Quando Leninha falou para Lúcia e Verônica que era virgem, as colegas de trabalho quase caíram da cadeira. - Com 30 anos, em pleno século vinte e um, camisinha, pílula, liberdade total e você NADA? Tá de brincadeira? - Sou muito tímida e romântica. Meu sonho é casar virgem. - Queridinha, acorda, os homens de hoje só gostam de mulheres experientes. - Nem todos. Exagero seu. - Há quanto tempo você não dá um beijo na boca? - Mais de cinco anos. Depois que meu pai morreu, tenho que cuidar da minha mãe. Não sobra tempo pra namorar. - Vai acabar morrendo virgem. As formigas vão aproveitar! Disposta a acabar com a virgindade de Leninha, Lúcia fez o convite: - Que tal sábado ir comigo e com a Verônica no aniversário de um amigo? - Não sei. Não posso deixar minha mãe sozinha. - Você está precisando desencalhar. Beijar na boca. Um sábadozinho só. Pensou um pouco e aceitou. “Precisava mesmo se distrair. Passava o sábado assistindo TV e aos domingos ia à feira e depois à missa com a mãe, Dona Carmelina”. Empolgada com a possibilidade de um final de semana diferente, comprou vestido novo. A mãe comentou, invejosa: - Vai me deixar sozinha no sábado? Que filha ingrata! Na festa, livre das reclamações maternas, conversava animada com as amigas e ensaiava alguns passos de dança. Verônica incentivava: - Quem sabe seu príncipe encantado aparece hoje? Lúcia apoiava: - É verdade. Você está precisando desencalhar. Gostou de alguém? Leninha sorriu constrangida e apontou para um rapaz moreno que estava sozinho num canto. - Aquele ali é uma gracinha. Parece tímido que nem eu. Lúcia pegou-a pela mão: - É o Jorge Antonio. Vem que eu vou apresentá-lo. - Tô nervosa. - Calma! É só uma apresentação, ele não vai comer você. - Será que vai gostar de mim? - Ele é um cara sério, não gosta de bagunça e acho que não tem namorada. Fizeram as apresentações. Jorge Antonio chamou-a para dançar e no final da festa trocaram o número de telefone. No mês seguinte estavam namorando. Ela contou que era virgem. Ele respeitou a castidade da namorada e seis meses mais tarde a pediu em casamento. Casaram-se no dia de São Jorge, Santo de devoção de Dona Carmelina. Depois de partirem o bolo, seguiram em lua-de-mel para Cabo Frio. Na primeira noite, quando Leninha deitou-se depois de um banho demorado, percebeu que o marido dormia. “Tadinho, deve estar cansado”. Deu-lhe um beijo cheio de ternura e dormiu com o coração colorido de felicidade. Na segunda noite, Jorge Antonio alegou indisposição alimentar e dormiu logo depois do jantar. Na noite seguinte, quando o marido reclamou de dor nas costas e se deitou no chão, Leninha entristeceu-se: - Você pode me dizer o que eu fiz de errado? - Nada. - Então por que não faz amor comigo? - Você quer? - Claro. - É virgem com trinta anos, pensei que não gostasse de sexo. - Como vou saber se gosto? Nunca experimentei e estou esperando por você. - Então tranqüilize-se, você nunca vai sentir falta daquilo que não fez. - Mas eu quero fazer. Pode me dizer o que está acontecendo? Jorge Antonio engoliu a saliva, respirou fundo e olhou sério para Leninha: - Sou gay. Entendeu? Ela deu uma risada nervosa e esperou o marido dizer que era uma brincadeira. Nada. Silêncio total. Com o coração acelerado, Leninha desabafou: - E por que quis se casar comigo? Não me ama? - Não. Nosso casamento é só de aparência. - Não quero continuar casada assim. Não quero viver de aparência. - Agora é minha esposa. Vamos fazer de conta que está tudo bem. - Não está tudo bem. Eu tinha o direito de escolher se queria brincar de casinha ou ter um casamento de verdade. Quero anular essa mentira. Sou virgem, mas não sou burra. Desesperado, Jorge Antonio ajoelhou-se aos pés de Leninha. Chorava como se tivesse chegado ao inferno: - Eu lhe imploro: Por favor, não faz isso comigo, meu pai morre se souber que sou gay. Não posso lhe dar esse desgosto. Faço o que quiser. Mas continua casada comigo! Lentamente tirou a camisola: - Então me come seu viado de merda! Seja homem pelo menos uma vez na vida. - Não consigo. Tenho nojo de mulher! Voltaram de Cabo Frio pela manhã. Assim que entraram no apartamento, Leninha jogou a bolsa em cima do sofá e olhou para Jorge Antonio destilando veneno: - Vai se arrepender de um dia ter se casado comigo, não vou lhe dar sossego na vida. Quando o marido saiu para trabalhar na segunda-feira, ela ficou em casa esperando o técnico para instalar a TV a cabo. Quando o homem encerrou o serviço, gritou da sala: - Madame, acabei. Assina a nota pra mim, por favor? Ela apareceu nua no corredor e com um olhar de odalisca no cio, aproximou-se do técnico, puxando-o pelo braço: - Me come agora. Fiquei tarada por você! ME COME. Depois da primeira vez, Leninha queria sexo todos os dias. Ia pra cama até com os vizinhos casados. Seduzia-os. Provocava-os. Tornou-se o terror da vizinhança. O comentário nas reuniões de condomínio. Quando passava pela rua era agredida verbalmente pelas mal-amadas. Iradas com a postura leviana de Leninha, as vizinhas reuniram-se e procuraram Jorge Antonio. Queixaram-se chorosas. Ele ouviu as reclamações, deu um sorriso de corno e defendeu a esposa adúltera: - Quanta maldade na cabeça de vocês. Leninha é apenas uma mulher interativa e excelente esposa. Tô pra ver mulher igual. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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