Quando Albertinho buzinou Maria Lúcia já estava pronta. Antes foi até a cozinha se despedir de dona Odélia: - Mãe, não tenho hora pra chegar. Sabe como são as festas na casa da Tereza... - Cuidado minha filha. Diga para Albertinho não beber, não correr. - Tá bom... tá bom. Pode deixar. Fica com Deus. - Vai com Deus, minha filha! Albertinho e Maria Lúcia casariam-se em dois meses. Assim que ela entrou no carro foi recebida com um longo beijo na boca. - Hummmmmm, tá cheirosa... aposto que é... - Carolina Herrera. Acertou... - Sabe que adoro esse perfume! Coloca para me provocar... - Olha que assim vamos acabar não indo à festa. – brincou Maria Lúcia. Durante o caminho conversavam animadamente, quando Maria Lúcia tocou num pedaço de pano com a sandália. - Tem uma coisa no chão do seu carro me atrapalhando... - Pega, deve ser a flanela. Se abaixou e quando trouxe o que a atrapalhava teve um misto de espanto e desespero: - O que é isso? Não tô acreditando... Virou de um lado, do outro, esticou. - É isso mesmo o que estou pensando?! Uma calcinha?!!! Deu um tapa no braço de Albertinho. - O que significa isso???? - Tá maluca? Quase bato com o carro por sua causa. Isso o quê? - Olha aqui, calcinha vermelha, transparente, dessas usadas por vadias. Albertinho encostou o carro e olhou perplexo: - Fala Albertinho, de quem é essa calcinha? - E você pergunta pra mim? - O carro é seu, ora! Só você sabe de quem é a calcinha. Com certeza não é minha. Não uso calcinha de vagabunda. E mesmo assim é muito pequena... - Minha fofa, não sei nem o que dizer. - Fofa? Me chifra com uma magrela e agora vem de nhénhénhén? Pois vai arrumando uma explicação, aliás, uma boa explicação, Albertinho! - O que você quer? Que eu invente uma história? - Albertinho, como essa calcinha veio parar no seu carro? Responde. Estou esperando. - Não sei. Juro. Não sei. - Teria sido alguma mágica? Ou você estava parado no sinal e a calcinha veio vooooaaando de algum enxugador e entrou pela janela do seu carro? - Pode ter acontecido isso mesmo. Maria Lúcia começou a socar o braço do noivo: - Cara-de-pau! Você é um grandessíssimo cara-de-pau! - Calma, violência não leva a nada. Vamos raciocinar: de quem pode ser essa calcinha? - De alguma piranha que transou com você. – e começou a chorar. Continuou falando em tom comovido: - Logo no carro que você me leva pra passear? Foi no banco que eu sento? Me diz!? Foi? - Não andei com ninguém, juro, fofa! Deve ser da minha irmã. Não chora. - Você quer me fazer de palhaça? – irritou-se. - Sua irmã tem mais de 80 quilos, impossível entrar nela! Essa calcinha cafona é de alguma vadia do SEU TRABALHO. É isso! Quem é ela, Albertinho? - Quê isso! No meu trabalho não tem vadia. Sei lá como essa calcinha veio parar no meu carro. Coisa de louco! - Então é sua! Você é gay! Você faz programa vestido com calcinha vermelha... - Viajou, Maria Lúcia... - Abre a boca Albertinho, abre essa boca! - O que você vai fazer? Eiiiiii... Maria Lúcia fez um bolinho com a calcinha que estava na mão e enfiou pela boca de Albertinho: - Engole essa porcaria! Não quero tão cedo ouvir sua voz, seu mentiroso, tarado! Saiu do carro e pegou um táxi. Albertinho passou o final de semana tentando falar com Maria Lúcia. Ela só atendeu o telefone uma vez: - Quem é a dona da calcinha? - Maria Lúcia, eu... - Não sabe? Desligou o telefone. Na segunda-feira, Albertinho chegou ao trabalho e foi direto falar com Claudia Helena, colega do departamento pessoal. - Toma! – jogou a calcinha em cima da mesa de Claudia Helena. - O que é isso ? – assustou-se. - Minha noiva achou sua calcinha no meu carro. Satisfeita agora? – falou com ironia. - Você contou pra ela que a calcinha é minha? - Claro que não! Nem vou contar. Morro, mas não conto... Querendo separar o casal, Claudia Helena liga para Maria Lúcia e diz em tom debochado que é a dona da calcinha vermelha. Dois meses depois da confusão, Maria Lúcia se casa, mesmo sabendo da traição. Durante a lua-de-mel, Albertinho curioso quis saber: - Minha fofa, você é uma mulher intrigante... - Por que, fofo? - Achei que você nunca fosse me perdoar por causa da tal calcinha. O que fez você finalmente acreditar que eu não sabia de quem era aquela calcinha horrorosa? Maria Lúcia deu um sorriso cínico e com ar misterioso respondeu: - Deixa pra lá. Coisa de mulher, fofo!
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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