Madame Gertrudes confirmou: - Tem que ser cueca. - Mas como vou conseguir? - Dá seu jeito. Ou então não vai ter o que deseja. - E tem que ser usada? - De preferência a cueca que ele estiver usando na hora H. Leninha saiu da cartomante pensativa. Desde que Rosalvo terminou o namoro, não conseguia dormir, nem comer. No trabalho já levara uma advertência e no início da semana Seu Almeida ameaçou-a com demissão. - Ou presta atenção no serviço ou procuro outra pessoa para ficar no seu lugar! Convivendo com o desespero de Leninha, a secretária do gerente indicou-lhe Madame Gertrudes. - Deu certo comigo. Ela faz a pessoa amada voltar em uma semana. - Jura? - Juro. Se fizer direitinho o que ela pedir, Rosalvo volta. Não tem erro. No ônibus, retornando pra casa, pensava, sonhadora, em uma maneira de pegar a cueca do ex-namorado. Depois do jantar ligou pra amiga e confidente. - Amanhã, depois do trabalho, passo na sua casa. Precisamos conversar. - O que você aprontou? - Tenho que contar pessoalmente. Até amanhã, Taty. Castigada pela ansiedade, não dormiu direito. Acordou cheia de dor no corpo, mas feliz. Finalmente encontrara uma maneira de ter a cueca para fazer a amarração recomendada por Madame Gertrudes. Trabalhou empolgada. Seu Almeida notou a mudança e comentou: - Não sei que bicho mordeu você, Leninha, mas sinto que hoje seu trabalho está rendendo. Cinco da tarde bateu o ponto e foi direto pra casa da amiga. Taty esperava-a curiosa. - Passei o dia na maior expectativa pra saber o que você quer me contar. - Adivinha? - Se eu tivesse bola de cristal, estaria rica, queridinha. Fala logo. Deixa de suspense. - Achei uma maneira de Rosalvo voltar pra mim. - Pensei que você já tivesse desencanado. Ele não vai voltar pra você. Esquece o cara. - Como é que você sabe? Fui numa cartomante. - Sim e daí? O que ela lhe falou? - Vou fazer um trabalho para trazer o Rosalvo de volta em uma semana. - E você acreditou? - Se fizer direitinho vai dar certo. Tenho que tentar. E vou precisar de você. - DE MIM? - Sim. Preciso de uma cueca do Rosalvo. - E o que eu tenho a ver com isso? - Adivinha novamente?! - Menor idéia. - Você vai pegar a cueca. - Como? Entrando na casa dele e roubando? - Nada disso. Tem que ser cueca usada. Você vai seduzi-lo e transar com ele. - Pirou? O cara era seu namorado. Você ainda gosta dele. - Eu sei. Mas ele não quer mais ir pra cama comigo. Nem atende minhas ligações. - E vai comigo? - Mulher quando quer, consegue. Inventa uma desculpa. Liga pra ele, coloca um vestido sensual e seduza-o. - E vai dar certo? - Claro. Rosalvo é galinha. - Éeeeeee? - É e com certeza está ciscando em outro terreiro. Mas vou cortar isso. Quando a cueca estiver na minha mão, amarro ele de vez. - É arriscado. - Que risco você corre? - Tá bom amiga, já que insiste, farei um esforço porque gosto muito de você. - Então vamos ligar pra ele agora e marcamos logo o encontro. Tô ansiosa. - Deixa comigo. - Tô ligando. Toma, tá chamando. Fala com ele. Combinaram para o dia seguinte. Leninha comemorou. - Não disse que seria fácil? No sábado Leninha foi pra casa de Taty ajudá-la a vestir-se. - Vai com esse vestido. Tá lindo! Ele gosta de roupas decotadas. Leninha levou Taty até a porta: - Espero-a aqui na sua casa. Quero logo a cueca na minha mão. - E se eu voltar só amanhã de manhã? – perguntou, sem graça. - Voltando com a cueca, tá tudo certo. Despediram-se. Com o coração esperançoso das apaixonadas, deitou-se na cama da amiga, acreditando ter encontrado o caminho para a felicidade. Assim que Taty se sentou no banco do carona, Rosalvo entregou-lhe um embrulho. - Trouxe a cueca usada que você me pediu. Pode me explicar direito pra quê isso? - A Leninha. - O que tem a Leninha? Aprontou com você? - Foi a uma cartomante e... - E o quê? O que tem minha cueca a ver com isso? - Recomendaram um trabalhado de amarração com a sua cueca. Ela pediu para eu ajudar. Coitada. - Você ainda não contou que estamos namorando? - Tá doido? Ela me mata! Deixa como está. Rosalvo balançou a cabeça negativamente: - Mulheres! Antes de dar a partida no carro, colocou um CD da Adriana Calcanhoto. Em seguida, fez um cafuné em Taty e disse, com voz aveludada: - Viu como me preocupo com você? Comprei o CD da sua cantora favorita. - Te amo, Rô. - Eu também. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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