- Amor! Vem cá, rápido! Rápido! - O que é, Gérson? - Coça as minhas costas, por favor! - Era só o que me faltava! - Por favor, amor! A coceira está grande e eu não estou alcançando... - Em qual lugar? - Bem no meio! - Aqui? - Não! Mais para o lado... - Tira essa camisa para facilitar... - Tá! - Aqui? - Mais um pouco... - Aqui? - Mais para baixo um pouquinho... Isso aí! Coça... Coisa boa! Que coceira xarope! - Mais? - Mais um pouquinho... Isso... Por isso que eu te amo! - Sei. - O que foi? Por que essa cara? - Gérson! Tu podes me explicar o que são essas marcas de unhas no meio das tuas costas? - Marcas de quê? - Unhas, Gérson! Unhas! - Hã... Hã... Deve ser tuas mesmo! - Minhas? - Claro! Na hora “h” tu sempre perdes a cabeça e me arranha! - Não mesmo! As minhas unhas estão até curtinhas... - Sei lá! Essas marcas podem... Podem ser da semana passada... - Não mesmo! - Não? - Não... - Ah! Sei lá! Pode ser que eu tenha me arranhado no jogo de futebol... É! Foi lá... - Gérson! Eu não sou boba, Gérson! Isso são marcas de unhas de mulher! - Não! - É sim! - Não! - É sim! Mulher com unhas bem compridas! - Não! Estou dizendo que não! - Quem é a vagabunda? - Não tem outra mulher! Tu estás louca? Sei lá como essas marcas foram parar nas minhas costas... Deixa eu ir até lá no banheiro e ver isso direito no espelho! - Não mesmo! Fica parado aí e confessa! - Confessar o que se eu não fiz nada, hein? - Confessa... - Confessar o quê? - Quem fez essas marcas, Gérson? Quem é a vagabunda? - Eu não fiz nada! Pára de encher o saco! - Fala de uma vez, Gérson! Se não eu... - Tu o quê? - Tu sabes bem... - Sei o quê? - Não distorce o assunto! Quem é a vagabunda? - Não vou dizer! - Não vai dizer? - Não! - Se não vai dizer é porque tem uma vagabunda, né? Faz quanto tempo? - Não viaja! Não tem mulher nenhuma! - Tu mesmo acabaste de dizer que tem? - Eu? - Fala, Gérson! Quem é a mulher? - Não tem mulher nenhuma já disse! - Como esses arranhões foram parar nas tuas costas, então? Fala... - Agora me irritei! Tu queres saber, mesmo? Queres? - Quero? - Esses dias eu fui lá na Boate da Lucinda, que fica na beira da rodovia! Pronto! Falei! Pára de encher, agora! Vou sair... - Não mesmo! Volta aqui agora! Nojento! Sem-vergonha! Em uma mesa de bar, no dia seguinte à discussão, depois do expediente, Gérson conversa com um amigo sobre o assunto. - Foi mais ou menos assim a discussão... - Tu devias ter negado até o final! Não podias ter confessado, Gérson! - Eu sei! Eu sei! Errei... - Tem que se negar até o fim! Com mulher é assim... Daí, logo depois elas param de encher o saco... - Eu sei! Mas é que eu me irritei na hora e explodi! - Pois é... Ela nem fala contigo? - Não! Desde ontem. Dormi no sofá... - Sei... Mas, ela se acalma... É só não provocar mais a fera! - Tomara... - Se acalma, sim! - Mas a pior parte dessa história tu ainda não sabes... - Tem pior? - Tem! Depois dessa discussão toda, eu saí de casa, certo? - Certo! - Fui na casa da minha mãe e corri no banheiro para ver as tais marcas de arranhões... Que até então eu não tinha visto... - E? - Parei em frente ao espelho... E... - E? - Cadê as marcas de arranhões? - A tua mulher tinha inventado! - Bingo! - E tu caíste direitinho! - Fazer o que agora...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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