Marcondes andava de um lado para o outro na sala, quando Dorinha apareceu: - Não... não... não. Pode mudar de roupa. Você não vai com esse vestido. - Por quê? Qual o problema? - Curto demais. Indecente! - Não se garante? - Você está parecendo uma piranha. - Vai me ofender agora? - O problema não é esse. Olha pra mim. - Tô olhando. - Você acha que eu tenho cara de corno? - Não! Se tivesse, não teria me casado com você. - Então troca de roupa. Não posso ir à festa de aniversário do meu chefe e apresentar minha esposa vestida com essa coisa indecente. - O vestido é novo. Foi caríssimo. Aliás, comprei no seu cartão de crédito. Qual o problema? - Vão me chamar de corno. Suas pernas estão de fora e se eu chegar na festa com você vestida assim, na segunda-feira, vou ser a atração do escritório. - Minhas pernas são feias? - Não. Sabe que gosto das suas coxas grossas. O problema é que os meus colegas de trabalho também vão gostar. - Deveria ser motivo de orgulho. Seria melhor se eu tivesse dois cambitos? - Ficaria mais tranqüilo. Ninguém olharia para as suas pernas. - Não vou trocar de roupa por causa da sua insegurança, Marcondes. Ou vou com esse vestido ou então, não vou. - Dorinha, não posso faltar à festa do meu chefe. Troca de roupa, por favor, você está muito provocante. Não quero ser vítima de comentários maldosos. - Não adianta. Não vou trocar. Não se garante? - Você é surda? Já expliquei o motivo. Não sei qual será minha reação se alguém falar da sua roupa, ou comentar sobre as suas pernas. Será que não entende? - Seu chefe pode gostar e te dar um aumento, quem sabe? - Não gostei da piada. A hora tá passando, anda, muda de roupa. - Nada feito. - É a sua última palavra? - É. Ou vou com o vestido ou não vou. - Então vou sozinho. - Vai!? - É o jeito. Não se importa? - Fazer o quê? Não vou me render aos seus caprichos. Fico em casa. - Prefiro assim. Não vou tolerar que falem das suas pernas e me chamem de corno. - Tá bom, se você quer assim. – Dorinha fez biquinho - Vou colocar minha camisolinha, pegar um pote de sorvete e assistir um filminho. - Jura que não fica zangada comigo? - Juro. Só não me peça para trocar de roupa. Ou me aceita como sou ou não temos acordo. - Sempre aceitei você como é. E com certeza, você nunca foi de colocar roupas indecentes. - Mudei. As pessoas mudam. - Não gostei da sua mudança. - Paciência. Fico em casa. - Espero que você me entenda. Não posso faltar. Preciso fazer uma média com o chefe. - Tudo bem. Pode ir. - Não vai trocar de roupa? É a sua última palavra? - É. Dorinha pegou uma lixa na gaveta e começou a lixar as unhas sem olhar para o marido. Marcondes deu um beijo no rosto da esposa e saiu apressado. Assim que o marido foi embora, Dorinha ligou para Nogberto, o novo vizinho, professor de Educação Física. - Nog, sou eu, sua vizinha do quarto andar! Meu marido não está. Dá para você vir aqui em casa me ajudar a fazer umas abdominais? - Opa, é pra já! Vou levar uns brinquedinhos para ajudar nos exercícios. - Quando você chegar, é só empurrar a porta. – riu excitada. Dorinha desligou o telefone, tirou o vestido, pegou um copo de vinho e recostou-se no sofá. Em seguida, cruzou as pernas, revirou os olhos e com ar sonhador pensou alto: - Os homens são uns tolos. Adoram ser enganados. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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