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COLUNISTA
Celamar Maione
14/09/2009 - 15h09
O edredon
 
 

Noite fria de quarta-feria. Macedo assistia ao jogo do Flamengo pela televisão, quando Marinilce apareceu na sala aborrecida.
- Não tá me escutando chamar lá do quarto?
- Fala?! O que é? Vou perder o gol do mengão.
- Depois você vê isso. Agora vai lá no quarto para pegar o edredom em cima do armário. Não alcanço.
- Edredom? Outro? Mas você não pediu para eu pegar um na segunda-feira?
- Pedi. Agora tô pedindo para você pegar outro.
- Como se gasta sabão em pó nessa casa – reclamou Macedo.
- O que tem uma coisa a ver com a outra?
- Usou o edredom dois dias e já colocou pra lavar?
- Não. Esse que você vai pegar é outro. Quem vai dormir com ele sou eu.
- Você?
- É.
- Você está querendo dizer que cada um vai dormir com um edredom?
- Nossa como você é inteligente! – debochou Marinilce.

Macedo, que ia se levantando do sofá, tornou a sentar-se.
- Macedo, eu quero dormir. Vai logo pegar meu edredom.
- É por isso que nosso casamento tá indo para o buraco. Agora cada um dorme com um edredom. Daqui a pouco dormiremos em camas diferentes...
- Não acredito que você vai arrumar briga por causa disso.
- Posso saber por que a princesinha quer dormir com um edredom só pra ela? – ironizou.
- Porque durante a noite você puxa o cobertor para o seu lado e eu fico morrendo de frio.
- E por que você não me acorda ou puxa o cobertor?
- Toda noite, Macedo? Não é mais fácil cada um dormir com um edredom?
- Não. Assim eu não posso ficar juntinho de você.
- Na hora que a gente dorme você tá juntinho. Depois você se espalha e aí quem se dá mal sou eu.
- Eu não vou pegar outro edredom. Nós vamos dormir juntinhos. Fim de papo.
- Ah é? Vou no seu Aníbal pedir para ele pegar o edredom pra mim!
- Duvido. Você não é besta.
- É?

Decidida, Marinilce abriu a porta. Macedo impediu-a de sair. A discussão recomeçou.
- Marinilce, desiste da história de cada um dormir com um edredom. Você está colocando nosso casamento em risco.
- Deixa de ser besta, Macedo. Dez anos de casados. Até parece que casamos ontem!
- Fim de papo, Marinilce! O jogo vai começar! Vai dormir com o edredom que tem e quando eu for deitar, me viro.
- Tá frio Macedo. De noite você vai puxar o edredom e quem vai ficar com frio sou eu!
- Isso vai dar em separação. Foi por causa disso que o casamento do Ismael acabou.
- O que tem a ver o casamento do Ismael com o nosso?
- Primeiro a esposa começou a dormir no sofá por causa da tosse do Ismael Depois, foi dormir na casa da mãe. E em seguida... arrumou um amante.
- Não dava para ele tomar um remédio pra tosse?
- Outro edredom, não! Fim de papo! O jogo vai começar. Psiu!
- Ah é? Então vou no apartamento da Judith pedir um edredom emprestado.
- Pois então, vá! Só estou lhe avisando: Nosso casamento está por um fio!

Marinilce saiu decidida. Tocou a campainha na casa da vizinha. Sérgio André atendeu:
- Você poderia chamar a Judith?
- Hoje ela vai dormir na casa da irmã. Deseja alguma coisa? Entra – disse, simpático.

Marinilce achava o marido da vizinha pedante, mas aceitou o convite para entrar. Ele fez um café e gentilmente ofereceu a ela.
- Posso ajudar em alguma coisa?

Aquela pergunta delicada fez Marinilce gelar as entranhas. Estremeceu quando Sérgio André tocou-lhe levemente nos braços.
- Está sentindo alguma coisa? O café está muito quente?

Não respondeu. Um torpor estranho tomou todo seu corpo. Ajeitou a roupa e gaguejando despediu-se de Sérgio André.
- Eu falo com a Judith depois.

Saiu batendo a porta. Chegou em casa em estado de êxtase. Os pensamentos fervilhavam. Passou pela sala e não deu boa noite ao marido, que gritava sem tirar os olhos da TV:
- E aí? Pegou o edredom com a Judith?

Não respondeu. Cobriu-se ainda em estado de letargia e adormeceu. Sonhou que fazia sexo selvagem com Sérgio André. Acordou suspirando. Voltou a dormir e a sonhar. Com medo de desagradar Marinilce, Macedo dormiu com um lençol. Tremendo de frio, pegou no sono quando o dia clareava.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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