- A senhora é que é a Mãe Tinhã? - Bom, o vidente aqui não é o fio, então eu digo pra fio que eu sou eu, porque fio não é brigado a saber. Mas Mãe Tinhã, que sabe tudo, já tá adivinhando quem fio é. - Polícia. A senhora tem o direito de permanecer calada e só falar na presença do seu advogado. - O fio é esquentado demais, e gente assim nunca que vai ser fáci entrá no céu, não sabe? Descomprica e fala língua de gente. Mãe tá pedindo, e pedido de mãe não se enjeita. Senta aí, vai, senta aí e acarma o sangue, eu vou pedir pra Dinorah trazer uma aguinha com açúcar... - Água com açúcar o cacete, a senhora faz favor de vir comigo, eu não tenho o dia todo... - Mas não é de dia que fio vai resolvê os complicamento, as atrapalhação e toda essas probremaiada que não deixa fio enxergá as coisa direito. Tem que ser de noite, noite fechada, fio. Ói só, vou falar um adivinhamento pra fio crê de vez na véia. Aquelas cadeira que fio tem em casa, não sabe? Pois então, a guia cigana de mãe tá falando no meu ouvido agorinha que tão tudo elas com encosto – não livra uma. Não sente um perturbamento em casa de fio, uns calafrio de vez em quando que sobe do carcanhá pra espinha e uma leseira que deixa fio bocejando sem pará? É as coisa amarrada com caco de vidro e estopa no vinagre envorvendo vodu de fio, fique crente e ciente. - Sou da polícia, vim aqui acabar com a brincadeira. - Mãe Tinhã não brinca com coisa séria, fio. Se veio ver a sorte, mãe não falta com a obrigação e tá aqui pra isso, é missão de Mãe Tinhã, que encarnou pra ajudá o povo. Se não veio, pode virá no pé sem oiá pra trás. Tem gente que não credita, faz pouco de Mãe Tinhã. Vidência de mãe é forte, não carece nem ler a mão, baraio também não uso, Mãe Tinhã dá as profecia na bucha - só de oiá no zóio. E mãe não tem religião, religião de Mãe Tinhã é Mãe Tinhã memo. Fio é ficha limpa, que eu tô vendo. Fio veio procurá mãe por causa de amor com nó ou negócio que não vai pra frente? Mãe desembaraça os enrosco, que nem tá escrito lá na tabuleta em frendicasa. - Olha aqui, Mãe Tinhã, se você fosse boa mesmo de adivinhação ia saber que eu venho do distrito com mandato. - Mãe já desconfiava, é coisa mandada e é mulé que fez. E fez bem feito e bem encomendado, tudo com artigo de primeira, azeite istravirge e espumante dos melhor que tem. Mãe tá vendo e fio tem que tomá providença. Tem a loira e a morena, e todas duas tem a ver com a viagem que fio tá pensando em fazê e não é de hoje, némemo? Confirma pra mãe, mãe sabe que é. E depois tem o home, aquele um que fio conhece tanto que eu nem preciso falar, que bota olho gordo e tá doidim pra espirrá com fio lá da firma. Esse tá perdido de sujerada pra limpá em outras vida, vai te que vortá muito e capiná pesado pra tirá o peso das costa. Cuidado com ele, fio, mas mãe pode ajeitá as malquerença se fio der três ajoelhada seguida em cima dos oio de cabra e depois deixá um cheque de caução pra arrumá a simpatia nos conforme. - Mas será que eu vou ter que pegar a algema?!. - Ara, ara... fio nem vem com perversão pra cima de Mãe Tinhã. Essas coisa de algema, chicote, máscara é doença das ideia. Mas mãe dá jeito. Fio deixa por conta de mãe, já tá incluído no serviço e não carece se preocupá. É cada um que me aparece.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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