Renan e Moreira voltavam do almoço, quando na altura da Rua de Sete de Setembro, Moreira vira-se para o amigo e diz:
- Tá vendo aquela loira entrando no prédio que a gente trabalha?
- Claro. Que avião! Avião, não, um Boeing 777!
- Vou levar esta loira pra cama!
- E se for casada?
- São as melhores! Geralmente os maridos não dão atenção e elas ficam carentes, vulneráveis. E aí entra o Moreirinha aqui pra resolver a situação.
- E você acha que ela tem cara de querer cornear o marido?
- Se já não corneou. Marido gosta de ser corno. Aliás, é o sonho inconfessável de todo homem.

Renan balança a cabeça.
- Você e essas idéias esquisitas. Chega de papo. Estamos em cima da hora. Tenho que acabar o relatório ainda hoje.
 
No final do expediente, Moreira e a loira descem no mesmo elevador. Ele puxa conversa, mas não há receptividade. No dia seguinte, comenta com Renan:
- ...Acredita que ela não me respondeu?
- Deve ser bem casada e não dá confiança para qualquer um.
- Em que planeta você vive?! Toda mulher, casada ou não, tem uma puta dentro de si prestes a explodir! Escreve o que digo. Já tive mais de 10 amantes.
- Fala baixo. Se a mulherada aqui no escritório escuta vai ser polêmica para uma semana.

Empolgado, Moreira continua o discurso. Seu Inocêncio, que tirava o pó dos móveis, também ouve atentamente.
- Aprende uma coisa: toda mulher foi, é ou vai ser puta. Questão de tempo. Não falha.

Seu Inocêncio se mete na conversa.
- Duvido. A Izolina é uma santa. Vai à igreja todo dia. Não gosta nem de transar. Diz que sexo é pecado.
Moreira fala no ouvido de Renan:
- São as piores! Já fiquei com uma beata! Adorava ir à missa para arrumar homem!

Na hora do almoço, Moreira e Renan entram no restaurante e encontram a loira que trabalhava no prédio, almoçando sozinha. Moreira resolve arriscar. E fala com Renan:
- Vou ficar na mesa com ela. Vem comigo?
- Não. Fico de longe observando.

Moreira pede licença e senta-se, puxando conversa. Cinco minutos depois, estão à vontade. Moreira chega mais perto e entrega-lhe um cartão. Se despedem. Ela vai embora, sorrindo. Moreira estufa o peito, levanta-se e vai até Renan. Com ar de vencedor, fala para o amigo:
- O nome dela é Elisa. Casada. Do jeito que eu gosto!
- Outra amante?
- Te digo: as casadas são as melhores. Não cobram compromisso e deixam meu final de semana livre para o futebol e a cerveja. Sexo sem compromisso é o que há de melhor.
- Cada um com suas esquisitices. Eu ainda prefiro ficar com a Neivinha no final de semana.
- Pensamento fora de moda! Acredita em mim: mulher casada só dá prazer.

Uma semana depois, Moreira chega assobiando no escritório e conta ao amigo que saiu para conversar com Elisa. Logo, tornam-se amantes. Moreira inventa serviço de rua e passa algumas tardes no motel. Renan encarna:
- Eu acho que você está apaixonado.
- Nunca vou me apaixonar! Confesso que a Elisa é ótima de cama e só. Apenas sexo.

Moreira só não contava que Elisa se apaixonaria por ele. Era um ótimo amante. Conhecia a alma romântica das mulheres. Eram presentes fora de hora, torpedos no meio da tarde, rosas no trabalho, cartões virtuais. Além de bom ouvinte, virava, muitas vezes, poeta. Ao contrário do marido, que não tinha tempo para ela e já se acomodara a rotina do casamento. Seduzida por Moreira, Elisa toma uma decisão e, com o coração aos pulos, comunica ao amante:
- Vou me separar.
- O quê?
- Não está feliz?

Moreira interrompe Elisa e diz que o momento não é apropriado. Ela se ofende.
- Você gosta de mim na cama?
- Adoro!
- Sou bonita?
- Linda!
- Então não existe razão para esperar. Vamos aproveitar o que a vida tem de melhor!

Assustado com a decisão da amante, Moreira desabafa com o fiel amigo Renan:
- ...E agora estou metido nesta enrascada.
- Não quer ficar com ela?
- Só como amante.

Moreira não vê mais futuro na relação de amante e toma uma solução. Ele sabe que seu fetiche são as mulheres casadas. Se Elisa deixar o marido não será mais excitante. Resolve, então, mentir para colocar um fim na relação:
- Não quero que você se separe. Sou casado também.
- O quê? Nunca me disse nada, seu cafajeste!
- Nunca precisei. Você é casada.

Num gesto de raiva, Elisa pega o copo cheio de chope que estava em suas mãos e joga no rosto de Moreira.
- Vigarista! Nunca mais quero olhar para essa cara sem-vergonha!

Moreira não perde a pose e nem o cinismo.
- Só quis ser sincero...

Um mês depois, se empolga com a nova contadora que chega ao escritório. Logo, faz amizade e quando saem para almoçar, pergunta, procurando intimidade:
- Você é casada Regininha?
- Sou e vou logo avisando: amo meu marido.

Moreira dá um sorriso sedutor e fica excitado.

Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.