25/11/2024  16h27
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Marcelo Sguassábia
03/10/2022 - 06h05
Nostraduña
 
 

Eis que mais uma vez, do alto de sua miserável choupana, considerada por muitos o oráculo dos oráculos, o Venerável e nunca suficientemente louvado Duña rompeu prolongado silêncio e assim se manifestou aos romeiros, ajoelhados à sua porta:

Não, irmãos, as chamadas Profecias de Nostradamus não são de Nostradamus coisíssima nenhuma. O dito cujo não passava de um escriba de horóscopo quando me enviou currículo, procurando estágio. Isso lá pelos idos de 1527.

Se eu disser que fizemos as profecias a quatro mãos, estarei sendo benevolente e admitindo uma parceria que não existiu. A verdade é que eu tinha as visões e as ditava a Nostradamus, que nada mais fazia do que escrevê-las. Lembro-me ainda que, em diversas ocasiões, ele implorava para que as ditasse mais devagar, a fim de dar tempo de colocá-las no papel.

Febrilmente, eu ia jorrando as profecias, em ritmo frenético. E o barbudo só pedindo para ir com calma, que o mundo não ia acabar. Ao que eu retrucava: “Vai acabar sim, Nostra. Quer que eu conte de que forma?”

Fato é que Nostradamus se deu conta de que não passava de mero escrevinhador, e que precisava urgente de um curso intensivo de taquigrafia para dar conta do manancial profético que eu ia botando para fora.

E vejam que ironia... quem entrou para a história como o mais certeiro profeta de todos os tempos foi ele – um impostor de terceira classe, um parasita da vidência alheia.

Sei muito bem que o que faz a grandeza dos verdadeiros profetas é a abnegação, a renúncia às glórias e à fama efêmera deste mundo. Tanto acredito nisso que há séculos mantenho minha boca fechada a respeito de Nostradamus e seus “feitos”. Permitindo, em uma demonstração de desprendimento, que o infeliz fique com os créditos das profecias que não fez.

Recordo-me, como se fosse hoje, da ocasião em que me ocorreu a visão da morte da Rainha Elizabeth. Acertei em cheio a idade e o ano em que a inoxidável Bethinha iria começar a comer capim pela raiz. Foi tão na mosca que as vendas de livros a meu respeito andam disparadas no Reino Unido.

Eu poderia, se quisesse, reivindicar direitos e royalties. Reatroativos, inclusive. Mas fiz voto de pobreza, e a ele não renuncio.

Esta é uma obra de ficção.


Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
ÚLTIMAS DA COLUNA "MARCELO SGUASSáBIA"Índice da coluna "Marcelo Sguassábia"
21/12/2022 - 06h09 Previsões para amanhã
25/10/2022 - 05h52 Duña, uma fotobiografia
18/10/2022 - 05h45 Hardy, a hiena, vai anular o voto
20/09/2022 - 06h24 Aperfeiçoamentos enxadrísticos
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.