“Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. / Porque os corpos se entendem, mas as almas não". Manuel Bandeira Noite suculenta. Cheia de promessas. Lua reflete no mar prateando inspiração. Espero. A brisa outonal passeia em meu vestido vermelho fazendo cócegas nas pernas torneadas. Piso macio. As folhas secas lembram a beleza e o amadurecimento da estação. Época de transformação. Seios carnudos e apetitosos são convites a confissões de amor. Olhos de rara beleza cintilam esmeraldas a procura dos seus. Encontram-se. A boca carnuda confessa carícias eróticas. Sirvo-me numa redoma de cristal. Abraçados caminhamos em direção ao embate. Cumpriremos embaraços. Contentaremos inquietações. Mãos delicadas e dedos longos, percorrem minha blusa, desabotoam meu sutiã e num pulsar frenético buscam meu sexo. Os seios estremecem ao contato das mãos. Entumecidos. Energéticos. As coxas se abrem em delírios. Fenda de mistérios e prazer. Delicio-me e escorrego pelos lençóis, abandonada numa doce sinfonia de satisfação e cumplicidade. Envolvo-me em braços trêmulos de desejo. O vinho que outrora preencheu a sede de fantasias carnais, repousa ao lado, deserto nas taças. Misturo a pele numa combinação de purificação e vontade. Saciedade. Abro a luxúria. Nossos corpos têm a mesma dança. Encontro de vibrações cármicas. Entrelaços. Desejos afins. Volúpia de encantos. No balançar ora suave, ora frenético de formas geométricas, o quarto emite odor de tempero sexual. Ondas alucinantes de eletricidade perfazem o caminho traçado pelo prazer de corpos extasiados, mas ainda famintos de carícias. Ébrios de curiosidade. Violinos alucinógenos tocam a doce melodia do amor. Nada mais a dizer. A água quente passeia no corpo esculpido pelo prazer. Percebo que, ainda entregue ao gozo noturno, busca respostas. Não há entendimento. Giro a chave. Parto. Caminhas preguiçoso até a janela. O quarto na penumbra, clareia. Observas-me dobrar a esquina. Sente ainda o cheiro do favo do prazer nas mãos. Extasia-se. É o meu odor a impregnar as narinas do querer pulsante. Resta a lembrança de meus cabelos molhados. Nas noites solitárias povoam delírios e desejos contidos. Nunca mais nos tivemos.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|