Ser paciente só quando no médico. Alguém já deve ter pensado assim. Nos dias atuais de hoje, seja no cotidiano ou no dia-a-dia, a paciência se tornou um dom. Um privilégio de poucos. Daqueles que estão conscientes de que o grito vale mesmo apenas na hora do gol. Valdenilson é um tipo de rapaz totalmente diferente. Não somente pelo bigode extravagante, mas pelo adorno facial e pela calmaria que lhe é inerente. A rigidez de sua testa e a voz mansa confunde as pessoas. “Um homem deste tamanho, parece um touro. No entanto, fala como uma criança”. Ninguém ousa expor esse pensamento – sabe lá como ele reagiria. Maria Bartira, sua noiva, é totalmente o oposto. Rosto angelical, voz de menina humilde, mas paciência inexistente. Agrada-lhe estar com Val. Contudo, atraso nem de salário. E ele sabia disso. Mas tudo tem sua primeira vez. Era uma sexta-feira de dezembro. Verão dando sinais de vida. A praia seria o local de descanso. Barty estava produzida para o seu amor: o sol. Besuntada até os cabelos com protetor, esperava Val chegar antecipadamente antes do horário. O que não aconteceu. A raiva tomava-lhe. Suas narinas, como de dragão, queimavam a sutileza. Suas mãos, o carinho. Findava-se a delicadeza, surgiam os pensamentos de ingratidão e rejeição. - Ah! Deixa chegar... Quando ele aparecer... Não queria estar na pele dele... O que ele pensa que sou? Não tenho nada mais para fazer? O tempo passou. Val não chegou. Seu temperamento mudou. Preocupada ficou. A mão coçou, mas não ligou. Quase desmaiou. - Sim? Sentou-se. - Val estava indo para sua casa e... alta velocidade... queria chegar no horário, só... havia um caminhão... O telefone caiu de sua mão. Começou a chorar. “Por quê? Por que ele?”. Lá embaixo, uma buzina arrojada. Era o Fusca de Val. Ela não acredita. Da sacada, observa-o. Desce às pressas. Pelas escadas. Do sétimo andar. Atravessa a rua sem olhar para os lados. Pula em seus braços e beija-o, dizendo que o amava. Ele fica assustado. E alegre. - ...então, ele vai chegar atrasado. Os agentes de trânsito bloquearam todo o local. Desculpa estar falando assim, mas é que... você é impaciente... tive medo de você... sei lá. Matá-lo! Maria? Alô? Alô?
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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