Foi em meio a um churrasco regado a cerveja que surgiu a ideia. Era domingo e iniciava às 16 horas o Campeonato Brasileiro de Futebol. Fazia muitos anos que o time do trio não vencia a competição. Porém, os três amigos acreditavam que havia chegado a hora. Para isso, mesmo levando fé no time, não hesitaram em pedir ajuda aos santos (ou nem tão santos assim). - O que vocês acham de nós três... Nós três aqui podíamos fazer umas promessas para ajudar o time a ser campeão. O que acham? Esse ano a gente tem que ser campeão, pô! - Bo-boa ideia. - Estou dentro! Mas, vamos fazer uma para nós três ou cada um faz a sua promessa, hein? - Cada um faz a sua... Eu acho... - Po-pode ser! - Por mim... Tanto faz... - Mas, vamos combinar o seguinte: só revelaremos a promessa um para o outro no final do campeonato se nós chegarmos a ser campeão... O que acham? - Fica tipo um segredo de cada um, hein? - Isso... - Po-pode ser! Já fiz a minha... Que que os santos nos ajude! - Também fiz a minha! Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! - Eu também! E vamos brindar! É campeão! - É-É campeão! - É campeão! Após a sessão de promessas, o churrasco e a cervejada seguiram recheados com muitas análises do time e de jogadores, xingamentos ao treinador e palpites do placar do jogo. O time dos três amigos iniciou a competição vencendo a partida, o que só reforçou a fé no poder das promessas. Havia dado certo e o título era uma questão de tempo. Os santos estavam conspirando a favor. E, realmente, aconteceu. Trinta e oito rodadas depois o time do trio sagrou-se campeão e eles fizeram muita festa. Passada a fase de comemorações era chegada a hora de pagar as promessas. Novo churrasco foi marcado para que houvesse as revelações do prometido no início do campeonato. - Somos campeões! Quem diria... Foram os santos! Nossas promessas foram fortes! Nós que impulsionamos esse título... - É-É verdade! - Pois é... - Eu prometi que se fossemos campeões eu iria lavar o chão da igreja de Nossa Senhora Aparecida por um mês e na próxima procissão iria de pé descalços... Vou pagar! Tudo pelo nosso time! -A-a pretinha é forte... E-essa não falha! E-eu prometi que vou à próxima romaria de Nossa Senhora do Caravaggio e vou acender 38 velas. U-uma para cada rodada do campeonato! Silêncio. O terceiro amigo fez um suspense por alguns instantes e, então, iniciou a revelação da sua promessa. - Minha promessa foi para São Jorge. Conhecem, hein? - Claro! - Cla-claro! - Santo poderoso... - É. - É-é! - E eu prometi... E eu prometi a ele que se o nosso time fosse campeão vocês dois pagariam as prestações do meu carro por seis meses! Silêncio. Os amigos se olharam e caíram na gargalhada. - Há! Há! Há! - Há! Há! Há! - Há! Há! Há! Silêncio novamente por alguns instantes. O clima fica apreensivo. - Sério isso? - Sério. - E-eu não acredito! - Pode acreditar... - Por que fez isso com a gente? - Sei lá! Foi o que pensei na hora... - N-não podia ter feito isso. Minha mulher vai me matar! Eu não vou pagar... - Isso foi sacanagem! - Achei que pelo nosso time valia tudo! Breve silêncio. - São Jorge vai cobrar. - Eu não vou pagar! - Ne-nem eu! - Vocês querem ver o nosso time se afundar? - Por que está dizendo isso? - É-é por quê? - Porque quando fiz a promessa disse que, como penitência caso não fosse cumprida, São Jorge poderia rebaixar o nosso time no ano seguinte... - Eu não acredito! Não! Não! Não! - Nã-não! Poxa... - Eu vou ti matar! - E-eu também! - Pois é... - Ficar devendo pra santo é brabo! Minha mulher vai me matar! Tu nos ferraste! Isso vai ter volta! - Va-vai ter voltar, sim! - Achei que pelo nosso time valia tudo! Não imaginei que vocês ficariam tão brabos assim! - Vai para a p#t@ que pariu! As esposas dos três amigos que ouviram a discussão próxima à churrasqueira resolveram se aproximar. Foi então que, em meio aos lamentos dos dois pagadores da promessa, a esposa do devoto de São Jorge chamou-o em um canto e sussurrou baixinho. - Amor! Tu prometeste isso mesmo? - Claro que não! Disse isso só para sacanear eles! - Ah bom! Que susto! - Deixa eles sofrerem até vencer a primeira prestação. Depois eu conto! - Como tu és mau! - Há! Há! Há! - Mas, me diz uma coisa... - Hum... - Eu sei que tu amas esse time. Alguma coisa tu prometeste... Tenho certeza. O meu sexto sentido está me dizendo isso. Tu não me enganas. Acertei? - É... - Fala... Ele olhou para os lados, chamou a esposa e cochichou a promessa ao seu ouvido. Um grito surgiu logo em seguida: - Seu cretino! Essa promessa não vai ser paga! Não vai mesmo! Ele dormiu no sofá por quatro dias seguidos.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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