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Contos
09/06/2008 - 08h25
Desejos masculinos
Celamar Maione
 

(Conto inspirado na crônica “Ele” de Evelyne Furtado)

Há quinze anos, todo domingo é a mesma coisa. Santa acorda cedo e prepara um café da manhã especial. Depois me desperta com um beijo e chama os meninos. Os dois saem da cama sonolentos. Santa faz questão de reunir a família antes da missa. Confesso que cansei do ritual. Enquanto ela coloca o café com leite das crianças, me distraio imaginando-a numa calcinha vermelha indecente. Não desperta mais o meu tesão. Você vai pensar que não amo Santa. Amo. É a mãe dos meus filhos. Minha companheira. Mas homem não nasceu para ter apenas uma mulher. Homem é predador.

Tem dias que sinto uma inquietude sexual tão grande, que nem o trabalho me realiza. Fidelidade é coisa de religião para manipular nossos desejos. Mesmo assim, casei jurando que seria fiel. Só que a tentação é grande. As mulheres são carentes e eu sou um bom administrador de carências. A primeira carente me apareceu com dois meses de casado. Fiquei mais devagar durante a gravidez de Santa.

Quando o meu caçula fez dois anos, uma morena, esposa de um cliente, mexeu com os meus testículos. Santa quase descobriu. Com medo de destruir minha família, sumi sem dar explicação. Porém, como todo macho que se preza, traio por compulsão. Gozar rejuvenesce. Arrisco estabilidade por uma trepada. E olha que tenho quase tudo para me sentir realizado. Só preciso de uma amante fixa para acabar com o vazio que me acompanha ultimamente. Pensei como resolver o problema e mirei um alvo: Inês. Minha nova secretária. Peitos durinhos, cintura roliça e voz de veludo.

Bem-intencionado, fui trabalhar na segunda-feira pronto para a caça. Preparei o terreno. Parecia um tigre em época de acasalamento. Depois de duas semanas, dei o bote convidando-a para um almoço executivo. Aqueles olhinhos verdes e sorridentes pediam há tempos para eu devorá-los por inteiro. Foi melhor do que eu pensava. Nada como uma amante vinte anos mais jovem. Chegava no trabalho disposto. Encontrava uma Inês sonhadora. Me empolguei demais e dei uma de amador. Acabei deixando rastro.

Quando cheguei em casa tarde, numa quinta-feira chuvosa, Santa me esperava com uma caixinha de jóias na mão:
- Quer dizer que você ia dar um anel de presente para sua amante? O entregador se enganou de casa. Juro, nunca pensei que você chegaria a esse ponto.
Como bom profissional da infidelidade, mantive o equilíbrio. Nestas horas, cara-de-pau é essencial. Menti. Contei a primeira história fantasiosa que me veio à mente.
- Presente? Que presente? Do que você está falando? – ganhei tempo.

Ela começou a chorar. Mulher quando chora parte o meu coração. No fundo, sou vítima do cheiro e da sensibilidade feminina. Abracei-a. Ela me acusou:
- Mentiroso! Sempre soube de suas amantes. Só não sabia dos presentinhos.
- Deve haver algum engano.
- Engano nenhum. A letra no cartão é sua. E o nome dela é Inês.
 
Peguei a jóia e fiz cara de quem lembrara de alguma coisa. Depois eu disse que o anel era para a mulher de um amigo. Ele queria brincar com a esposa e me pediu para escrever o cartão. Santa fingiu acreditar. É sempre assim. Minto. Ela engole e tudo volta ao normal. Só que dessa vez, desconfiada, Santa passou a me controlar. Tive que abrir o jogo com Inês:
- Precisamos dar um tempo. Santa descobriu tudo.
- Um bom motivo para pedir a separação.
- Não posso me separar de Santa. Não agora.
- Por quê?
- Ela é cardíaca. Imagina se me separo e ela morre? Como ficam as crianças?
- Vem com papo de homem casado pra cima de mim?
- Duvida? Mostro os exames. Estão aqui na gaveta.
- Não precisa. Vou tentar acreditar em você.
- Você sabe que sou casado. Tem que entender. Minha família está em primeiro lugar.

Passei a ser pressionado pelas duas. Saía cedo do trabalho para fugir da amante e não voltava para casa para não ouvir acusações. Optei por desafogar as mágoas num bar perto do trabalho. Numa dessas saídas conheci Clotilde. Transamos. O sexo foi ótimo e passamos a sair uma vez por mês. Finalmente uma mulher para dividir os bons momentos sem cobrança.

Santa e Inês continuaram me pressionando e resolveram se unir. Tudo aconteceu numa sexta-feira quando voltei do almoço. As duas me esperavam no escritório. Assim que entrei na sala, virei personagem de um filme mexicano. Sorriam sadicamente numa falsidade de dar medo. Me colocaram contra a parede. Deixei-as surtando, virei as costas e fui procurar Clotilde. Nunca fui bom para tomar decisões amorosas. As mulheres são melhores no jogo do amor. Admiro-as.

Elas decidiram por mim. Inês pediu demissão. Santa me colocou pra fora de casa. Mais tarde, soube que Inês arranjou um novo amante. Santa casou-se com um gerente de banco. De vez em quando nos encontramos para uma brincadeira de adulto. Confesso que o sexo ficou mais divertido. Santa aprendeu a usufruir os bons momentos da vida.

Nos finais de semana que estou com meus filhos aparece, sempre, uma amiga gentil para me fazer cafuné e cuidar das crianças. Quando os meninos estão com Santa, não fico sozinho aos sábados. Recebo sempre a visita de amigas dispostas a acabar com a minha solidão. Nem preciso procurar. Aparecem se oferecendo. Virei colecionador de camisolas. Continuo comendo Clotilde casualmente. Rotina nunca mais.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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