Na hora do almoço, duas amigas conversam num restaurante no Centro da cidade. Fátima estava ansiosa para contar a novidade a Elizete. - Vou sair pela primeira vez com o César, hoje. Que gato! - Nossa, estou até com inveja – brincou. Como ele é? - Alto, olhos verdes, musculoso, pernas grossas... chego a suar só de pensar... - Onde vocês se conheceram? - No aniversário da Beth. Ela que me apresentou. Conversamos a noite toda e ele pediu meu telefone. Já me ligou três vezes... e combinamos um encontro pra hoje. - Legal... - Só tem uma coisa me torturando. - Fala, mulher. O que é? - Se ele quiser ir pra cama no primeiro encontro? - Qual o problema? Vai se quiser. O cara vai obrigar você, por acaso? - Mas no primeiro encontro? - E daí? Estamos no século vinte e um, cara pálida! - E se eu for para o motel e ele não ligar mais, sumir? Você sabe que isso acontece! Lembra da Soraya... da Vilma... da Helena... - Liga pra ele, ué! - E se ele não atender? - Se ele não atender é porque é um babaca. Deveria ter pelo menos a coragem de lhe dar um fora, ao invés de sumir. - Até parece! Homem é covarde... - O importante, Fátima, é fazer o que tá a fim. Você sabe que ele vai tentar. Todo homem tenta. Quer provar que é macho. - O Otavinho não tentou. - Seu ex? - É. Namoramos dois anos. Só fui pra cama depois de um mês de namoro... vai ver foi por isso que ficamos tanto tempo juntos. - Otavinho já era. Vira a página. Os tempos mudaram. Agora é sodoma e gomorra. Ninguém é de ninguém e todo mundo é de tudo mundo! - Isso é o que você pensa. - Pelo menos a música diz isso... de quem é mesmo... dos Tribalistas... é... - Elizete, outro dia ouvi dois homens conversando. Um deles dizia que mulher que vai pra cama com ele no primeiro encontro, perde o mistério. - Esse pode pensar assim. Mas o tal do César pode ser liberal. Depende do grau de babaquice do homem, ora. Não tem homem que se ACHA, só porque beija muitas bocas numa balada? Coisa anti-higiênica... Há quem goste! - E se ele se importar? Tem homem que é machista... pode me achar fácil demais. Ficar com medo de ser corno mais tarde. - Todo homem tem medo de ser corno. Quanto a achar você fácil, se ele pensa assim, é otário, não serve pra você. Tira do caderninho e arruma outro. Você se acha uma mulher fácil, por acaso? - Sei lá. Nunca pensei nisso. - Fátima, não importa a opinião que ele tem a seu respeito. Quem sabe da sua vida é você. Não se reprima. Tá querendo, vai. Não tá, não vai. - E o diga seguinte? - Vive o dia de hoje. Amanhã é amanhã. E se o cara for uma merda na cama e você não gostar? Você também pode não gostar, já pensou nisso? - Mas e se eu gostar e ele não gostar e sair espalhando por aí queimando meu filme? - Santa insegurança! Você se preocupa muito com a opinião dos outros. Os outros pagam suas contas por acaso? - Tenho medo de sofrer. - Sofrer só porque o cara não ligou no dia seguinte? Existem coisas piores na vida... Você questiona demais. Vai primeiro e pensa depois. - É melhor pensar antes, assim evito sofrer. - E você acha que não está sofrendo pensando assim? Sofre, mas aproveita. A vida é curta, minha amiga. - Mas eu detesto ser rejeitada. Minha analista falou... - Sua analista não entende de homem. E pra ser sincera, tem homem que sai uma vez, e mesmo quando não vai pra cama, some. Não telefona do mesmo jeito. Portanto, amiga, se o cara é gostoso, e chamar para o motel, faz como a ministra falou: relaxa e goza. Pior se arrepender de fazer do que de não fazer. Camisinha, água e sabonete estão aí mesmo para apagar qualquer vestígio. - Falar é fácil... está noiva, vai casar... - Cruzes, Fátima, deixa de ser invejosa! Chega desse assunto. Quem sabe se dá ou não, é você. Vou pagar meu almoço e voltar para o trabalho. Boa sorte logo mais. Bye, bye. Fátima esperou César ligar até uma da madrugada. Adormeceu olhando para o telefone. O encontro nunca aconteceu. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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