Cena: uma bela jovem loira senta-se em um banco de uma praça ao meio-dia segurando uma sacola vermelha. O celular dela, que está no bolso da calça de jeans, toca. Muito atrapalhada, quando ela vai pegar o aparelho, cai da sacola uma tirinha de camisinhas no chão. Ela junta os preservativos e, para apanhar o celular, os prende entre os dentes. Várias pessoas assistem a situação. Uma senhora que estava sentada à frente da loira espanta-se e diz para si mesma balançando a cabeça “que absurdo! São outros tempos. O mundo está perdido mesmo!”. Um senhor que fumava em pé pensou que no tempo dele não era assim tão fácil. Uma pena! Um adolescente que estava sentado próximo em cima de um skate já imaginou a loira nua. “Essa hora. Que safada!”, entusiasmou-se um jovem que passou caminhando pelo local. Uma balzaquiana refletiu e achou legal ver outra mulher preocupada com a própria saúde. O jovem que estava sentado em outro banco à frente da loira passou a cobiçá-la. “Está querendo sexo!”, deduziu. “Só pode ser garota de programa”, concluiu um homem de meia idade que estava à direita da loira. “Será que ela vai usar com um homem ou vários?”, inquietou-se uma garota. “Qual a intenção dela em mostrar aqueles preservativos?”, indagou-se o belo moreno que comia um sorvete em pé. Um ambulante gritou “Sexo é vida. Sexo é bom!”. Após as reflexões, todos seguiram observando os movimentos da loira. Segundos depois, ela largou novamente as camisinhas na sacola e atendeu ao celular. Assim que finalizou a ligação, levantou-se e foi possível ler em sua camiseta na parte da frente o slogan da campanha “Diga não a Aids. Use camisinha”, e, nas costas, distribuidora oficial – Secretaria da Saúde. Moral da história: não julgue sem conhecer o contexto.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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