“A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos”. (Freud) Sou sangue quente, sexólatra e acho que toda mulher é sonsa. Trauma de infância. Eu tinha dez anos quando cheguei mais cedo do colégio e encontrei minha mãe na cama com o porteiro. Furioso, peguei a arma do meu pai em cima da cômoda e atirei. Os tiros acertaram a parede. Minha mãe se aproximou berrando e arrancou a arma da minha mão. O porteiro saiu vestindo as calças e eu gritei, horrorizado: - Você é uma puta, mãe! Traindo meu pai logo com o Seu Antonio?! - Não se mete em coisa de adulto. Você ainda é muito criança para entender. - Eu sei muito bem o que vocês estavam fazendo. Vou contar para o meu pai! - Se você contar, eu fujo de casa. Quem é que vai fazer seu almoço? - Ah é? E você, vai viver de quê? De sexo? – mandei, irado. Ela me deu um tapão na cara que me deixou zonzo. Trincando os dentes, puxou-me pelas orelhas e saiu gritando pela casa: - Você vai ficar caladinho. Se pronunciar uma palavra do que viu, lhe enfio a porrada. - Pode me bater, mas eu vou contar pro meu pai. - Seu pai é um broxa, não consegue satisfazer uma mulher fogosa como eu. Quando você crescer vai entender o que é isso. Me tranquei no quarto e me masturbei pela primeira vez. Chorava e me masturbava. Nunca contei nada pro meu pai. Eu e minha mãe não tocamos mais no assunto. Quando meu pai chegava do trabalho, com bombons, para agradá-la, eu ficava triste: - Por que será que todo corno é cego? Dia de domingo, quando íamos almoçar na casa dos meus avós e a família saía reunida, eu tinha a impressão de que na vizinhança todos sabiam do caso de mamãe com o porteiro. Me sentia uma ameba. Tornei-me um adolescente tímido, desconfiado e violento. Volta e meia chegava em casa arranhado. Apanhava e batia. Descontava a raiva no banheiro, me masturbando com foto de mulher pelada. Transei pela primeira vez aos dezessete anos, com uma colega de sala na faculdade. Ela era bem vagabundinha. Deu em cima de mim no primeiro dia de aula. Eu sentia prazer em esnobá-la. Numa sexta-feira, na hora da saída, me pegou á força no banheiro masculino e desafiou: - Se você não me comer agora, vou espalhar pra todo mundo que você é viado! A transa foi selvagem. Eu gritava que ela era vagabunda, mordia-lhe o pescoço e quanto mais maltratava, mais ela gostava. A imagem da minha mãe fodendo me veio á cabeça. Meu sangue ferveu. Dei-lhe um tapa na cara com toda força. Ela delirou: - Bate mais, taradão! Bate mais. Com força. Vai! Deixei a vagabunda roxa. No dia seguinte tranquei a matrícula. Nunca mais vi a vadia. Ela foi a primeira de muitas outras. Até hoje, tenho vontade de vomitar quando penso nela gritando igual gata de boteco, no cio. Desconto no sexo meu desprezo pelas mulheres. Nunca escolhi idade, religião, altura, cor e nem estado civil. Basta olhar e já como em pensamento. Minhas amigas massageiam meu ego. Adoram ir pra cama comigo. Nunca paguei por sexo. Atraio mulheres. Elas se oferecem. Jogam indiretas. Fazem de tudo para chamar minha atenção. Só tem um detalhe: gosto de maltratar. Todas viram vagaba nas minhas mãos. Me excita transar dando tapa na cara, beliscando e quando a trepada esquenta, tiro sangue. Assim que é bom. Mulher tem que ser esculachada na hora do sexo. Detesto mulher puritana, metida a moralista. As mais fogosas me chamam de tarado. Amo. As mais tolas me acham anormal. O que é ser anormal? Se você aceita, nada é anormal. Anormal é não fazer o que se gosta. Mesmo que cause dor. A dor é sublime. Adoro transformar sexo em filme pornográfico de quinta. Nunca tive namoradas. Só amiguinhas. Namoro acaba virando compromisso. Para se desvencilhar depois dá trabalho. Muitas amiguinhas especiais aceitam uma segunda mulher na cama. A vida só vale a pena quando satisfazemos nossos desejos. O ser humano completo é o que tem coragem de realizar suas fantasias. Elas acreditam nas minhas teorias. Sou mesmo é muito filho da puta, criativo, sedutor e às vezes, me faço de coitadinho. Elas enlouquecem. Puro instinto maternal. Me viro com duas, três amigas ao mesmo tempo. Até na mesma festa. Mulheres adoram ser enganadas. Manipulo-as bem. Mexo com a sanidade delas. Confundo-as. Dá certo. Às vezes termino a noite com duas, três, na cama. Sexo é vital. Necessidade. Gozo pensando no próximo gozo. Já transei em cama de hospital, banheiro de avião, banco de igreja, feira de artesanato, festinha de criança. Cheguei aos quarenta, solteiro, tarado e seria feliz se a Marly não aparecesse na minha vida. Quem me fodeu foi ela. Coleguinha de infância que reencontrei na rua. Declarou-se como uma loba no cio. Peguei. Saímos quatro vezes. Quando percebi que estava apaixonada, deixei de procurá-la e não atendi suas ligações. Ela passou a me perseguir. Mulher obsessiva é uma merda. Nunca desiste. Dei de cara com ela num churrasco, na casa de um amigo. Fingi que não a vi. Mas quando abracei uma amiga gostosona, ela se aproximou com os lábios trêmulos, segurando um copo de cerveja e enfiou o dedo na minha cara: - Sabe o que você é? Um doente mental! Sacaneia as mulheres para se vingar da sua mãe. Tô sabendo. - Marly, cala a boca! Nunca lhe prometi nada. Se iludiu à toa. Olha o escândalo. - Você sabia que eu tava apaixonada e me usou. Só porque sua mãe é uma puta, você acha que toda mulher é puta também? - MARLY, CALA A BOCA!!! - Vai me bater por acaso? Além de filho da puta, é covarde? - Sai daqui, tô perdendo a cabeça. Pára de falar merda! - Você é um canalha. Quem sabe da sua vida é meu tio Antonio. Lembra dele? Ensandeci. Passei a mão no espeto largado na churrasqueira. O barulho de chave me fez pular da cama. O carcereiro abriu a cela. Hora da consulta com a psicóloga. Sorri ironicamente e escondi o canivete na cueca. Preciso de sexo. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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