- Atira se você é homem! - Vou atirar, não duvida de mim. - Atira aqui ó, no meio da testa. - Genilda, você está brincando com a verdade. Vou atirar! - Anda! Atira! Jorge Antonio deu um tiro pro alto, jogou a arma no chão, sentou na beira da cama e começou a chorar igual a uma criança. - Sou um merda! Nem coragem para atirar em você eu tenho. - A culpa é do seu amigo que fica me caluniando. - Por que ele faria isso? - Inveja. - Ele me garantiu que viu você na garagem com o Egberto, do nono andar. - Mentira! Nunca traí você! Arrependido, Jorge Antonio ajoelhou-se diante da mulher. - Me perdoa?! Nunca mais eu faço isso. Juro. Perdi a cabeça. Perdoa?! Ela o empurrou com os pés e fez dengo com a voz. - Só perdôo se você fizer uma coisa. Uma coisinha só! - Fala, moreco, diz que eu faço! Tudo o que você quiser. - Quero uma televisão nova. - Vou comprar. A melhor da loja. A maior! Fizeram as pazes. Passaram a noite entre risadinhas e beliscões. Depois do café, Jorge Antonio saiu para o trabalho e Genilda foi até o apartamento de Getúlio. Quando ele abriu a porta, ela entrou decidida. - O que você tinha que contar para o Jorge Antonio que me viu na garagem? - Ei, calminha, aí! Convidei você pra entrar? Pode saindo. - Nada disso. Estou aqui porque você se meteu na minha vida. - Sou amigo do Jorge Antonio e tinha que contar que a mulher dele tava de sacanagem com outro. Os homens são unidos. Um por todos, todos por um – disse, debochado. Genilda mudou de estratégia. Molhou os lábios, levantou o vestido e jogou: - O que eu preciso fazer para você desmentir essa história? - Quê isso! O Jorge Antonio vai ficar furioso comigo. Sou homem de palavra. - Diz que foi uma brincadeira. Uma aposta. Sei lá. Tá com medo dele? – provocou. - E eu lá tenho medo de homem?! - Então, o que você quer que eu faça pra você desmentir? - Vai fazer? Tem certeza? O que eu pedir? - Faço! - Então vem cá. Genilda saiu da casa do vizinho com voz mansa e sorriso nos lábios. - Confio em você. - Deixa comigo – disse, sem muita convicção. A mulher ganhou a televisão, mas Jorge Antonio tornou-se um homem desconfiado. Quando encontrava Egberto no elevador, comentava, enciumado: - Não posso imaginar você com esse cara. Jura que nunca houve nada entre vocês? - Juro. Getúlio tava brincando e você, ingênuo, caiu na brincadeira. Pergunta pra ele. Perguntou. O amigo não desmentiu, ao contrário, fez suspense, deixando-o mais intrigado. Genilda ficou furiosa com o cinismo de Getúlio. Encontraram-se no elevador. Sentindo-se enganada, cobrou: - Combinei com você uma coisa e você não cumpriu. Jorge Antonio continua desconfiado. Corno teimoso é fogo! Custava ter desmentido? Getúlio pigarreou, passou a mão pelos cabelos e ajeitou a camisa. - Não me vendo tão fácil. Pra desmentir, quero mais. O elevador chegou no térreo. Genilda fez cara de nojo e ameaçou: - Chantagista de merda. VOCÊ VAI ME PAGAR! Ao invés de ir ao supermercado, procurou Egberto no trabalho. - Preciso muito falar com você. - Aqui? - É urgente. Sabe o amigo do Jorge Antonio? O Getúlio? - Sei, aquele bêbado que mora no quarto andar? - Isso. Ele nos viu na garagem e disse que vai contar para o Jorge Antonio. Se contar, meu marido mata você. - Duvido. Conta nada. Ele não tem prova. Será a palavra dele contra a nossa. - Me mostrou as fotos que tirou no celular – mentiu. - Jura? - Juro. Ameaçou mostrar pra todo mundo na próxima reunião de condomínio. Imagina o escândalo? Sua candidatura para síndico vai escorrer pelo ralo. - Que pilantra! Vou bater um papo com ele. Deixa comigo. - Vai preparado. Ele é violento. Vou marcar o encontro pra hoje, às oito, na garagem. Voltou pra casa com um sorriso maquiavélico e ligou para Getúlio: - Sabe a proposta do elevador? Eu topo. Hoje á noite. Espero você na garagem. Genilda jantou, lavou a louça e comentou com Jorge Antonio: - Vou no apartamento da Maria do Carmo. Volto logo. - Não vai ver a novela? - Dá tempo, em vinte minutos estou de volta. Chegou na garagem sete e quarenta. Getúlio foi pontual. Beijaram-se. Genilda correspondeu, mas assim que viu Egberto, começou a gritar: - Além de fofoqueiro, é tarado! Me larga. Socorro! Me dá o celular. Egberto aproximou-se aos berros: - Larga ela! Anda! Passa o celular! Quero as fotos! Getúlio arregalou os olhos e empurrou Genilda. - Que fotos?! O que é que você está fazendo aqui? Iniciaram uma violenta discussão. Genilda chamou o porteiro: - Corre, Seu Amarildo! Corre! Dois moradores estão brigando na garagem. Chegaram a tempo de ver Egberto dar o terceiro tiro no peito de Getúlio. Confusão. Gritaria. Os moradores do condomínio apareceram atraídos pela tragédia. Genilda chorava, histérica. Um choro falso, de cinema. - Eu vi tudo! O Egberto é um maníaco tarado! Assassino! Atordoado, Jorge Antonio apareceu e levou Genilda com ele. No apartamento, perguntou, desconfiado: - Posso saber o que você fazia na garagem? - Quer saber? Tem certeza? Aproximou-se sensualmente e puxou o marido pela camisa. - Posso pedir uma coisa? Uma coisinha só? – fez charme. - O que você quiser – desmontou. - Me ameaça com a arma novamente? Naquele dia você me deixou com tesão! Jorge Antonio deu um riso tímido e correu desajeitado até o armário. Nota do Editor: Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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