Sábado de céu estrelado e noite de lua cheia. Lucília e Macedo entraram num restaurante perto da praia e escolheram uma mesa no canto. Depois de fazerem o pedido, trocaram carícias discretas Envergonhada, Lucília declarou-se: - Eu te amo! - O quê? Repete com voz pastosa: - Eu te amo, Macedo. - O que você quis dizer com isso? - O que você escutou. - Amor é coisa séria, Lucília. - Que falta de romantismo! Eu digo que te amo e você me trata friamente? - Não quero iludir ninguém. Você sabe que eu gosto de liberdade. Sou sincero. - Em outras palavras, isso quer dizer: Saio com você, mas também saio com outras. Sou infiel. É isso? - Sem drama, Lucília. Só não quero perder minha individualidade. Amor é prisão. - Não sabia que você se sentia algemado – disse ofendida. - Fui claro desde o início: Prezo minha liberdade. - Isso é desculpa pra sacanagem, Macedo. - Impressão sua. Só não gosto de cobrança. - Não cobrei nada, apenas expressei o que sinto. É pecado? - Quem dá, pede de volta. Amanhã vai me cobrar a mesma coisa. Mulher é tudo igual. - Você está me confundindo com a sua ex que era ciumenta e te sufocou. Sou diferente. - Vamos mudar de assunto, essa conversa tá ficando chata. - Por quê? - Não estou preparado para compromisso sério. Preciso de espaço para respirar. - Ei, não te pedi em casamento, apenas disse que te amava. - Primeiro diz que me ama, depois quer conhecer minha família, dormir na minha casa. - E qual o problema? Você é alérgico a compromisso sério? - Tentei outras vezes e não deu certo. Quero uma relação leve. Cada um na sua. - Então você não é meu namorado? - Estamos tentando. - Há quase um ano Macedo? Você é um cara-de-pau! - Pronto, começaram as agressões. Vamos mudar de assunto. - Quando é que você vai estar pronto para ser meu namorado oficial? - Hoje nada é oficializado. - Então você não me ama? - Amor é relativo. Você pode amar o time de futebol, pai, mãe. Eu amo meu labrador. - Você é um filósofo, Macedo. Ama o cachorro, mas não me ama? - Cachorro não cobra. Homem pensa diferente. Não quero me sentir preso. - Você perdeu o interesse por mim, é isso? - Nossa sintonia não está combinando. Não foi isso que eu disse. - Foi o que você acabou de dizer. Quer ficar livre de mim. - Não tente adivinhar meus pensamentos. Mulher tem essa mania. - Não generaliza. Eu sou A MULHER. O garçom serviu a pizza, enquanto eles continuavam a conversa. Para descontrair, Macedo brincou: - Mulher é tudo igual. Adora complicar, né? O garçom deu um risinho sem graça, cortou a pizza e balançou a cabeça timidamente. - Se precisarem de mais alguma coisa é só chamar. Com licença. - Macedo, que palhaçada é essa de colocar o garçom na nossa conversa? - Tava brincando. Tudo você leva a sério. Que mau-humor! - Perdi a fome – empurrou o prato com cara de nojo. - Quê isso, Ritinha! - Ritinha? Você me chamou de Ritinha? - Chamei? Nem percebi. Desculpe. Você me deixa nervoso. Come a pizza. - Não quero, pode comer tudo. - Vai estragar nossa noite? - Quem estragou foi você. - Eu?! - Você, sim. Tá filosofando pra cima de mim, só porque eu disse que te amava. Homem é tudo igual. São todos egoístas. - Vamos deixar esse papo feminista pra depois. Já pedi desculpa. Come a pizza e vamos mudar de assunto. - O que você sugere? – falou irritada, balançando a perna e batendo com o pé no chão. - Que tal falarmos sobre as várias espécies de moscas existentes no planeta terra? - Você é uma delas, né? O popular mosca de padaria. - Deixa de ser boba. Minha bobinha. - Você não aceita o meu amor, troca meu nome e eu é que sou boba? - Caramba, mulher tem mania de ficar batendo na mesma tecla. Vai, come. - Pra você é fácil. - Bobinha, vamos sair daqui e fazer as pazes na cama. Adoro transar com você irritadinha. - Homem só pensa em sexo. Sou apenas um objeto sexual pra você? - Você não gosta de ser usada? - É isso que eu sou pra você. Uma VAGABUNDA? - Não disse isso. Tá difícil conversar, Lucília! Você leva tudo para o outro lado. - Que lado? - Esquece, Ritinha. Desculpe, Lucília. Tá vendo como você me deixa confuso? Silêncio. Lucília respirou fundo, esticou o corpo, mordeu os lábios e falou decidida: - Macedo, você é um babaca. Como eu não percebi isso antes?! Vai pra puta que te pariu! Pegou a bolsa e saiu.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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