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29/12/2008 - 08h00
Confissões de uma mulher moderna
Celamar Maione
 

Lua cheia de uma noite de verão. As luzes da rua multiplicaram-se tomando formas monstruosas. Minha vista embaçou. A azia queimou minha garganta. Abri a porta do carro e vomitei. Acabara de ser abandonada no altar. Casa montada e sonhos desfeitos. Auto-estima em frangalhos. O noivo? Fugiu com a prima. A notícia veio ao som de My Way no celular do padrinho.

Duas semanas depois, tentei matá-lo quando me procurou para devolver as chaves do apartamento. A faca de pão com a lâmina brilhando, olhava-me convidativa em cima da mesa. Meu irmão chegou na hora impedindo-me de me tornar uma assassina.

Histérica, minha mãe me mandou para um analista. Com três meses de tratamento, suspendi as sessões. A musculação substituiu Lacan. Passei a freqüentar baladas e bares da moda. Virei predadora. Homem só para sexo ocasional. Uso e sou usada. Conquisto e jogo fora. Homem não ama. Deseja. Sente tesão.

Aprendi a me excitar com o jogo da conquista. Dá poder. Faz bem ao ego. Massageia a auto-estima. Seduzo-os com promessas e fantasias sexuais. Satisfeita a vontade, descarto-os. O descompromisso me encoraja. Quando não dá certo, só deixei de ganhar alguns momentos de prazer, recuperados em outra transa. Saio no máximo três vezes. Não crio vínculos.

Adoro tirar foto dos homens que levo pra cama. Depois coloco-as em um painel e escrevo o nome e a data da saída debaixo das fotografias. Já tenho mais de cinqüenta na galeria. É meu hobbie. Fazem parte da coleção solteiros, casados e bis. Não tenho medo de perder, porque não preciso ganhar. O que vale é o momento. Sou livre. Não me preocupo se vai ligar no dia seguinte. Não peço e nem dou telefone. Vivo o presente, a noite e o mistério que ela me proporciona. Se penso muito num homem, no dia seguinte ligo pra outro. É uma ótima tática.

Adoro cafajestes. Não se prendem a ninguém. São machistas, sempre disponíveis. Me divirto com a idéia estúpida que têm a respeito das mulheres. Na cama gostam de dar tapinhas. Batem. É divertido. Excita. Fazem o que eu peço.

Detesto mulheres medíocres que desfilam ao lado de seus maridos infiéis, exibindo-os como mercadoria. Minhas amigas viraram ex. Não aceito recriminações. Mulheres sonham com impossibilidades. Criam expectativas e se frustram. Acreditam em homem ideal. Não existe.

Minha única amiga é gay. Nunca fomos pra cama. Ela sabe o quanto gosto de homem, do cheiro, da voz e das mãos firmes em meu corpo. Mas nada impede que um dia eu tente outras possibilidades. Sou aberta. Não tenho preconceito. Meu sonho é ter dois machos viris dividindo os lençóis. Disputando-me.

Os homens não são iguais. Alguns são irritantemente metódicos. Outros, perdidos. Existem os inseguros. Os neuróticos. E até os românticos que acreditam em mulher perfeita. Cada um me leva ao prazer de maneira diferente. São poucos os que conhecem o corpo de uma mulher. Alguns não sabem tocá-lo.

Já saí com tímidos que se revelaram ótimos de cama. Com fanfarrões que na hora H broxaram. Culpa da bebida. Alguns têm fetiches. Outros se excitam quando faço strip-tease e gozam sem me tocar. Entram no jogo da sedução. Comem com o olhar. Os maridos insatisfeitos são burocráticos.

Na hora de transar já fui bailarina, odalisca, melindrosa, jogadora de tênis, estudante. Amo inovar. Uma colega de trabalho, que reclama da falta de sintonia sexual no casamento, diz que penso como homem e vingo as mulheres. Questão de estilo. Sou bem resolvida.

Minha mãe me chamou de prostituta. Não sou prostituta. Não vou pra cama por dinheiro. Não tenho clientes. Tenho amantes. Sou moderna. Cabeça aberta. Preciso espantar o tédio. Sexo ajuda. Mexe com a adrenalina. A cada homem novo, uma história diferente. Encontrei uma maneira de ser feliz. Felicidade é um estado de espírito.

Dez da noite. Hora de me arrumar. Vestido justo, perfume doce, maquiagem suave e salto agulha. Viver é muito sem graça. Detesto rotina. Antes de sair verifico se deixei meu antidepressivo na mesinha de cabeceira. É a primeira coisa que procuro quando volto pra casa. Não vivo sem ele.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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