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COLUNISTA
Celamar Maione
25/05/2009 - 13h14
Paixão sangrenta
 
 

Sexta-feira, sete da noite. Final de expediente. Os bares na Cinelândia estavam lotados de gente à procura de diversão.

Maria Dolores saíra do trabalho meia hora antes e parou num barzinho, com três amigas. Foram beber e jogar conversa fora. Sorriam e falavam mal do chefe, quando Eugênia arregalou os olhos, modificou a voz e gritou:
- Cuidado Maria Dolores! Atrás de você.
Tarde demais. Valdomiro agarrou a ex-namorada pela cintura e meteu-lhe uma pistola na nuca.
- Quer dizer que é aqui que você vem com o seu amante?

Babava de ódio. Com a voz trêmula e respiração ofegante, Maria Dolores soltou um fio de voz, tentando acalmar Valdomiro:
- Tô aqui com minhas amigas, não tá vendo? Calma! Não faz escândalo. Vamos conversar em outro lugar.
- Cala a boca piranha! Vadia. Vou furar essa cara sem-vergonha!

Os clientes estavam paralisados. Alguns pensavam se tratar de cenas de um filme e comentaram:
- Parece filme policial! Não tô reconhecendo os atores!
- Devem ser coadjuvantes.
- Nada, esse filme é daquele cineasta, como é mesmo o nome Osvaldo?

Alucinado, Valdomiro apontou a arma e atirou no copo da mesa ao lado.
- Todo mundo calado! Quieto. Vou enfiar o dedo no gatilho e mato uns cinco nessa merda. Ainda tenho mais bala aqui, ó!! Mato todo mundo!

Silêncio. Clientes se entreolharam assustados. Os garçons esconderam-se atrás do balcão. As amigas de Maria Dolores começaram a chorar nervosas. Valdomiro saiu puxando a ex pelos cabelos e passando entre as mesas berrava:
- Vocês estão vendo essa carinha? Parece uma santa, né? Mas é uma puta. Me corneou com um babaca do trabalho. Agora vai morrer.

Uma senhora cardíaca começou a passar mal:
- Socorro, me deixa sair do restaurante! Tô com falta de ar!
- Cala a boca aí coroa. Se continuar falando, meto bala!
- Me abana... me abana, Agenor...

O nervosismo tomou conta da clientela. Um homem que sentara-se na última mesa perto do banheiro, pegou o celular e ligou para a polícia. Quando Valdomiro percebeu que o homem desligava o aparelho, se aproximou:
- Dá a porra do celular aqui. Anda. Passa essa merda pra cá!

Com as mãos trêmulas, o homem entregou o celular. Valdomiro mandou Maria Dolores olhar para qual número o cliente havia ligado. Ela disfarçou.
- Não tô conseguindo enxergar.
- Passa essa porra pra cá! Além de vagabunda, é cega.

Vigiava os clientes e olhava o celular. Entrou em desespero quando viu o número:
- Filho da puta, ligou pra polícia, é?! Nunca foi corneado na vida? Então agora vai morrer pra deixar de ser otário.

Gritaria e choradeira. Barulho de copos se quebrando e caindo pelo chão. Mesas virando. Valdomiro atirou. Na cabeça. Maria Dolores enlouqueceu:
- O que você quer que eu faça? Eu faço. Diz. Essa gente não tem culpa!
- Então diz que me ama. Bem alto pra todo mundo ouvir!
- Eu te amo! Agora deixa essa gente em paz! Vamos sair daqui.

Quando Valdomiro preparava-se para sair do restaurante, agarrado a Maria Dolores, a polícia chegou. Ele, então, recuou com a ex-namorada:
- Agora vai ficar todo mundo quieto aqui. Quem falar alguma coisa leva bala.

Silêncio. A polícia negociava com Valdomiro do lado de fora. A mulher da mesa dez se apresentou como psicóloga, oferecendo-se para ajudar nas negociações.
- Deixa eu sair. Você agora não tem a menor chance. Tá cheio de policial armado.
- Cala a boca. Meu negócio é com a Maria Dolores.
- Nós sabemos e queremos ajudar você. Não é Maria Dolores? – perguntou a psicóloga esperando aprovação.

Maria Dolores concordou com a cabeça. Depois de muita conversa, Valdomiro deixou a psicóloga sair para negociar a rendição. Assim que ela colocou os pés na rua, o policial escondido perto da porta, agarrou-lhe os braços:
- Como está o clima lá dentro? Quantas pessoas estão no restaurante?
- Acho que umas 30 pessoas, o bar estava começando a encher...
- O cara quer matar a mulher? São amigos? Namorados?
- Ciúme. Parece que ela traiu ele e ele quer se vingar. Uma confusão desse tipo.
- O que o malandro tá querendo pra liberar os clientes?
- Ele só quer sair de lá com ela.
- Não dá.
- Como não dá? Ele já matou um lá dentro.
- Matou?
- É, o cara que ligou para a polícia. Ele deu um tiro na cabeça do coitado.

O policial saiu gritando para os colegas:
- Aí, o malandro é perigoso! Aperta o cerco. Já tem um óbito lá dentro. Sem negociação!

Na rua a confusão era grande. Imprensa. Pipoqueiro. Curiosos. Todos se aglomeravam esperando o final. No restaurante, o clima era de tensão. Valdomiro andava de um lado para o outro gritando com Maria Dolores:
- Viu o que você me fez fazer? A culpa é sua. Piranha! Eu disse que não seria corno. Nunca!
- Eu não traí você. Juro!

Valdomiro se distraiu conversando com Maria Dolores. O cliente que estava perto da porta conseguiu fugir. Um policial armado aproveitou e entrou, apontando a arma para Valdomiro:
- Larga a moça! Anda. Assim ninguém se machuca.
- Ela é minha! Ninguém tira ela de mim. MINHA!
- Já disse pra largar. É melhor. Dá essa arma. Com calma!

Maria Dolores tremia:
- Por favor, moço, não atira! Ele é inocente. Eu não presto! Eu traí o Valdomiro.

Nervoso, ele começou a chorar e abaixou a arma. O policial atirou no peito de Valdomiro. Ele caiu no chão ensanguentado. Ao ver o ex-namorado agonizando, Maria Dolores surtou:
- Assassino! Você matou o homem que eu amava. Assassino! Covarde!

Gritaria. Maria Dolores se jogou ao lado do corpo de Valdomiro. No meio de uma convulsão, ela pegou a arma da mão do defunto e deu um tiro na cabeça.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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