Pericles adorava calcinha. Sonhava com calcinha, venerava calcinha. Quando criança, amava espiar a mãe e a irmã pelo buraco da fechadura. No banho, deliciava-se quando, por um descuido, elas deixavam as calcinhas penduradas no box. Ao completar 22 anos tornou-se um obsessivo pela roupa íntima feminina. Familiares e amigos acreditavam que só um psicólogo poderia entender-lhe a tara. Sempre que uma mulher o interessava, logo ele perguntava curioso: - Eu sei que pega mal, mas por favor, não se ofenda com o que vou perguntar. Poderia me dizer que tipo de calcinha você gosta de usar? As mulheres sentiam-se invadidas com a pergunta e o romance acabava antes de começar. As amigas o achavam um boboca infantil. Ele não se importava. Ria de fazer borbolhas. Na mesa de bar, com dedo em riste, defendia suas idéias como se estivesse num palanque. Ficava vermelho e se engasgava com os petiscos. - Não admito ir para a cama com uma mulher de calcinha furada e grandona e nem com calcinha de florzinha. Não sou pedófilo! Recebia conselhos: - Cara, tá certo que você gosta de calcinha cavadinha, preta, sensual, também gostamos. Mas ficar perguntando isso pra mulher que você acabou de conhecer é grosseria. Não se mede uma mulher pela calcinha que ela usa. Pericles retrucava: - Você transaria com uma mulher com a calcinha suja? Rasgada? Melhor broxar antes do que broxar na cama. Nas festas ou baladas os amigos ignoravam Péricles. Não queriam passar vergonha. Na cara-de-pau, ele perguntava às desconhecidas nas baladas: - Que tipo de calcinha você gosta de usar? Se recebia um fora, disfarçava e arrumava outra vítima. - Posso ver sua calcinha? Deixa? As mais desinibidas levavam na brincadeira e o chamavam de excêntrico. As mal humoradas, porém, partiam para a agressão verbal e o chamavam de bêbado. Nem assim tomava jeito. Ainda contava para os amigos gargalhando: - Se a vadiazinha ficou ofendida é porque devia usar calcinha ordinária. O coração de Pericles bateu mais forte quando conheceu Leninha. Moça linda e com sorriso de capa de revista. Era prima de um grande amigo. Encantou-se pela morena e abriu o coração para Reginaldo, que o preveniu: - Vai com calma, é minha prima! Se ficar de palhaçada vai se ver comigo. É meu sangue. - Pode deixar. Fica tranqüilo. O namoro completou um mês. Meio a contragosto, Péricles segurou a curiosidade a respeito das calcinhas da moça. Tentando se controlar, pensava: “Uma mulher bonita só pode usar calcinha sensual. Ela é a mulher da minha vida”. A primeira e única noite de quase amor entre os dois aconteceu na casa da namorada. Estavam sozinhos assistindo a um DVD. Depois de duas taças de vinho, começaram as carícias. Quando Pericles levantou o vestido de Leninha, gritou assustado: - Cueca??!! Isso não é uma calcinha!!!?? É uma cueca do piu piu! Com voz adocicada, ela o puxou pela nuca: - Qual o problema, amor? Gosto de usar cueca. São mais confortáveis. Vem, gostoso, tira a minha cuequinha. Ele perdeu o tesão. Broxou. Teve ânsia de vômito. Tonto, empurrou Leninha, vestiu-se e saiu se batendo pelas paredes. Nunca mais viu a jovem. Revoltado, Reginaldo tomou satisfação: - Você é um desequilibrado. Precisa de um psiquiatra. Como você pôde humilhar minha prima assim, cara? Louco de pedra! Péricles não se intimidou: - Sou como sou. E pronto. Não gostou? Então bate. Para evitar futuras decepções, Péricles passou a comprar calcinhas e distribuir entre as ficantes e namoradas. Em casa, tinha uma coleção delas, de todas as cores, modelos e tamanhos. Quando conhecia uma mulher, no primeiro dia presenteava-a. - Na nossa primeira vez, faço questão que você use a calcinha que eu escolher. É um presente. Aliás, sempre que a gente tiver relações, quem escolhe a calcinha sou eu! Pericles está casado com Mirialva há dois anos. Até hoje é ele quem compra as calcinhas da esposa.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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