Tarde de sábado. A chuva apertou quando Marizete entrou no café. Lurdes fez um sinal e ela se aproximou ajeitando o cabelo: - Senta logo pra não cair! - O que aconteceu? Você me ligou hoje de manhã e disse que era urgente, fiquei roxa de curiosidade. Conta. - Além de roxa, você vai ficar besta também! Adivinha quem vai casar? A garçonete anotou os pedidos e se afastou Marizete chamou-a de novo e fez outro pedido: - Por favor, traz também uma água mineral. Bem gelada. Agora fala, Lurdinha, quem? - A Soninha. - SONINHA DENTUÇA? Marizete ficou alguns minutos em silêncio e depois continuou: - Fala. É ela? - A própria. - Com quem? - Continua sentada para não cair. - Você quer me matar de curiosidade? - Com o Nogueira. - O NOGUEIRA? Aquele filha da puta que não queria compromisso sério? - NÃO queria com você, queridinha, mas queria com a Soninha Dentuça. A garçonete serviu as amigas e deu um sorriso antes de se afastar. Desanimada, Marizete empurrou o pão de queijo e deu um gole no chocolate. - Não quero mais comer. Perdi a fome. - Por que, amiga? Vai me dizer que você estava apaixonada pelo Nogueira? - O Nogueira vivia atrás de mim, e eu esnobei o cara. Todo mundo dizia que ele não queria compromisso sério. - E não queria mesmo! - Como? Agora tá de casamento marcado com a Soninha Dentuça. Ela é horrorosa. - Amiga, ele deve estar apaixonado pela Soninha Dentuça. - Duvido. Ele vai se casar com ela por despeito. Porque eu não quis ir para a cama com ele. - Então é isso. A Soninha foi, ele gostou e se apaixonou. Deve ser boa de cama. - Ela é muito sem graça. Duvido que seja boa de cama. Além de tudo é burra. - Os homens preferem as burrinhas, fica mais fácil para manipular. - Burra, nunca. A burrice é uma vergonha. Prefiro ficar só. Marizete bateu com as duas mãos na mesa e fez careta. Irritada, puxou um fio de cabelo do rosto. - É amiga, só que as inteligentes estão ficando encalhadas – disse Lurdes com ares de maledicência. - Encalhada, eu? Marizete virou os olhos de despeito, pediu licença e foi até o banheiro. Voltou fazendo mistério e chamou a garçonete. Pediu um café expresso, virou-se para Lurdes e apertando a ponta do guardanapo, falou: - Tenho um plano. Não vai ter casamento. O Nogueira não casa com a Soninha Dentuça. Lurdes respirou fundo com jeito entediado e desdenhou da amiga: - O que você vai fazer? Matar o Nogueira? - Não. Tenho um plano e a Soninha Dentuça vai cair. É burra demais. - Qual? Cochicharam. Marizete pegou o celular na bolsa e ordenou: - Anota o número da Soninha Dentuça. Ela não conhece o número do seu celular. Vou ligar para o Nogueira e marcar um encontro. E você liga pra ela. - E quando será o encontro? - Agora. Não posso perder tempo. Enquanto eu marco com ele, você liga para a Soninha Dentuça e dá as coordenadas. Ela vai também e pega nós dois em flagrante. O resto é comigo. - E se ele não quiser? - Duvido. Nogueira é de negar mulher se oferecendo pra ele? Marizete ligou primeiro. Com a voz macia, seduziu Nogueira: - Como é que você está, amor? Saudade. Marcaram um encontro para às sete da noite. - Te espero então naquele barzinho do nosso último beijo. Vamos rever os velhos tempos. Até já. Lurdes apertou os lábios e fez uma careta: - Será que vai dar certo? - Deixa de ser pessimista. Ele já caiu. Agora liga para a Soninha Dentuça e diz que o noivo dela vai se encontrar com outra e dá o endereço do bar. Lurdes desligou o celular e olhou para Marizete: - Mordeu a isca. Fizeram hora passeando pelo shopping. Seis e meia Marizete olhou o relógio, nervosa: - Tá na hora. Já vou. A chuva pode apertar e não quero chegar atrasada. Me deseja boa sorte. Sete em ponto Marizete entrou no bar. Dez minutos e nada de Nogueira. “Será que ele não vem? Não é possível. Nunca me deu bolo“. Sete e vinte da noite. Marizete abriu a bolsa para pegar o celular. Antes, olhou para a porta do restaurante. O coração acelerou. Quase deixou o celular cair no chão. Nogueira aproximou-se sorridente, de mãos dadas com Soninha. Cumprimentou-a educadamente e em seguida puxou uma cadeira para a noiva. Acomodado, pigarreou e olhando nos olhos de Marizete comentou: - Fiz questão de trazer a Soninha. Vocês se conhecem? Marizete não respondeu. Apenas balançou a cabeça sem jeito e lançou um sorriso tímido para a rival. Depois de acarinhar Nogueira no rosto, Soninha tirou da bolsa um envelope branco e dirigiu-se com ar superior para Marizete: - Nosso convite de casamento. Gostaria muito que você fosse. Faço questão.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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