Final de expediente. Horácio bebia com os amigos num bar no centro da cidade quando olhou para a mesa perto do banheiro e engoliu em seco: “O que a filha da puta da Ritinha tá fazendo aqui com outro homem?”. Deixou os amigos conversando e se aproximou da mesa em que estava a esposa. Segurou-a pelo braço: - Quem é esse cara? Tá pensando que eu sou o quê? Me traindo na minha cara? O acompanhante da mulher se levantou aborrecido. - Qual é a sua? Quem é você? - Sou o marido dela. - Marido? Não sabia que você era casada! A mulher se levantou colocando a mão na cintura. - Que história é essa de marido? Nunca vi você na minha vida! - O que é isso Ritinha? Tá me estranhando? - Quem está me estranhando é o senhor. Nunca o vi. Por favor, retire-se ou chamo o segurança. O garçom se aproximou. - Algum problema? Para evitar escândalos, principalmente na frente dos colegas de trabalho, Horácio disfarçou: - Não é nada. É apenas uma dúvida que estou tirando. A mulher mexeu nos cabelos nervosamente e olhou de lado para Horácio. - Então faça o favor de se retirar. - Ritinha, pára de palhaçada. Vamos embora juntos. - Já lhe disse que meu nome não é Ritinha. O acompanhante chegou mais perto de Horácio: - Ela não se chama Ritinha. E se o senhor não se retirar agora, vou chamar o segurança. Em dúvida, Horácio voltou a sentar-se com os amigos. - E aí, Horácio? Conhecidos? - É. É – respondeu sem graça e cabisbaixo. Passou o resto da noite calado. “Será que bebi demais?” – pensou. “A mulher é a cara da Ritinha”. Chegou em casa dez da noite. Ritinha estava na sala lixando as unhas. - Isso são horas? - Eu é que pergunto se tenho cara de palhaço! Tenho? - Você está se sentindo mal Horácio? Que história é essa? - Ritinha, me diz a verdade. Juro, não vou brigar com você. Seja sincera! - Que verdade? - Juro que não brigo com você. - Tá vendo o que dá beber demais? Pode me contar o que está acontecendo? - Eu vi você no bar do Aníbal com outro homem e você disse que você não era você. - Surtou, Horácio? - Era você, né? Fala. Não vou brigar. Ritinha passou a língua pelos lábios, coçou a cabeça e fez cara de suspense. Horácio insistiu: - Era você? - Não. Era a Regina! - Regina? Que Regina? Não conheço nenhuma Regina. Ritinha começou a chorar. Olhou para a televisão apagada e perdeu-se em pensamentos. O marido sacudiu a mulher: - Fala, quem é Regina? - Minha irmã gêmea. - Você nunca teve irmã gêmea. - Era segredo. Minha mãe me fez prometer que eu nunca contaria nada. Quebrei a promessa. - Mas por quê? Sou seu marido. Quero saber de tudo! - Mamãe deu a Regina para outra família quando fizemos um ano. Não podia ficar com as duas. A mulher contou chorosa a triste história da família. Comovido, Horácio desculpou-se com a esposa pelas desconfianças. No dia seguinte, enquanto tomavam café, o marido comentou: - Se eu encontrar a Regina novamente, vou falar de você, tá bom? - Nunca! Ela não sabe da minha existência. Não perdoaria mamãe. - Ela vai ficar feliz quando souber que tem uma irmã gêmea – argumentou. - É um segredo de família. Morre aqui. Horácio chegou no trabalho frustrado. Queria reaproximar Ritinha e Regina. Durante uma semana, depois do expediente, passava no bar, esperando encontrar a gêmea da esposa. Um mês depois, quando andava pela Sete de Setembro, viu a gêmea saindo de uma loja. Aproximou-se, segurando-a pelo braço: - Desculpe, não sei se lembra de mim. Bar do Aníbal. Ela fechou o rosto: - Lembro. O que o senhor quer dessa vez? - Desculpe, Seu nome é Regina e não Ritinha. O garçom me contou – mentiu. - Tá desculpado. - Para eu acreditar nas suas desculpas, aceita tomar um café? Sentaram-se num bar perto do metrô. De início estavam encabulados. Meia hora depois pareciam íntimos. Passaram a se encontrar durante o almoço às sextas-feiras. Horácio impressionava-se com Regina. Achava a gêmea mais bem-humorada que a esposa. Manteve os encontros em segredo. Numa quinta-feira, no final da tarde, Regina o convidou para um happy hour. Aceitou. Encontram-se. Sorridente, Regina mostrou: - Trouxe uma coisa e quero que você veja! Tirou da bolsa um baby-doll vermelho. - Que tal? É bonito? – disse com um ar ingênuo cheio de sensualidade. Horácio ficou confuso. Ele e Ritinha não faziam sexo há quase seis meses. “Fazer sexo com a irmã gêmea dela?” – pensou. “Não, loucura, loucura”. Ela tomou a iniciativa. Ele seguiu os instintos. Quando percebeu, estavam subindo as escadas de um motel no centro da cidade. Entraram no quarto em silêncio. Regina vestiu o baby-doll. Viveram momentos de prazer. Oito da noite. A mulher olhou o relógio, assustada: - Tenho que ir pra casa, meu marido me espera! - Quando vamos nos ver novamente? – perguntou Horácio com ar apaixonado. - Semana que vem. Já vou. Tenho pressa. Despediram-se. Horácio foi tomar banho sonhando com novo encontro. A mulher entrou no táxi e deu o endereço: - Rápido, moço. Por favor. O celular tocou. Atendeu contrariada: - Fala mãe! A mãe gritava. A mulher deu um sorriso e respondeu calmamente: - Quem é Regina???? Ahhhhhhh mãe, já sei, o Horácio foi falar com você?! - Sim e eu quero saber quem é Regina. Você nunca teve irmã. - O que você falou com ele, mãe? - Nada. Disfarcei e não respondi nada. - Então fica calma. Amanhã lancho com a senhora e conto tudo. É uma longa história. O táxi chegou. Ritinha pagou o motorista e saiu do carro cantarolando!
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|