- Onde você estava, Ricardo César? Demorou para atender! - Tava no banho. - Eu estou há mais de dez minutos ligando. - Pronto. Atendi agora. Satisfeita? - Você vem aqui hoje? - HOJE? - É. - Não dá. - Por quê? - Amanhã acordo cedo pra trabalhar. E ainda tenho que organizar umas papeladas agora. - Todo dia é isso? - Isso o quê? - Não me vê mais dia de semana. Só sábado e domingo. Deve ter outras. - Que outras? E eu lá tenho tempo para ter outras? Trabalho que nem um louco e você vem com historinha de que tenho outra. - Então por que você não vem aqui em casa hoje? - Porque é quarta-feira e eu saí cansado do trabalho. Dia de semana não é dia de namorar. - Não? E se a gente se casar? Só vai ter sexo final de semana? - Aí é diferente. Pode ter sexo todo dia. - Então a gente podia treinar. - Treinar? Não precisa. Estou em forma. - Duvido. Se tivesse, hoje vinha aqui e não inventava essa história de cansaço. - Tá me desafiando? - Tô. Vai me decepcionar? - Infelizmente vou, meu amor. - Jura que você não vem? São nove e meia ainda, dá tempo. - Amoreco, deixa pra sexta-feira. - Você tem outra. Ela está aí com você. Escutei um barulho agora. - Barulho? Você está escutando demais. - Ouvi uma porta batendo. Você mora sozinho. Quem está aí com você? - Foi na televisão. - Televisão? Mentiroso. Fala, Ricardo César. Quem está aí com você? - Já disse que ninguém. Quantas vezes eu preciso falar? - Não acredito em você. - Então não posso fazer nada. Tenho que desligar. Tô com fome e quero jantar. - Quanta frieza. É isso o que você tem pra me dizer? - O que você quer que eu diga? - Pelo menos dá um boa noite. Diz que amanhã vai me ligar. Manda beijo. - Tá bom, meu amor. Dorme com os anjos. Sonha comigo. Amanhã te ligo. Beijo. - Assim melhorou. - Boa noite. - Amanhã você vem aqui? - Vai começar de novo? Já disse: Sexta-feira. Amanhã vou sair tarde do trabalho. - Tô com saudade. - Eu também. Depois a gente se fala. Um beijo. - Escutei de novo. Barulho de porta. - Você está escutando demais, amoreco. Um beijo gostoso. - Beijo. Ricardo César desligou o telefone resmungando e gritou: - Marcelo, tá na cozinha? - Tô. - Abre a geladeira e pega duas latinhas de cerveja geladinha pra gente. - Posso cortar uns queijinhos? - Pode. - Que canseira para se livrar da namorada. Por isso que eu não quero mais saber de nada fixo, cara. - Sabe que você tem razão? - Mulher é boa para usar e jogar fora. - Vamos esquecer da chatice feminina que o jogo vai começar. - Opa, nada como um jogo de futebol pela TV com uma cerveja gelada. - Aperta o controle e aumenta a televisão. Imagina perder o início da partida por causa de mulher? - Aposta quanto que o mengão vai ganhar? - Uma caixa de cerveja. - Apostado. - Deixa eu desligar meu celular, não quero ser interrompido. - Eu também. Jogo é sagrado. O juiz apitou o início da partida. Ricardo César e Marcelo não desgrudaram os olhos da tela.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|