Lucineide conversava com Verinha e Marta no aniversário de Tavinho, quando um homem moreno, alto e de corpo atlético caminhou em direção a ela. As amigas comentaram, invejosas: - Nossa, acho que esse colosso vem falar com você! O homem aproximou-se e, sorridente, puxou conversa: - Lembra de mim? Lucineide fez pose, cruzou as pernas e respondeu, arrogante: - Deveria? Ele não se intimidou diante da secura e falou, gentilmente: - Meu nome é Reginaldo. Estudamos juntos no primeiro período do curso de economia, depois eu não sei o que aconteceu, você sumiu. Mudou de curso? Verinha e Marta olhavam para a amiga reprovando-lhe a atitude grosseira. Porém, estranhamente, Lucineide continuou, arrogante: - Mudei, sim. Não gostei dos colegas de turma. E sinceramente, não lembro de você. - Deixa de ser debochada - ele riu e continuou: - Nós conversávamos durante os intervalos e você sempre foi muito brincalhona. - Meu querido, não lembro mesmo - e ignorou-o, abaixando a cabeça. Reginaldo desculpou-se e sem perder a pose, olhou para Verinha e sorriu. - Já que sua amiga não gostou de mim, vamos dançar ou a estou incomodando também? Verinha se atirou nos braços de Reginaldo com os olhos brilhando. Enquanto eles se encaminhavam, de mãos dadas, para a pista de dança, Marta reprovou a atitude de Lucineide: - Não entendi?! O homem é lindo e simpático. Você deveria fingir que se lembrava. - Eu lembro e até paquerava ele! - Então, por que o tratou grosseiramente? Ele ficou sem graça. - Homem tem que ser tratado assim. Imagina se eu ia me abrir toda? Não quero parecer uma mulher fácil. - Você vai me desculpar, você foi muito estúpida e até mal-educada. Espantou o cara. - Queridinha, homem gosta de ser maltratado e pisado. - Não acredito. Quem espalhou isso foi algum gay ou uma mal-amada. Homem saudável gosta de ser bem-tratado. - Que nada! Você vai ver. Está só me provocando. - Não parece. Acho que você dançou. Olha a sintonia dele com Verinha. - Está só me instigando. Logo volta com o mesmo papo e me tira para dançar. - Se eu fosse você não teria tanta certeza - provocou Marta. Enquanto conversavam, a namorada de Tavinho aproximou-se comentando: - Verinha é uma sortuda! Dançando com um dos solteirões mais cobiçados do Rio. - Jura? - instigou Marta. - Vocês não o conhecem? Reginaldo é um bom partido, além de um rico executivo, é solteiro e educadíssimo. O único problema é que viaja muito e fica sem tempo para arranjar namorada. Lucineide ficou intrigada: - Se fosse tão bom assim estaria casado. Deve ser um galinha! - Está enganada. Ele quer namorar sério, é um romântico assumido e com quase 40 anos acredita em relações saudáveis e até em alma-gêmea. Marta deu um sorriso debochado e comentou, maliciosamente: - Pelo jeito encontrou, olha como dança animado com Verinha! Lucineide arrependeu-se da grosseria feita e mordeu os lábios de raiva. Teve vontade de gritar, quando Verinha, sorridente, despediu-se: - Estou indo. Reginaldo me ofereceu uma carona. O casal saiu de mãos dadas, conversando como velhos amigos. Marta virou-se para Lucineide e falou com ar professoral: - É amiga, você dançou. Eu não disse? Despeitada, Lucineide mentiu e disse que ele não lhe interessava. Uma semana depois da festa, ela tentou uma aproximação. Telefonou para Reginaldo desculpando-se e dizendo que lembrara-se dele. Educado, ele agradeceu e falou, com ar vitorioso: - Sabe que você me deu sorte quando não se lembrou de mim? Adorei sua amiga. Lucineide ligou mais três vezes, convidando-o para um café num fim de tarde. Foi dispensada, gentilmente. Deprimiu-se, quando seis meses depois, recebeu o convite de casamento de Verinha e Reginaldo. Nunca mais recusou uma dança. Nem dos parceiros baixinhos, barrigudinhos, sem charme, chatos e com mau-hálito. Quando as amigas comentavam que ela mudara o nível de exigência, Lucineide respondia, tentando convencer a si mesma: - Quem sabe não é minha alma-gêmea? O que importa é a pegada. Numa dança, tudo pode acontecer! Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|