Elza olhou o relógio. Onze da noite. Respirou fundo, passou a língua nos lábios, colocou a chave no portão e entrou. A casa estava silenciosa. Jogou a bolsa no sofá e se dirigiu para o banheiro. Tomou banho, enrolou-se num roupão e entrou no quarto. Assim que abriu a porta e já ia acender a luz, Aderson agarrou-a pelo pescoço e jogou-a na cama. - Onde você estava até essa hora? - Me solta Aderson. Tá machucando meu pescoço. - Não vou soltar enquanto não responder. Fala. Anda. - Acende a luz e vamos conversar! - Anda. Fiz uma pergunta e você não respondeu. Onde você estava até essa hora? - Eu falei pra você que ia no aniversário do filho da Marise. - Que Marise? Nunca ouvi falar em Marise. - A Marise, minha colega de trabalho. - E precisa deixar o celular desligado? - Me solta Aderson! - Não! Primeiro me conta. Quem é ele? - Ele quem? - O macho com quem você está saindo?! - Não tô saindo com ninguém, deixa de maluquice! - Fala. Quanto mais mentir, vai ser pior. - Quer mesmo saber? - Abre logo essa boca! Fala, merda. - Tá me machucando. Tira isso dá minha cabeça. - Fala. Ou vou apertar mais seu braço. - Você quer saber mesmo? - Quero. Sua última chance. - Seu irmão. - Você me traiu com meu irmão, sua cachorra? - Nós só tomamos um chope. Nada demais. - E não é nada demais? - Não me bate. Na minha cara não. - Pra você aprender. Fala. E naquele dia que você chegou mais tarde e colocou a culpa na chuva? Quem era o cara? - Que dia? - O dia da chuva. Quem era ele? - O cara da academia. - Aquele fortão? - É. Aquele mesmo que me deu carona naquele dia. - Vagabunda. - Pára Aderson. Tá machucando. - Você pensa que eu gosto de ser corno é? - Eu disse isso? - Pensa é? Responde! - Não. Mas a culpa é sua. - Minha? Você me trai e a culpa é minha? - Quem deixou de me procurar na cama? Quem, Aderson? Quem? Responde? - Já disse que estou com problemas. - Mas eu sinto falta. - Você sente falta é? Você é uma vadia! - Não Aderson. Vira esse troço pra lá! Pára de brincadeira. - Você acha que eu tô brincando? - Acho. Você não tem coragem. - Ah é? Então quer dizer que além de corno, você acha que eu sou covarde? - Eu vou gritar. - Grita. Pode gritar. Você vai morrer gritando. - Não. Aderson. É mentira. Eu não traí você. É tudo mentira. Eu tava brincando. - Brincando? É? Liga pra tua mãe. Vai. Toma o celular. Liga agora. - Pra quê? - Pra avisar aquela sogra filha da puta que a filhinha dela vai para o inferno junto com ela. - Não Aderson. Me dá isso aqui. Não, Aderson. - E vai ser na cara. Pra na hora do enterro seus amantes não olharem pra esse rostinho sem vergonha! - Não... nãooooooooooooooooooooo! Aderson puxou o cabelo da mulher com força. Enlouquecido, urrava: - Fala, vagabunda! Fala que me traiu. - Traí sim! Traí com três homens lindos! - Eles eram melhores do que eu na cama? - Muito melhores! Eles me fizeram gozar gostoso! - Repete, vadia! - Eles me fizeram gozar gostoso! - Vagabunda! Pilantra! - Tira isso da minha cabeça e vem aqui comigo, Aderson! Aderson jogou a arma no chão e falou no ouvido de Elza quase gemendo: - Tô cansado de ser corno, sua cadela! - Repete! - Tô cansado de ser corno, CADELA! - Duvido! Eu sei que você gosta! Ele estapeou a mulher. Ela gritou excitada. Transaram até quase o dia amanhecer. Quando Elza adormeceu, Aderson foi até a sala, pegou uma taça de vinho e bebeu com satisfação de criança.
Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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