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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
12/05/2014 - 09h06
Traições
 
 

Sábado. 15h37mim. Casa do Marlon.

– Tenho uma para te contar...
– Fala...
– A Mariana me falou uma coisa ontem que... Que...
– O quê? Desembucha, Rafael!
– Marlon... Ontem, eu e ela estávamos no carro e tal...
– Tu não me disseste que iria largar esta mulher de mão? Que não queria mais?
– Pois é... Pois é... Mas, acabamos saindo de novo e quando eu fui largá–la em frente a sua casa, ela me deu um beijo e sussurrou no meu ouvido “sabia que eu te amo?”...
– Putz! Agora fudeu, cara! Fudeu... Mulher quando diz “eu te amo” nunca mais larga do pé! Estás enrascado...
– Pois é...
– E o que tu respondeste?
– Pois é...
– Eu não estou acreditando!
– É que ficou aquele silêncio no carro... E eu retribuí o carinho!
– Putz, velho! Se tu não gostas da mulher por que disseste isso para ela?
– Foi no impulso! Para agradá–la! Sei lá o que me deu na hora...
– Ou gosta e não quer me falar?
– É que...
– Estou vendo que perdi o parceiro para a festa de hoje à noite, não?
– Não! Não...
– Tu não estás pensando em namorar a Mariana. Estás?
– Assim...
– Faz quanto tempo que vocês estão saindo?
– Uns dois meses...
– Sinceramente, eu acho que tu não tens que se apegar a esta mulher. Já te falei sobre o passado dela. Além do mais, tu estás novo para andar por aí “casado”... Vamos aproveitar a nossa solteirice, parceiro! Olha o monte de mulher que tem por aí dando sopa...
– Pois é...
– Festa de hoje confirmada? Não vais me deixar na mão, né?
– Está bem... Está bem... Convenceu! Festa confirmada. Te pego aqui às 23 horas...
– Ok!
– Então, vou lá...
– Ah! Não se esquece de enrolar a Mariana. Não quero que ela apareça lá e faça um barraco, pois tu tens que ver as mulheres que irão com a gente. Só modelo! Como diz um amigo: só “mulher série A”...
– Pode deixar...

Rafael e Marlon se despediram. Logo que chegou a sua casa Rafael ligou para Mariana e inventou a desculpa da morte de um tio por parte de pai. Com isso, teriam que cancelar o cinema marcado para aquela noite de sábado. Ela prontamente compreendeu e ofereceu qualquer ajuda necessária. Enquanto isso, Marlon criava um perfil falso no Facebook e deixava um recado para Mariana dizendo que Rafael estaria à noite em uma balada, no endereço X. Nascia a dúvida na cabeça de Mariana.

Sábado. 23h59mim. Na balada.

– Rafael! Eu não te disse que as mulheres eram top, hein?
– Pois é...
– Te solta, meu irmão! Hoje, tudo é festa!

Rafael e Marlon começaram a ingerir bebidas alcoólicas e a dançarem com o grupo de mulheres que os acompanhavam na balada. Rapidamente, estavam integrados e interagindo. Apresentada por Marlon, Rafael começou a conversar com uma morena de cabelos longos, pele clara e que usava aparelho ortodôntico. À medida que o tempo passava e os efeitos etílicos eram sentidos, a intimidade e a atração de Rafael pela morena aumentavam. O “empurrãozinho” que faltava foi incentivado por Marlon:

– Vocês vão esperar a festa toda para se beijarem?

Rafael e a morena trocaram olhares e se beijaram. Neste instante, Mariana entrou na balada e flagrou a cena. Transtornada, em um impulso que mesclava ciúmes e ódio, beijou como retaliação o primeiro homem que lhe cruzou o caminho. Rafael desmoronou ao vê–la nos braços de outro. Mariana encarou–lhe e se dirigiu em direção à porta da balada. Rafael fez menção de ir atrás, mas Marlon o impediu:

– Não! Eu tinha te avisado sobre a Mariana...

Domingo. 16h17mim. Porta da casa da Mariana.

