Madrugada. Meia São Jorge de solidão. Insônia. Era uma noite esquisita. Nuvens encobrindo a lua. Silêncio na rua. Apenas o número 501 do Edifício Roseana acordado. Eu estava sentado no chão, recostado no sofá da sala. - Qual o melhor sentimento que o ser humano pode ter? – perguntei. - O amor – eu me respondi. - O amor? – duvidei. - Sim. É. É sim! Pelo amor, cometemos loucuras. Com amor, procuramos zelar por nosso amado. Procuramos dar carinho, esperar que ele esteja sempre bem, sempre seguro. Com o amor, a mãe alimenta o marido. Alimenta os filhos. O marido protege a esposa. Faz de tudo para ele estar sempre em paz, sem grandes preocupações. - Mas eu não amo ninguém! - Então procure amar... – respondi a mim mesmo. - Mas... amar por amar? - Ninguém ama por amar... não tem como – expliquei-me. O amor é um sentimento inerente aos românticos. Não se questiona como apareceu, nem como surge. O amor demonstra-se espontâneo. Cai tão simples quanto a chuva no telhado. Emociona tanto quanto o nascimento de um filho. Alegra mais que as férias. Estimula mais que catuaba ou amendoim. Ou os dois. O trabalho fica mais gratificante, o dia fica mais vivo, a noite fica mais especial. Nesse momento, eu já estava de pé. A garrafa era a minha companhia. Era a minha parceira na dança. Uma dança sem música. Apenas tocando em meu pensamento. “Love me tender, love me sweet, never let me go. You have made my life complete, and I love you so”. Os passos eram perfeitos. Na verdade, quase. Quase perfeitos, não fossem o sofá e a mesinha me atrapalhando. - O amor! - Sim, o amor! - Amore! Amour! El amor! Meus olhos estavam fechados. Minhas pernas, flutuando. Meus braços estavam leves, carregando o meu amor imaginado, num passo agora perfeito. A mesinha tornava-se a referência para a dança: em círculos. O mundo estava rodando. Muito mais que eu. Tropecei e caí. No sofá. A insônia acabara.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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