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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
02/04/2013 - 09h00
Consolo clubístico
 
 

Leonardo saiu de casa naquela noite estrelada de sexta-feira com um único objetivo: fazer uma análise sociológica do universo feminino. Em outras palavras, apreciar a mulherada mesmo, e, se possível, conquistar uma das belas que estariam na festa. A tal festa era em uma praça pública e aberta à comunidade, com shows de artistas locais e estaduais, em comemoração ao aniversário da cidade.

O primeiro panorama ao chegar à praça foi dos melhores possíveis. Mulheres para todos os lados. Loiras, morenas, ruivas, de cabelo cumprido, cabelo curto, enfim...

Para entrar no clima, Leonardo comprou uma cerveja de um ambulante e posicionou-se estrategicamente em um ponto no qual tivesse visão ampla do local e do fluxo de pessoas, naquele vai e vem constante característico das festas.

A primeira mulher a chamar-lhe a atenção era loira, com olhos verdes, cabelos longos bem penteados. Usava uma blusa branca e um short da mesma cor, que realçava a beleza do rosto. “Que linda!”, pensou. “Mas, muito para o meu caminhão”, complementou o raciocínio. Estava certo. A bela passou em sua frente e nem ao menos notou a sua presença.

Mesmo sendo ignorado pela loira e sem sentir qualquer efeito em relação a isso, Leonardo seguiu com a análise proposta para noite. Em meio a um grupo de oito mulheres, notou a morena de sorriso largo, boca provocante e olhos levemente “puxadinhos”. Ela usava uma calça jeans e uma camisa, que sutilmente contornavam as belas curvas do seu corpo. “Bah, que bunda!”, refletiu como conhecedor do assunto. “Mulher de bunda grande é outra coisa”, continuou a pensar.

Assim, por quase uma hora, Leonardo ficou a analisar todas as mulheres da festa que entravam em seu campo de visão. Isso durou até ver a morena que o fez exclamar em tom audível:
- Meu Deus do céu! Que mulher é essa!

Era uma morena que se encaixava perfeitamente com os sonhos de Leonardo. Cabelos compridos e brilhantes, rosto bonito com traços que pareciam desenhados, peitos grandes, cintura finíssima, coxas torneadas e, o principal, tinha os glúteos perfeitamente arredondados.
- Deusa!, resumiu.

Ela passou a cerca de 30 metros de distância à sua frente. Leonardo acompanhou-a com os olhos. Era um mulherão que valia a tentativa e o insucesso não seria considerado fracasso. O êxito seria a glória. A autoestima já subia e os pensamentos de como estrategicamente se aproximaria da morena já começavam a transitar vertiginosamente pelo seu cérebro. Foi então que o sentimento de euforia se transformou em desânimo em poucos segundos. “Putz! Ela tem namorado! Não acredito!”, esbravejou.

Inconsolável, ficou bebericando uma cerveja e a distância cortejando a sua deusa. Para seu azar (ou sorte), quinze minutos depois o casal acabou se aproximando de Leonardo e parando cerca de 5 metros à sua direita. Assim, ele pode apreciar (discretamente) ainda mais a perfeição da morena, segundo os seus critérios.

Anestesiado bela beleza da “deusa”, Leonardo não havia reparado em seu namorado. Ao encará-lo, como a maioria dos homens, fez o julgamento básico. “Que louco feio! Só pode ter dinheiro para ter uma mulher destas”, analisou subitamente.

Ao seguir analisando o casal, minutos depois, ao perceber a roupa que o namorado vestia, chegou a uma reflexão que serviu de consolo para a sua situação de mero espectador da morena. Recorrendo à sua outra paixão depois das mulheres, o futebol, sendo torcedor fanático do Internacional, confortou-se pensando: “Se eu não vou pegar, pelo menos é um colorado que está pegando!”.


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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