– Oi, Marlon! Você aqui?
– Pois é, Mariana! Vim ver como você está... Fiquei preocupado... Sei que a gente não tem muita intimidade... Mas, eu assisti tudo que aconteceu ontem na balada e tal...
– Ah, sim! Pois é... Entra... Vamos ao meu quarto...

Domingo. 16h19mim. Quarto da Mariana.

– Obrigado pela sua preocupação, Marlon!
– Que isso! Como você está?
– Mal! Muito mal! Arrasada! Decepcionada!
– O Rafael viajou na tua... Bem que eu o avisei... Eu disse que tu eras uma mulher especial, linda, que merecia respeito e ser tratada com carinho...
– Obrigado pelas palavras!
– Ele quem insistiu para irmos à festa...
– Ah, é?
– Foi... Eu falei: tu estás praticamente namorando a Mariana... Ele respondeu: eu não tenho namorada! Vamos para a festa!
– É um cachorro! Sem vergonha! Como eu pude me enganar tanto...
– Eu, sinceramente, nunca faria isso contigo... Eu não sei como ele teve coragem... É meu amigo, mas ele fez uma burrada... Tu és uma mulher para amar a vida inteira, Mariana!
– Obrigado!
– Eu quero que tu saibas que pode contar comigo, Ok?
– Ok! Obrigada.
– Pode contar comigo para tudo mesmo, viu? Tu nem sabes o carinho que tenho por ti...
– Marlon...
– Sério! É um sentimento...
– Chega! Eu não acredito nisso! Tu vieste na minha casa para dar em cima de mim? Achando que eu carente iria cair na tua lábia e nos teus braços? Que horror! Que falta de consideração com o Rafael... Saí daqui agora!
– Mariana! Não é isso...
– Agora!

Domingo. 17h23mim. Ligação de Marlon para Rafael. 

– Alô!
– Rafael! Pode falar?
– Claro!
– Tenho uma coisa não muito boa para te contar...
– Fala...
– A Mariana está espalhando boatos de ti por toda a cidade. Falou que...

Marlon encerrou a ligação e sorriu. Rafael não acreditaria em Mariana quando ela contasse que ele dera em cima dela. Perturbado pelo fato narrado por Marlon, associado ao episódio na balada, Rafael decidiu ir atrás de Mariana e tirar satisfações. Foi até a sua casa. Lá, por cerca de meia–hora, eles discutiram a relação e “lavaram a roupa suja”, dirigindo–se com acusações e palavras ofensivas um ao outro. Não conseguiram se entender. O fim do relacionamento estava decretado. Rafael deixou a casa de Mariana e rumou para a sua residência. Já Mariana sentiu uma intensa crise de stress e falta de ar, tendo que ser levada pelo serviço de urgência para o hospital da cidade.

Dias depois.

No hospital, Mariana passou por uma bateria de exames, sendo diagnosticada com uma doença grave e em estágio avançado no coração. Os médicos não entendiam como a enfermidade não fora detectada anteriormente e não apresentara nenhum sintoma. Ela teria que ficar hospitalizada e se a medicação não surtisse efeito, apenas um transplante do órgão resolveria a situação.
A notícia sobre a doença de Mariana deixou Rafael transtornado. O sentimento de culpa apoderou–se da sua consciência. Chorou copiosamente por vários dias seguidos. A dúvida se a visitaria ou não no hospital rodeava os seus pensamentos. Quantas coisas ficaram por serem ditas, desculpas pedidas e a declaração que no fundo a amava. Teria uma nova chance de dizer isso a ela? Quando decidiu ir ao hospital, era tarde demais. Mariana sofrera uma parada cardíaca na tarde de uma terça–feira e os médicos não conseguiram reanimá–la.

No velório.

Em frente ao caixão de Mariana, Rafael chorava intensamente pela perda da amada e pela carga de culpa que carregaria pelo resto da vida. Enquanto isso era abraçado por Marlon, que tentava consolá–lo:

– Deus quis assim. É o destino...


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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