Patrícia era uma loira linda. Corpo esbelto, olhos verdes e um cabelo comprido que, ao caminhar com elegância, as pontas escondiam os glúteos, provocando certo fetiche nos homens que tinham o prazer de cruzar com a bela mulher. Logicamente que, por onde passava, Patrícia se fazia notar pela beleza, apesar de carregar um ar de timidez, ter gestos equilibrados, tom de voz baixo e hábitos discretos. E essa “sina” de ser notada não foi diferente em um renomado bar, que começou a frequentar todas as sextas-feiras à noite, que oferecia aos clientes uma variedade de pratos, cervejas, drinks e música ao vivo. Desde a primeira sexta-feira em que ingressou no bar, ela virou o centro das atrações dos frequentadores assíduos (ou não) e dos garçons da casa, embora, sucessivamente seguisse uma rotina. Ela ingressava no local sempre no mesmo horário, sentava-se mais ou menos no mesmo ponto, na parte intermediária do bar, pedia uma cerveja e, solitária, ficava a curtir a música tocada pelo cantor e o seu violão, cantarolando baixinho, entre um gole e outro. Assim, ficava de duas a três horas, tomava de duas a três cervejas, depois pagava a conta e deixava o bar. Após cinco sextas-feiras seguidas mantendo esta rotina, a curiosidade de todos já estava aguçada, pois pouco se sabia de Patrícia, apenas que era analista em um laboratório de análises clínicas. Quem é ela? O que faz? Por que está sempre sozinha? Por que não conversa com ninguém? Por que fica ali apenas curtindo a música e a cerveja? Eram as indagações que inquietavam os garçons e os frequentadores do bar. Foi então que, depois de vários goles de cerveja, um dos clientes tomou coragem e tentou se aproximar. Cumprimentou-a e perguntou se poderia se sentar junto a ela. Ele voltou para local em que estava anteriormente segundos depois carregando um enfático “Não! Estou bem sozinha. Obrigada!” na bagagem. Essa atitude de Patrícia deixou todos ainda mais curiosos. Tinha virado um desafio descobrir algo sobre a bela loira de cabelos compridos, que se sentava no bar, ficava bebericando por horas e olhando para o mesmo músico cantar, quase sempre as mesmas músicas. Nas seis sextas-feiras seguintes, clientes frequentes do bar tentaram de todas as maneiras possíveis se aproximarem de Patrícia. Foram pessoalmente até ela, ou mandaram recados pelos garçons, ou mandaram uma amiga dar um recado, ou escreveram em guardanapos, ou fizeram sinais, enfim, todas alternativas não tiveram sucesso. Ela, elegantemente e educadamente, agradecia, porém, respondia estar bem sozinha e voltava a beber a cerveja e a se entreter em cantar discretamente os sucessos populares. Ela era o assunto principal do bar. Até os garçons ingressaram na missão e tentaram com simpatia arrancar algo da loira solitária. Fora alguns sorrisos e palavras delicadas de agradecimento, também, não tiveram êxito. As garçonetes do bar, igualmente, tentaram uma aproximação. Nada. Nas redes sociais, Patrícia mantinha perfis quase sempre desatualizados ou privados para amigos, que selecionava muito bem na hora de aceitar os seguidores ou convites de amizade. Nenhuma “abertura” ou flertada aparente com os homens do bar. Nem mulheres. Sempre sozinha. Sempre a mesma rotina. Sempre discreta. Afinal, qual era o segredo da solitária loira misteriosa? O óbvio é tarefa difícil de enxergar. Foi então que, mais uma sexta-feira chegou e o bar encheu rapidamente. Todos esperavam por Patrícia. Ansiosos. Mas, a primeira surpresa da noite, surgiu do músico, que não apareceu. Desesperado, o dono do bar ligou para o cantor, que confirmou não poder ir naquele dia. Estava com problemas pessoais. Pediu desculpas e, constrangido, o músico contou a verdade ao proprietário do bar: tinha sido pego pela esposa com a amante. Às pressas, um novo músico foi contratado. Passado o transtorno gerado, uma segunda surpresa surgiu no bar naquela noite: Onde estava Patrícia? A indagação correu pelo interior do bar e ninguém encontrava a resposta. Até que a “ficha caiu” e alguém se deu conta: Ela era a amante. Todos concordaram e, quase em coral, exclamaram: – Tudo explicado agora!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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