Em um ponto de táxi. - Boa noite! - Opa! Boa noite! - Tem como fazer uma corrida para gente? - Claro! Para onde? - Até a Avenida Beira-mar! - Tem sim! Mas, já aviso: é longe, doutor! - Não tem problema! - Vai sair meio caro... - Quando vai dar? - Uns 50 contos! - Beleza! Vâmbora! Não tem problema! - Podem entrar! “Fechou pessoal! Vamos entrando...” - Ei doutor! - Fala? - Quantas pessoas são ao todo? - Seis... - Sinto muito, doutor! Então, não dá... - Por quê? Apertadinho cabe todo mundo... - Não é isso, Doutor! - O que é, então? - Porque me complica se a fiscalização nos pega... - Não vai pegar! - Não dá para brincar com a sorte! Eu faço duas corridas... Cobro 50 contos cada uma... Pacote fechado, hein? Desligo o taxímetro... - Aí, não! Queríamos ir todos juntos... - Pois é, Doutor! Eu quero ajudar, mas não posso ficar no prejuízo! Meu lucro já é pouco e se a fiscalização nos pega, a multa é alta... E eu tenho que garantir o leitinho das crianças, né! - Eu sei! Te ofereço sessenta reais para levar nós seis... - Pois é, doutor! Não dá... - Sessenta e cinco? - Não dá, doutor... - Setenta reais, hein? - Pensando bem, doutor! A fiscalização deve estar na rua principal hoje e se eu for por uma via alternativa, acho que não teremos problema... Entrem aí! Vou até desligar o taxímetro. Pacote fechado para o senhor! “Fechou pessoal! Se apertando aí dentro!” Vinte e quatro minutos depois. - Chegamos! - Beleza! Meio apertados, mas sobrevivemos... Falei que não teríamos problemas com a fiscalização! - Pois é... Demos sorte! Esse caminho em que eu vim é mais tranqüilo... “Pessoal, vão descendo que eu vou acertar aqui com o taxista” - Setenta reais, né? - Foi o combinado! - Beleza! Só uma coisa... - Fala, doutor! - Tem como fazer uma notinha fiscal pra mim? - Claro! Mas pode ser aquele recibinho esperto? - Pode... - Eu já fiz os recibinhos para esse tipo de situação... Sabe como é... Vou pagar imposto para esses corruptos de Brasília colocar dinheiro no bolso? O meu eles não levam! - É... Tem razão! Sempre tem alguém faturando em cima do dinheiro do povo. - Eles não dão trégua, doutor! Ser honesto nesse país virou uma virtude... O cara que trabalha aí de sol a sol que sabe disso... - É verdade! Mas faz o recebo aí, então! Preciso de um para justificar o deslocamento para a empresa. Ela que paga as corridas de táxi. A bem da verdade, ela me reembolsa depois. Afinal, como te falei, estamos aqui a trabalho, mas como ninguém é de ferro, resolvemos dar uma voltinha na praia... - Boa escolha, doutor! De quanto eu faço o recibo? - Faz... Faz... Setenta saiu à corrida, né? - Isso! - Faz de cem reais, então! - Tá... - Ou melhor! Faz dois de cinqüenta reais, pode ser? - Claro! - Daí, fica parecendo que foram duas corridas... Ainda mais com esse pessoal todo! - Sei... Agora entendi porque a insistência de virem todos juntos, doutor! - Pois é... Preciso levar o meu por fora... Sabe como é... É pouco... Trinta reais... Mas tenho que garantir o leitinho das crianças, né? Há! Há! Há! - Com certeza, doutor! Sei bem como é... Mas como diz o ditado: de grão em grão a galinha enche o papo! - Com certeza! - Aqui está o meu cartão! Qualquer coisa me liga, ok? - Claro! Gostei de negociar contigo! - Ok! Até mais, doutor! - Até mais...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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