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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
10/08/2013 - 11h35
As promessas
 
 

Foi em meio a um churrasco regado a cerveja que surgiu a ideia. Era domingo e iniciava às 16 horas o Campeonato Brasileiro de Futebol. Fazia muitos anos que o time do trio não vencia a competição. Porém, os três amigos acreditavam que havia chegado a hora. Para isso, mesmo levando fé no time, não hesitaram em pedir ajuda aos santos (ou nem tão santos assim).

- O que vocês acham de nós três... Nós três aqui podíamos fazer umas promessas para ajudar o time a ser campeão. O que acham? Esse ano a gente tem que ser campeão, pô!
- Bo-boa ideia.
- Estou dentro! Mas, vamos fazer uma para nós três ou cada um faz a sua promessa, hein?
- Cada um faz a sua... Eu acho...
- Po-pode ser!
- Por mim... Tanto faz...
- Mas, vamos combinar o seguinte: só revelaremos a promessa um para o outro no final do campeonato se nós chegarmos a ser campeão... O que acham?
- Fica tipo um segredo de cada um, hein?
- Isso...
- Po-pode ser! Já fiz a minha... Que que os santos nos ajude!
- Também fiz a minha! Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
- Eu também! E vamos brindar! É campeão!
- É-É campeão!
- É campeão!

Após a sessão de promessas, o churrasco e a cervejada seguiram recheados com muitas análises do time e de jogadores, xingamentos ao treinador e palpites do placar do jogo. O time dos três amigos iniciou a competição vencendo a partida, o que só reforçou a fé no poder das promessas. Havia dado certo e o título era uma questão de tempo. Os santos estavam conspirando a favor. E, realmente, aconteceu. Trinta e oito rodadas depois o time do trio sagrou-se campeão e eles fizeram muita festa. Passada a fase de comemorações era chegada a hora de pagar as promessas. Novo churrasco foi marcado para que houvesse as revelações do prometido no início do campeonato.

- Somos campeões! Quem diria... Foram os santos! Nossas promessas foram fortes! Nós que impulsionamos esse título...
- É-É verdade!
- Pois é...
- Eu prometi que se fossemos campeões eu iria lavar o chão da igreja de Nossa Senhora Aparecida por um mês e na próxima procissão iria de pé descalços... Vou pagar! Tudo pelo nosso time!
-A-a pretinha é forte... E-essa não falha! E-eu prometi que vou à próxima romaria de Nossa Senhora do Caravaggio e vou acender 38 velas. U-uma para cada rodada do campeonato!

Silêncio. O terceiro amigo fez um suspense por alguns instantes e, então, iniciou a revelação da sua promessa.

- Minha promessa foi para São Jorge. Conhecem, hein?
- Claro!
- Cla-claro!
- Santo poderoso...
- É.
- É-é!
- E eu prometi... E eu prometi a ele que se o nosso time fosse campeão vocês dois pagariam as prestações do meu carro por seis meses!

Silêncio. Os amigos se olharam e caíram na gargalhada.

- Há! Há! Há!
- Há! Há! Há!
- Há! Há! Há!

Silêncio novamente por alguns instantes. O clima fica apreensivo.

- Sério isso?
- Sério.
- E-eu não acredito!
- Pode acreditar...
- Por que fez isso com a gente?
- Sei lá! Foi o que pensei na hora...
- N-não podia ter feito isso. Minha mulher vai me matar! Eu não vou pagar...
- Isso foi sacanagem!
- Achei que pelo nosso time valia tudo!

Breve silêncio.

- São Jorge vai cobrar.
- Eu não vou pagar!
- Ne-nem eu!
- Vocês querem ver o nosso time se afundar?
- Por que está dizendo isso?
- É-é por quê?
- Porque quando fiz a promessa disse que, como penitência caso não fosse cumprida, São Jorge poderia rebaixar o nosso time no ano seguinte...
- Eu não acredito! Não! Não! Não!
- Nã-não! Poxa...
- Eu vou ti matar!
- E-eu também!
- Pois é...
- Ficar devendo pra santo é brabo! Minha mulher vai me matar! Tu nos ferraste! Isso vai ter volta!
- Va-vai ter voltar, sim!
- Achei que pelo nosso time valia tudo! Não imaginei que vocês ficariam tão brabos assim!
- Vai para a p#t@ que pariu!

As esposas dos três amigos que ouviram a discussão próxima à churrasqueira resolveram se aproximar. Foi então que, em meio aos lamentos dos dois pagadores da promessa, a esposa do devoto de São Jorge chamou-o em um canto e sussurrou baixinho.

- Amor! Tu prometeste isso mesmo?
- Claro que não! Disse isso só para sacanear eles!
- Ah bom! Que susto!
- Deixa eles sofrerem até vencer a primeira prestação. Depois eu conto!
- Como tu és mau!
- Há! Há! Há!
- Mas, me diz uma coisa...
- Hum...
- Eu sei que tu amas esse time. Alguma coisa tu prometeste... Tenho certeza. O meu sexto sentido está me dizendo isso. Tu não me enganas. Acertei?
- É...
- Fala...

Ele olhou para os lados, chamou a esposa e cochichou a promessa ao seu ouvido. Um grito surgiu logo em seguida:

- Seu cretino! Essa promessa não vai ser paga! Não vai mesmo!

Ele dormiu no sofá por quatro dias seguidos.


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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