Guiomar entrou no barzinho mancando, por causa do salto quebrado, pediu uma mesa e chamou o garçom: - Um chope bem gelado! Sem colarinho, por favor. Dez minutos depois, Helena chega e espanta-se: - Bebendo? Que milagre! Você não é de beber. - Mas hoje, só bebendo mesmo... - O que houve? - Quem pergunta sou eu. Seus olhos estão vermelhos e chorava quando me ligou. - Chorei o dia todo. Mas você também não está legal. O que aconteceu, Guiomar? - Fui demitida. - Hoje? - Logo depois que você me ligou fui chamada na gerência. - Nossa! Então deixa. Conversamos outro dia. - Nada. Fala, o que é? Você parecia aflita no telefone. Emprego a gente arruma outro. Fala?! - Não vai haver mais casamento! - Não?! Por quê? - Terminei com Geraldo. - O que aconteceu? - Me traiu. - Como? Conta logo. - Ontem fui buscá-lo na academia de surpresa e eu o vi saindo com a professora de musculação. Entraram no carro dela e foram para um motel. - E aí, o que você fez? - Fui esperá-lo na casa dele. Quando chegou, terminei tudo. - E ele? - Chorou e me disse que era só sexo e tesão, coisa de momento e que me amava! - Homem é tudo igual. Falam a mesma coisa: é tesão. Pele. E com esse papo, colocam uma galhada atrás da outra na nossa cabeça. - Se fosse com você, Guiomar? O que você faria? Perdoava? - A vida é sua, eu não quero dar opinião. - Perdoava ou não? - Me deixa fora disso! - Você é ou não é minha amiga? Preciso de uma opinião. Perdoava? - Não! - Por que? - Quem apronta uma, apronta mil. Se antes de casar tá assim, depois do casamento você é séria candidata a andar com um pinheiro na cabeça. Aconteceu comigo e eu não perdoei. Você sabe. - Então também não vou perdoar! - Você é quem deve decidir, não me envolve em confusão! - Não vou perdoar! Você tem razão. O celular de Helena toca. Ela olha o número e sorri : - É ele! - Atende! - Não sei... é a quinta vez que liga hoje. Ainda não atendi. Vou esperar mais. - Atende logo! Atendeu secamente. Aos poucos, o tom de voz suavizou. Desligou e deu um sorriso sem graça: - Vem me pegar. Disse que precisamos conversar. - Acho melhor. - E se ele quiser voltar? - Você é quem sabe. Acho o Geraldo um cara legal. Vou ser a madrinha do casamento. Torço por vocês. - Mas dá sua opinião. Volto ou não volto? - Sei lá. - Fala: SIM OU NÃO? - Bom... se fosse eu, não voltava. Meia hora depois Geraldo chegou. Chamou Helena da calçada. Conversaram encostados no carro. Guiomar viu a amiga gesticular. Geraldo colocou as mãos no rosto. Parecia chorar. Helena abraçou-o. Beijaram-se longamente. Voltaram para o barzinho trocando carícias. - Vim pegar minha bolsa, nós já vamos. Depois, olhou para o futuro marido e falou, com voz ressentida: - Acredita que a Guiomar não queria que eu perdoasse você? Guiomar se defendeu: - Eu? Nunca disse isso. - Disse, sim. Você achou que eu não devia perdoar o deslize dele. - Não foi bem assim. Você pediu minha opinião. Eu dei. Mas cada um faz o que quer. - Você é uma grande invejosa. Só porque tá sozinha, quer estragar o casamento das amigas. Guiomar ficou sem ação. Helena falava sem parar. Sentia-se a mulher mais ofendida do mundo. Irritada, pegou a bolsa e finalizou o monólogo: - E sabe do que mais? Vou arrumar outra madrinha para o meu casamento. Passar bem. Puxou Geraldo e foi embora pisando firme. Guiomar pagou a conta e saiu do bar com os sentimentos em ebulição: “Não aprendo mesmo” – pensou. “As mulheres são capazes de tudo por causa de uma trepadinha, mesmo que seja mal dada”. Distraída, mancando e com uma sandália na mão, pegava a chave do carro, quando um homem bonito, alto e musculoso, quase a derrubou. Educadamente, ajudou-a a equilibrar-se, segurando-a com mãos firmes. Guiomar suspirou iludida. Ele olhou dentro dos olhos dela, deu um sorriso acolhedor e falou, com voz afetada: - Perdão, minha linda! Estou correndo para encontrar meu bofe! Tchauzinho. Partiu, deixando um rasto de perfume no ar. O perfume preferido de Guiomar. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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