Embora de origem controversa, indícios apontam que o xadrez pode ter sido inventado na China, cerca de 200 anos a.C. Entretanto, antes de se espalhar pelo mundo, o jogo precisou passar pela avaliação do imperador à época. Consta como sendo dele o parecer que segue: . Para início de conversa, é um jogo mal pensado. . Comecemos pelo Bispo. Bispo chinês é meio fora de contexto. Ainda se fosse monge, vá lá. . Os cavalos. Eles andam em “L”, o que significa um alcance de movimentação muito maior que a dos peões, que seguem de casa em casa e andam apenas para a frente. Só que é de se supor que os peões tenham domínio sobre os cavalos e sejam os donos deles. Seria razoável que os guerreiros, no jogo, valessem mais que suas montarias. Entretanto, o peão vale 1 e o cavalo vale 3. Outra aberração: cavalo e Bispo valem, igualmente, 3 pontos. Como pode um religioso graduado valer a mesma coisa que um quadrúpede? . Vamos agora à Dama, e minha crítica à função desta peça é severa. Damas devem ficar em casa em tempo de guerra. Nada justifica a sua extrema liberdade de movimentação no tabuleiro e o fato de ser a peça mais importante e valiosa do jogo. Esta desenvoltura da dama em campo de batalha soa falsa, não corresponde à realidade. Fora isso, a expressão “comer a Dama”, que consta nas instruções enviadas para avaliação junto com o jogo, é bem vulgar. . O Rei anda de um em um. É quase que um prisioneiro. Não protege, só pode ser protegido. Isso é papel de um monarca valoroso? Afinal, o Rei deste jogo é um Rei de verdade ou é um tutelado? Eu, como imperador, não permitirei esta caricatura. . O tabuleiro parece pequeno para tantas peças. Há momentos em que fica tudo meio que embolado. Aumentar o campo de batalha de 64 quadrados para 128 pode deixar tudo mais “arejado”, com maior liberdade de movimento. . Por falar em movimento, como é possível que as torres se movam? O criador deste jogo deve ser um psicopata ou usuário de droga alucinógena. . Minha avaliação geral: um jogo burro e infantiloide, sem futuro. Nossos chineses, proprietários de lojas de 1,99, certamente ficarão com os estoques encalhados. Esta é uma obra de ficção.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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