Contos Era um tremendo machão. Não deixava por nada desse mundo a mulher trabalhar fora. A filha de 13 anos era vigiada e só ia às festinhas das amigas se ele pudesse pegá-la às 10 horas da noite. Justamente quando a festa começava a esquentar. Durante os almoços de domingo, com a família toda reunida, ele fazia questão de bater com as duas mãos na mesa e dizia para quem quisesse ouvir: - Filha minha só vai namorar com 18 anos e assim mesmo aqui em casa, no sofá, comigo do lado. Essa juventude de hoje anda muito solta. As amigas da menina chamavam Rosenvaldo de pitt bull. Já com o filho, Rosenvaldo era complacente. O menino de apenas 11 anos andava pra cima e pra baixo com o pai e Rosenvaldo, sempre que via uma gostosona passando na rua, cutucava o filho e dizia: - Tá vendo aquela ali? Quando você estiver maior, bicho homem mesmo, como o teu pai e colar com uma dessas na rua, chama logo pra cama que ela vai fácil, fácil. O menino ria das piadinhas do pai. Rosenvaldo fazia questão de ir ao futebol com o menino e ficava gritando da arquibancada: - Vai Julinho... dá logo uma porrada nessa cara! Chuta a canela dele. A esposa, dona Jurema, às vezes ficava sem graça das grossuras do marido e dizia baixinho no ouvido dele: - Calma Rosenvaldo, isso é apenas um torneio de futebol. O cara só faltava mandar a esposa para aquele lugar. Isso quando não mandava. Com o passar do tempo Jurema foi ficando acabrunhada... triste mesmo com as atitudes machistas do marido. A mãe de Jurema vivia dando conselhos à filha: - Jureminha, minha filha, teu marido é um grosso... um machista inveterado, não sei como você agüenta ficar casada com um homem assim. Jurema, conformada com sua situação de mulher submissa, dava de ombros e deixava pra lá. Não adiantava falar mesmo. No fundo ela achava que Rosenvaldo era um bom pai. Trabalhador, honesto, trazia dinheiro pra dentro de casa e educava bem os filhos. O que mais ela podia querer da vida? Tinha que aturar Rosenvaldo assim mesmo. Era o jeito dele. Afinal, ninguém é mesmo perfeito. Na verdade, a única coisa que incomodava Jurema era o vício do marido: a Internet. Rosenvaldo passava os finais de semana colado ao computador, chegava a varar as madrugadas. Dizia que estava trabalhando. O que acabava causando uma pontinha de orgulho a ela, ao ver o marido tão dedicado ao trabalho. Porém, numa segunda-feira, quando a filha do casal fazia uma pesquisa escolar na Internet, e futucava o computador, gritou pra mãe: - Mãe... corre aqui... que negócio é esse? Jurema correu para o computador e deu uma bronca na menina: - Minha filha... mexendo nos documentos do seu pai? A menina tentou se defender: - Estou não mãe... ele salvou essa pasta aqui, bem dentro dos meus documentos da escola. Eu abri sem querer, mas não estou entendendo nada. Jurema pediu que a menina saísse e curiosa foi ler o que estava escrito. Ficou abismada. Eram chats de bate-papo gay que o marido havia salvado nos documentos da filha. Jurema lia aquilo totalmente apatetada. Pelo papo que rolava, ela foi descobrindo que o marido era o tal de Odalisca da Meia-Noite e o outro com quem ele conversava era o Florzinha Enrustida. Os dois marcavam um encontro. Rosenvaldo dava o número do celular dele. Enfim, uma sacanagem só. Vermelha de tanta vergonha, Jurema apagou o que estava escrito e falou pra filha: - Não era nada muito importante não... pode continuar fazendo seu trabalho. Depois que a menina foi para a escola, Jurema começou a chorar. E ficou pensando: “quer dizer que o marido com toda aquela pinta de macho não passava de um gayzão enrustido? Era por isso que sempre na hora que ela queria fazer sexo, Rosenvaldo tinha sempre uma desculpa na ponta da língua para fugir da raia. Agora tudo fazia sentido. As longas horas na frente da Internet... madrugadas... e madrugadas...” Jurema adiantou a janta. Deu uma saída e quando voltou, estava com uma grande sacola. Depois que deu a janta das crianças, foi para o quarto e falou: - Assim que o pai de vocês chegar, diz que eu estou no quarto e preciso falar com ele urgente. Uma hora depois o marido entrava no quarto assustado: - O que foi Jurema? Tá passando mal? Ela colocou as mãos na cintura, franziu a testa e falou com o marido como nunca tinha falado antes: - Senta aí que precisamos ter uma conversinha... E soltou seu rosário de reclamações. Contou que sabia das salas de bate-papo... do celular... Rosenvaldo foi ficando branco. Pego de surpresa, ainda tentou dar uma desculpa, mas pressionado acabou confessando: - Eu gosto de homens! Em seguida, feito uma criança, se ajoelhou aos pés da mulher e começou a chorar: - Pelo amor que você tem aos nossos filhos, não conta pra ninguém. Se você fizer isso eu me mato. Jurema deu um sorriso irônico, foi até a sacola que trouxe pra casa durante a tarde, pegou uma fantasia de odalisca e disse: - Claro que eu não vou contar para ninguém. Mas façamos um trato: Toda noite você vai ter que se fantasiar de Odalisca na minha frente e dançar pra mim! E assim foi feito. Toda noite Rosenvaldo se fantasiava de Odalisca. Jurema ficava deitada na cama vendo aquela cena e se borrava de tanto rir. O marido não reclamava. Pelo contrário, dançava com prazer. Afinal, trato era trato!!
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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