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COLUNISTA
Celamar Maione
17/08/2009 - 17h18
Eu te amo
 
 

Sábado de céu estrelado e noite de lua cheia. Lucília e Macedo entraram num restaurante perto da praia e escolheram uma mesa no canto. Depois de fazerem o pedido, trocaram carícias discretas  Envergonhada, Lucília declarou-se:
- Eu te amo!
- O quê?
Repete com voz pastosa:
- Eu te amo, Macedo.
- O que você quis dizer com isso?
- O que você escutou.
- Amor é coisa séria, Lucília.
- Que falta de romantismo! Eu digo que te amo e você me trata friamente?
- Não quero iludir ninguém. Você sabe que eu gosto de liberdade. Sou sincero.
- Em outras palavras, isso quer dizer: Saio com você, mas também saio com outras. Sou infiel. É isso?
- Sem drama, Lucília. Só não quero perder minha individualidade. Amor é prisão.
- Não sabia que você se sentia algemado – disse ofendida.
- Fui claro desde o início: Prezo minha liberdade.
- Isso é desculpa pra sacanagem, Macedo.
- Impressão sua. Só não gosto de cobrança.
- Não cobrei nada, apenas expressei o que sinto. É pecado?
- Quem dá, pede de volta. Amanhã vai me cobrar a mesma coisa. Mulher é tudo igual.
- Você está me confundindo com a sua ex que era ciumenta e te sufocou. Sou diferente.
- Vamos mudar de assunto, essa conversa tá ficando chata.
- Por quê?
- Não estou preparado para compromisso sério. Preciso de espaço para respirar.
- Ei, não te pedi em casamento, apenas disse que te amava.
- Primeiro diz que me ama, depois quer conhecer minha família, dormir na minha casa.
- E qual o problema? Você é alérgico a compromisso sério?
- Tentei outras vezes e não deu certo. Quero uma relação leve. Cada um na sua.
- Então você não é meu namorado?
- Estamos tentando.
- Há quase um ano Macedo? Você é um cara-de-pau!
- Pronto, começaram as agressões. Vamos mudar de assunto.
- Quando é que você vai estar pronto para ser meu namorado oficial?
- Hoje nada é oficializado.
- Então você não me ama?
- Amor é relativo. Você pode amar o time de futebol, pai, mãe. Eu amo meu labrador.
- Você é um filósofo, Macedo. Ama o cachorro, mas não me ama?
- Cachorro não cobra. Homem pensa diferente. Não quero me sentir preso.
- Você perdeu o interesse por mim, é isso?
- Nossa sintonia não está combinando. Não foi isso que eu disse.
- Foi o que você acabou de dizer. Quer ficar livre de mim.
- Não tente adivinhar meus pensamentos. Mulher tem essa mania.
- Não generaliza. Eu sou A MULHER.

O garçom serviu a pizza, enquanto eles continuavam a conversa. Para descontrair, Macedo brincou:
- Mulher é tudo igual. Adora complicar, né?

O garçom deu um risinho sem graça, cortou a pizza e balançou a cabeça timidamente.
- Se precisarem de mais alguma coisa é só chamar. Com licença.
- Macedo, que palhaçada é essa de colocar o garçom na nossa conversa?
- Tava brincando. Tudo você leva a sério. Que mau-humor!
- Perdi a fome – empurrou o prato com cara de nojo.
- Quê isso, Ritinha!
- Ritinha? Você me chamou de Ritinha?
- Chamei? Nem percebi. Desculpe. Você me deixa nervoso. Come a pizza.
- Não quero, pode comer tudo.
- Vai estragar nossa noite?
- Quem estragou foi você.
- Eu?!
- Você, sim. Tá filosofando pra cima de mim, só porque eu disse que te amava. Homem é tudo igual. São todos egoístas.
- Vamos deixar esse papo feminista pra depois. Já pedi desculpa. Come a pizza e vamos mudar de assunto.
- O que você sugere? – falou irritada, balançando a perna e batendo com o pé no chão.
- Que tal falarmos sobre as várias espécies de moscas existentes no planeta terra?
- Você é uma delas, né? O popular mosca de padaria.
- Deixa de ser boba. Minha bobinha.
- Você não aceita o meu amor, troca meu nome e eu é que sou boba?
- Caramba, mulher tem mania de ficar batendo na mesma tecla. Vai, come.
- Pra você é fácil.
- Bobinha, vamos sair daqui e fazer as pazes na cama. Adoro transar com você irritadinha.
- Homem só pensa em sexo. Sou apenas um objeto sexual pra você?
- Você não gosta de ser usada?
- É isso que eu sou pra você. Uma VAGABUNDA?
- Não disse isso. Tá difícil conversar, Lucília! Você leva tudo para o outro lado.
- Que lado?
- Esquece, Ritinha. Desculpe, Lucília. Tá vendo como você me deixa confuso?

Silêncio. Lucília respirou fundo, esticou o corpo, mordeu os lábios e falou decidida:
- Macedo, você é um babaca. Como eu não percebi isso antes?! Vai pra puta que te pariu!

Pegou a bolsa e saiu.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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