Tarde de sábado com céu encoberto. Depois do almoço, Tavares ligou a televisão e deitou-se no sofá. Assim que se recostou nas almofadas, Marilena apareceu na sala. - O que vamos fazer hoje à noite? - Ficar em casa - respondeu Tavares, sem tirar os olhos da televisão. - Ah não! Trabalho a semana inteira, sábado quero me distrair, nada de ficar em casa. - E o que você sugere? - perguntou Tavares, entediado. - Que tal irmos ao motel? - falou, cheia de expectativa. O marido passou a mão no queixo e antes de responder, moveu os lábios de um lado para o outro. - Mulher tem cada uma! Temos uma cama no quarto onde fazemos tudo o que se faz num motel e de graça. Marilena respirou fundo e deu outra sugestão: - Que tal irmos ao cinema? - Hoje? Fica muito cheio e eu não gosto da turma da pipoca. Aquele saco faz barulho. É pipoca voando na minha cabeça, gente atendendo celular no meio da sessão. Cinema sábado é programa de índio. - Então que tal visitarmos minha irmã? - Nada disso. O clima entre ela e o Aderbal não anda nada bom. Vai sobrar pra gente. - Nossa Tavares, tudo tem problema! Então vamos sair para comer uma pizza?! - Melhor pedir pelo telefone. Tô com preguiça de tirar o carro da garagem e trocar de roupa. - Então faremos o quê? - Você eu não sei. Eu vou ficar em casa, no meu sofazinho, vendo minha televisão. - Então eu vou ligar para a Adélia. Vou chamá-la para ir ao cinema. - Vai sim. Vai se distrair. Você sabe que eu não me incomodo. Marilena saiu da sala e foi para o quarto telefonar. Tavares, aliviado, virou pro lado e adormeceu com a televisão ligada. Por volta das oito da noite, Marilena apareceu na sala e se despediu do marido. - Estou indo. Se tiver com fome tem sanduíche. Tavares fingiu interesse e comentou, displicente: - Que horas você às nove. Depois vou lanchar com a Adélia. Devo chegar meia-noite. - Vai de carro ou de táxi? - A Adélia vai passar na esquina pra me pegar. Deixa eu ir. Estou atrasada. Tchau. Assim que a mulher saiu, Tavares pegou o telefone e fez uma ligação. - Ela já foi. Vem pra cá. Temos até meia -noite. Traga o material. Desligou, esfregando as mãos, empolgado. Foi até a geladeira, pegou uma cerveja e tomou o primeiro gole com satisfação. A campainha tocou. Tavares correu para atender. Era o vizinho Arnaldo, que foi entrando, sem pedir licença. - Ô rapaz, você não sabe onde colocou as peças? - Acho que a Marilena sumiu com elas. Você trouxe? - Claro. E eu vacilo? Tá tudo aqui. - Então vamos começar o jogo, que hoje lhe dou um mate pastor - e riu, com ar desafiador. Enquanto Tavares e Arnaldo iniciavam a partida de xadrez, Marilena entrava no carro de Serginho, filho de Arnaldo. - Tem certeza de que seu pai não desconfia de nada? - Tenho. Ele é muito desligado! - Será que ele foi lá pra casa jogar xadrez com o Tavares? - Com certeza. Falou na revanche a semana inteira. Riram, com ar de cumplicidade. Marilena beijou Serginho, carinhosamente. - Vamos nos divertir muito hoje. Em qual motel nós vamos? - Que tal naquele com cadeira erótica? - Adoro. Ele tem aquela cascata colorida, que me faz sentir uma estrela em Hollywood! - Trouxe o talão de cheques? - Claro, Serginho. Não precisa se preocupar. - E a Adélia? Vamos pegá-la na esquina de casa? - Não, ela está esperando no lugar de sempre. O marido é desconfiadíssimo. Serginho pigarreou, se ajeitou no banco do motorista, deu uma olhada no espelho e depois de mexer nos cabelos, pensou que, para os seus vinte e dois anos de idade, passar a noite de sábado com duas coroas fogosas era muito excitante. Embriagada pela promessa de momentos de prazer, Marilena comentou, com ar sonhador olhando pela janela: - O tempo está melhorando. Acho que amanhã vai fazer sol. Serginho sorriu e ligou o rádio. A voz da cantora Ana Carolina tomou conta do ambiente. Seguiram acompanhando a música em pensamento, excitados com a idéia de viverem, mais uma vez, o doce sabor do pecado. Nota do Editor: Celamar Maione é Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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