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Contos
16/02/2009 - 17h06
Relações modernas
Celamar Maione
 

Somos seres sexuais: movidos pelo inconsciente e guiados pela libido. Escravos dos desejos. Alguns passam a vida se reprimindo. Outros, descobrem a tempo os indecentes prazeres da carne. Tudo é sexo. Freud tinha razão, quando argumentou que “o comportamento humano obedece ao instinto sexual”.

Quando completei seis anos de casada, meu marido me propôs visitarmos uma casa de swing. De família católica tradicional, meu coração acelerou de indignação. Fidelidade é o termômetro de um relacionamento. Será que eu não o estava mais satisfazendo na cama? Com os olhos brilhando, ele me disse que queria se aventurar. Alguns amigos na academia experimentaram e gostaram.

Fiquei uma semana sem falar com ele. O convite, porém, não me saiu da cabeça. Depois do casamento nunca pensei em ir pra cama com outro homem, mas ao imaginar a possibilidade, um leve arrepio percorreu-me a espinha. Nada comentei. Continuei me fazendo de vítima. Com a consciência pesada, ele desculpou-se. Surpreendeu-se quando eu, entre constrangida e excitada, disse que topava a nova experiência. “Já que era uma fantasia dele e eu o amava, estava disposta a realizá-la”. Naquela noite fizemos um sexo delicioso. Duas semanas depois visitamos uma casa de swing.

Assim que entrei, olhei envergonhada ao redor. Relaxei ao perceber que os casais queriam o mesmo que nós: luxúria e novidade. O jogo de luzes no palco fez minha imaginação viajar. Meu marido pediu uma caipirinha, enquanto olhávamos algumas mulheres dançando. Uma delas me chamou com o dedo e uma piscada de olho. Aceitei. Logo depois o marido da minha parceira subiu ao palco e o meu também animou-se. Em meia hora estávamos os quatro num reservado. Nos divertimos. Trocamos telefone e combinamos novos encontros. Saí do clube dividida entre culpada e extasiada.

No almoço dominical com a família, enquanto meu pai rezava antes da refeição, me senti uma puta. Meu marido disfarçou melhor o constrangimento. Rezou fazendo questão de segurar o terço que minha mãe lhe entregara.

Depois da primeira experiência, conversamos muito e decidimos uma vez por mês participar de eventos envolvendo troca de casais. Suportamos melhor os momentos de tédio no casamento.

Quando contei para uma amiga minha a nova experiência, ela me condenou. Seis meses depois, trocou o maridinho pelo cunhado recém-saído da adolescência.

Eu e meu marido resolvemos abrir de vez nosso casamento. Além das casas de swing, passamos a ter relacionamentos extra-conjugais. Nada em segredo. Troca de experiência. O combinado era jamais se apaixonar por outros. Sexo, sim. Sentimento, não. Variávamos, mas mantínhamos um casamento estável. Minha família começou a perguntar pelos filhos. Inventávamos desculpas.

Nossa vida mudou quando fomos demitidos. Fizemos as contas e com o dinheiro da indenização abrimos um sex-shop. Eu já não precisava acordar cedo para ficar na frente de um computador digitando. Meu marido se livrou do terno e gravata. Adeus clientes interessados em comprar carros. O fetiche mudou. A indústria do sexo é vantajosa. Sexo é válvula de escape. Vaidade. Prazer.

Enquanto a família me condenava, eu e meu marido ganhávamos dinheiro. Passei a dar aulas de Sexo e Sedução para mulheres inibidas ou entediadas no casamento. Ganhei espaço em revistas e programas de TV. O dinheiro entrou facilmente. Abrimos um Clube de Swing. De início, pequeno. Com o tempo, cresceu. Perdemos os amigos antigos. Ganhamos outros.

Acabei me apaixonando por um dos novos amigos. Meu marido se engraçou com a garçonete. Jogamos limpo. Nos separamos e assumimos novas relações. Cansamos de dividir. Perdeu a graça. Acabou a novidade.

Hoje eu e ele somos sócios de três sexs-shops, uma Casa de Swing e damos Cursos de Artes Sensuais, com turmas cheias. Tem gente na fila de espera. Ganhamos dinheiro com a fantasia e os desejos de homens e mulheres à procura de novidades. Com o dinheiro entrando, minha família me perdoou e ajuda nos negócios.

Em breve meu ex vai ser pai. Eu serei a madrinha. Tenho um problema: não sei se vou conseguir manter meu acordo de fidelidade. Vivo em conflito. Estou interessada num fornecedor de brinquedinhos eróticos e acho que sou correspondida. Quando o tesão fala mais alto é difícil resistir.

Fidelidade existe?


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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