Encontraram-se vinte anos depois. Rosana atravessava a Avenida Rio Branco com um vestido verde até os joelhos, sandália de salto fino e bolsa preta. O mesmo rosto. Os cabelos pretos e longos de sempre. Namoraram na adolescência. Terminaram o romance quando ela descobriu que ele ficou com outra em uma festinha do prédio. Para se vingar, Rosana começou a namorar Acácio, o rapaz mais bonito da rua. Almeidinha entrou em depressão. Era muito sensível. Na infância vivia em médicos por causa das alergias. Logo depois, mudou-se com os pais da Tijuca para Copacabana. Nunca mais se viram. Os ares da zona sul lhe fizeram bem. Virou um conquistador disputado. A antiga namoradinha fazia parte do passado. Formou-se em Administração de Empresas. Casou-se com Juraciara. Teve três filhos. Todos homens. Passou a sonhar com Rosana. Sonhos eróticos e românticos. Sempre que encontrava uma morena de cabelos longos, lembrava-se dos lábios doces da namorada da adolescência. Agora Rosana estava ali, mais próxima do que nunca, atravessando a Avenida Rio Branco com passos suaves de bailarina. A boca secou. As pernas bambearam e um leve tremor tomou-lhe o corpo inteiro. Desnorteado, correu e segurou a mulher pelos braços: - Lembra de mim? Rosana apertou os olhos, encarou-o durante alguns segundos e depois deu um sorriso balançando a cabeça e jogando os cabelos para o lado. Conversaram na calçada como velhos conhecidos. Falaram de trabalho. Filhos. Ela casou-se com Norberto. Amigo de faculdade. Enquanto conversavam no meio da multidão, que caminhava apressada pela Avenida Rio Branco, Rosana olhava Almeidinha com apetite de tigresa. Molhava os lábios, fazia charme, empinava o corpo. Almeidinha sentiu a proximidade e ficou excitado, em meio ao burburinho do Centro da Cidade. Rosana falou primeiro. Ousou. Era extrovertida e decidida. Fazendo charme, pegou as mãos de Almeidinha, deslizou os dedos entre os dele e com voz de colibri fez o convite. Olharam-se por alguns segundos. - “Por que não?” Almeidinha ligou para o escritório e disse que depois do banco iria ao médico com a esposa e não voltaria para o trabalho. Rosana fez o mesmo. Viraram dois adolescentes em véspera de vestibular. Procuraram um motel aconchegante. Almeidinha suspirava com ar sonhador. Rosana conduzia a cena. Relaxaram depois de duas taças de vinho. Ele tomou coragem e depois de abraçar a namoradinha dos tempos da adolescência, beijou-a com paixão. A mulher estava indomável. Solta. Feliz. Tomou mais uma taça de vinho. Dançou para Almeidinha. Fez strip-tease. Tirou da bolsa brinquedinhos de sexshop e fotografou os principais momentos, no celular. Beberam mais vinho e deliciaram-se com a bandeja cheia de maçãs, pêssegos e uvas. Brincaram e exploraram cada centímetro do corpo um do outro, até as seis da tarde. Almeidinha pensava arrependido que ao invés de Juraciara, podia ter ficado com Rosana. “Seria tarde demais para recomeçar?“ - “Vida ingrata“, blasfemou. Despediram-se e trocaram os números do telefone. Chegou em casa e sentiu nojo ao olhar Juraciara com uma camisolinha de algodão, colocando a mesa do jantar. Não conseguiu dormir. Pensava em Rosana. No gosto. Na pele. No cheiro. Precisavam encontrar-se novamente. “Podiam fugir” - pensou com o coração apertado. Ficariam juntos pra sempre. “Tinha algum dinheiro guardado“. Rolou na cama e só conseguiu adormecer quando o dia clareava. Saiu da cama com o corpo dolorido. Resultado da noite insone e cheia de pesadelos. Antes de entrar no escritório ligou para o celular de Rosana para lhe dar bom dia. Precisava ouvir a voz dela. Não conseguiu contato. Ligou o dia inteiro. Só na caixa postal. No carro, antes de entrar em casa, descobriu, decepcionado, que o número estava errado. Depois de várias tentativas um homem atendeu: - O celular é meu. Meu nome é Mario e não conheço nenhuma Rosana. O senhor já ligou para o meu celular vinte e cinco vezes. “Devo ter anotado errado. Logo ela vai me ligar” - pensou conformado. “E se nunca mais se vissem? Enlouqueceria. Precisava beijar mais uma vez o pescoço macio e aveludado de Rosana. Era paixão fulminante o que estava sentindo”. Espantou-se ao abrir a porta do apartamento e encontrar duas malas no corredor, perto da cozinha. A esposa o olhava com olhos de coruja, mastigando os lábios, com as mãos na cintura. - Vai viajar, Ju? - disse inocentemente. Juraciara jogou um envelope pardo amassado no rosto do marido e ordenou com voz arrastada: - Abre esta merda, seu porco depravado! O sangue sumiu quando Almeidinha abriu o envelope e viu as fotos dele no motel fazendo poses ao lado de Rosana. Em uma foto, ele sorria com brinquedinhos de sexshop nas mãos. Na outra, bebia vinho. Dançava. Colocava pêssegos na boca. Envergonhado, Almeidinha sentiu enjoo e uma forte pressão na nuca. Depois de ver a sala rodar, vomitou nos seios de Juraciara e desmaiou.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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