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Contos
08/09/2008 - 13h01
Um dia difícil na vida de Guiomar
Celamar Maione
 

Guiomar entrou no barzinho mancando, por causa do salto quebrado, pediu uma mesa e chamou o garçom:
- Um chope bem gelado! Sem colarinho, por favor.
Dez minutos depois, Helena chega e espanta-se:
- Bebendo? Que milagre! Você não é de beber.
- Mas hoje, só bebendo mesmo...
- O que houve?
- Quem pergunta sou eu. Seus olhos estão vermelhos e chorava quando me ligou.
- Chorei o dia todo. Mas você também não está legal. O que aconteceu, Guiomar?
- Fui demitida.
- Hoje?
- Logo depois que você me ligou fui chamada na gerência.
- Nossa! Então deixa. Conversamos outro dia.
- Nada. Fala, o que é? Você parecia aflita no telefone. Emprego a gente arruma outro. Fala?!
- Não vai haver mais casamento!
- Não?! Por quê?
- Terminei com Geraldo.
- O que aconteceu?
- Me traiu.
- Como? Conta logo.
- Ontem fui buscá-lo na academia de surpresa e eu o vi saindo com a professora de musculação. Entraram no carro dela e foram para um motel.
- E aí, o que você fez?
- Fui esperá-lo na casa dele. Quando chegou, terminei tudo.
- E ele?
- Chorou e me disse que era só sexo e tesão, coisa de momento e que me amava!
- Homem é tudo igual. Falam a mesma coisa: é tesão. Pele. E com esse papo, colocam uma galhada atrás da outra na nossa cabeça.
- Se fosse com você, Guiomar? O que você faria? Perdoava?
- A vida é sua, eu não quero dar opinião.
- Perdoava ou não?
- Me deixa fora disso!
- Você é ou não é minha amiga? Preciso de uma opinião. Perdoava?
- Não!
- Por que?
- Quem apronta uma, apronta mil. Se antes de casar tá assim, depois do casamento você é séria candidata a andar com um pinheiro na cabeça. Aconteceu comigo e eu não perdoei. Você sabe.
- Então também não vou perdoar!
- Você é quem deve decidir, não me envolve em confusão!
- Não vou perdoar! Você tem razão.

O celular de Helena toca. Ela olha o número e sorri :
- É ele!
- Atende!
- Não sei... é a quinta vez que liga hoje. Ainda não atendi. Vou esperar mais.
- Atende logo!

Atendeu secamente. Aos poucos, o tom de voz suavizou. Desligou e deu um sorriso sem graça:
- Vem me pegar. Disse que precisamos conversar.
- Acho melhor.
- E se ele quiser voltar?
- Você é quem sabe. Acho o Geraldo um cara legal. Vou ser a madrinha do casamento. Torço por vocês.
- Mas dá sua opinião. Volto ou não volto?
- Sei lá.
- Fala: SIM OU NÃO?
- Bom... se fosse eu, não voltava.

Meia hora depois Geraldo chegou. Chamou Helena da calçada. Conversaram encostados no carro. Guiomar viu a amiga gesticular. Geraldo colocou as mãos no rosto. Parecia chorar. Helena abraçou-o. Beijaram-se longamente. Voltaram para o barzinho trocando carícias.
- Vim pegar minha bolsa, nós já vamos.

Depois, olhou para o futuro marido e falou, com voz ressentida:
- Acredita que a Guiomar não queria que eu perdoasse você?
Guiomar se defendeu:
- Eu? Nunca disse isso.
- Disse, sim. Você achou que eu não devia perdoar o deslize dele.
- Não foi bem assim. Você pediu minha opinião. Eu dei. Mas cada um faz o que quer.
- Você é uma grande invejosa. Só porque tá sozinha, quer estragar o casamento das amigas.

Guiomar ficou sem ação. Helena falava sem parar. Sentia-se a mulher mais ofendida do mundo. Irritada, pegou a bolsa e finalizou o monólogo:
- E sabe do que mais? Vou arrumar outra madrinha para o meu casamento. Passar bem.

Puxou Geraldo e foi embora pisando firme. Guiomar pagou a conta e saiu do bar com os sentimentos em ebulição: “Não aprendo mesmo” – pensou. “As mulheres são capazes de tudo por causa de uma trepadinha, mesmo que seja mal dada”.

Distraída, mancando e com uma sandália na mão, pegava a chave do carro, quando um homem bonito, alto e musculoso, quase a derrubou. Educadamente, ajudou-a a equilibrar-se, segurando-a com mãos firmes. Guiomar suspirou iludida. Ele olhou dentro dos olhos dela, deu um sorriso acolhedor e falou, com voz afetada:
- Perdão, minha linda! Estou correndo para encontrar meu bofe! Tchauzinho.

Partiu, deixando um rasto de perfume no ar. O perfume preferido de Guiomar.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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