A mãe gostava do rio, o pai se bandeava era pro mar que ainda haveria de ver de perto com as graças de Deus. Coronel Romão Palhares, o patrão, em visita ao capataz, foi quem escolheu o nome do menino de dois dias que ressonava no berço: Há de si chamá Riomar o tom era curto e seco, é o mió, assim num si disagrada nem pai nem mãe. Riomar cresceu solto nas terras de Romão Palhares. De novinho, via o homem embrenhado nos matos à caça da Pintada, que volta e meia vinha dar suas baixas na bezerrama. Cedo ainda, o moleque mostrou a inclinação pela carabina. Nas horas d’alguma folga, o Coronel ensinava-lhe as manhas do tiro. Coisa de todo dia, fazia de alvo a lata fincada no mourão da cerca: o gosto pela bala foi enchendo-lhe o peito, virou sina. Às primeiras barbas, já engrossava o bando da jagunçada. Em noite de sexta-feira, Riomar se entrincheirou às portas de Rufino Brandão, inimigo de morte do patrão por querelas em divisas de terra. Justino dera o serviço: Dona Serafina sozinha no casarão; o marido pela venda do povoado. Alguma hora haveria de voltar... Ia ser um tiro só sem dó nem piedade. A lua encoberta em nuvem de chumbo prestava adjutório. O barulho oco de montaria trotando em poeira solta aguçou os ouvidos de tocaia. Era o homem. Riomar susteve o respiro, apertou o olho, ajustou a mira... Nem teve tempo de entender a espessa rosa de fogo a escorrer-lhe quente pela barriga, empapando num repente o couro grosso do gibão: no escuro do casarão, da janela entreaberta, Dona Fina tinha disparado primeiro.
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