doces. Cantaram para ela. Beijaram-na. Entretanto, ela não comemorou. Estava terminando sua despedida, descrevendo momentos e as futuras saudades. Lembrou da noite que ficou acordado, conversando com ela. Do dia que precisou dela para se esconder dos outros rapazes. Do dia que o amarraram a ela – inesquecível. Da época que um fino e rasgado lençol a cobria, porque os amigos haviam ganhado uma aposta – longa história. Tempo que não volta. Os funcionários do manicômio esperavam-no entregar a carta. Lágrimas surgiram de seu rosto. Não podia ficar até o final. Era duro demais deixá-la. Com passos desajeitados, ele dirigiu-se até o quarto ao lado. Assumiria uma nova cama, Rita. Não mais Amanda, que seria de outro. Mudanças de partir o coração.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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