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COLUNISTA
Celamar Maione
24/08/2009 - 17h04
O mistério da calcinha vermelha
 
 

Quando Albertinho buzinou Maria Lúcia já estava pronta. Antes foi até a cozinha se despedir de dona Odélia:
- Mãe, não tenho hora pra chegar. Sabe como são as festas na casa da Tereza...
- Cuidado minha filha. Diga para Albertinho não beber, não correr.
- Tá bom... tá bom. Pode deixar. Fica com Deus.
- Vai com Deus, minha filha!

Albertinho e Maria Lúcia casariam-se em dois meses. Assim que ela entrou no carro foi recebida com um longo beijo na boca.
- Hummmmmm, tá cheirosa... aposto que é...
- Carolina Herrera. Acertou...
- Sabe que adoro esse perfume! Coloca para me provocar...
- Olha que assim vamos acabar não indo à festa. – brincou Maria Lúcia.

Durante o caminho conversavam animadamente, quando Maria Lúcia tocou num pedaço de pano com a sandália.
- Tem uma coisa no chão do seu carro me atrapalhando...
- Pega, deve ser a flanela.

Se abaixou e quando trouxe o que a atrapalhava teve um misto de espanto e desespero:
- O que é isso? Não tô acreditando...

Virou de um lado, do outro, esticou.
- É isso mesmo o que estou pensando?! Uma calcinha?!!!

Deu um tapa no braço de Albertinho.
- O que significa isso????
- Tá maluca? Quase bato com o carro por sua causa. Isso o quê?
- Olha aqui, calcinha vermelha, transparente, dessas usadas por vadias.

Albertinho encostou o carro e olhou perplexo:
- Fala Albertinho, de quem é essa calcinha?
- E você pergunta pra mim?
- O carro é seu, ora! Só você sabe de quem é a calcinha. Com certeza não é minha. Não uso calcinha de vagabunda. E mesmo assim é muito pequena...
- Minha fofa, não sei nem o que dizer.
- Fofa? Me chifra com uma magrela e agora vem de nhénhénhén? Pois vai arrumando uma explicação, aliás, uma boa explicação, Albertinho!
- O que você quer? Que eu invente uma história?
- Albertinho, como essa calcinha veio parar no seu carro? Responde. Estou esperando.
- Não sei. Juro. Não sei.
- Teria sido alguma mágica? Ou você estava parado no sinal e a calcinha veio vooooaaando de algum enxugador e entrou pela janela do seu carro?
- Pode ter acontecido isso mesmo.

Maria Lúcia começou a socar o braço do noivo:
- Cara-de-pau! Você é um grandessíssimo cara-de-pau!
- Calma, violência não leva a nada. Vamos raciocinar: de quem pode ser essa calcinha?
- De alguma piranha que transou com você. – e começou a chorar.

Continuou falando em tom comovido:
- Logo no carro que você me leva pra passear? Foi no banco que eu sento? Me diz!? Foi?
- Não andei com ninguém, juro, fofa! Deve ser da minha irmã. Não chora.
- Você quer me fazer de palhaça? – irritou-se.
- Sua irmã tem mais de 80 quilos, impossível entrar nela! Essa calcinha cafona é de alguma vadia do SEU TRABALHO. É isso! Quem é ela, Albertinho?
- Quê isso! No meu trabalho não tem vadia. Sei lá como essa calcinha veio parar no meu carro. Coisa de louco!
- Então é sua! Você é gay! Você faz programa vestido com calcinha vermelha...
- Viajou, Maria Lúcia...
- Abre a boca Albertinho, abre essa boca!
- O que você vai fazer? Eiiiiii...

Maria Lúcia fez um bolinho com a calcinha que estava na mão e enfiou pela boca de Albertinho:
- Engole essa porcaria! Não quero tão cedo ouvir sua voz, seu mentiroso, tarado!

Saiu do carro e pegou um táxi. Albertinho passou o final de semana tentando falar com Maria Lúcia. Ela só atendeu o telefone uma vez:
- Quem é a dona da calcinha?
- Maria Lúcia, eu...
- Não sabe?

Desligou o telefone. Na segunda-feira, Albertinho chegou ao trabalho e foi direto falar com Claudia Helena, colega do departamento pessoal.
- Toma! – jogou a calcinha em cima da mesa de Claudia Helena.
- O que é isso ? – assustou-se.
- Minha noiva achou sua calcinha no meu carro. Satisfeita agora? – falou com ironia.
- Você contou pra ela que a calcinha é minha?
- Claro que não! Nem vou contar. Morro, mas não conto...

Querendo separar o casal, Claudia Helena liga para Maria Lúcia e diz em tom debochado que é a dona da calcinha vermelha. Dois meses depois da confusão, Maria Lúcia se casa, mesmo sabendo da traição. Durante a lua-de-mel, Albertinho curioso quis saber:
- Minha fofa, você é uma mulher intrigante...
- Por que, fofo?
- Achei que você nunca fosse me perdoar por causa da tal calcinha. O que fez você finalmente acreditar que eu não sabia de quem era aquela calcinha horrorosa?

Maria Lúcia deu um sorriso cínico e com ar misterioso respondeu:
- Deixa pra lá. Coisa de mulher, fofo!


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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