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Contos
28/04/2008 - 18h04
A prima do Robertinho
Celamar Maione
 

A família estava reunida durante o jantar, quando Alice perguntou ao primo:
- Robertinho, você seria capaz de morrer por amor?

Alzira, mãe de Alice, sem graça, com a pergunta indiscreta da filha, desculpou-se:
- Você conhece sua prima, sabe que ela não tem juízo. Esquece o que ela disse.

Sônia, esposa de Robertinho, desconfiada e ciumenta, saiu em defesa do marido:
- Eu e Robertinho somos bem casados e ele não tem motivo para morrer por amor. Alice devia pensar antes de falar. Parece que tá agourando!
Alice riu cinicamente.
- Nunca se sabe! Estamos no século vinte e um, mas nada impede.
Dona Alzira irritou-se:
- Chega! Respeite seus tios. Respeite a hora da refeição.

Sônia e Robertinho começam uma discussão. Alice sai da mesa resmungando:
- Família reunida sempre tem lavação de roupa suja. Cruzes!
O primo vai atrás.
- Querendo me desmoralizar na frente da Sônia, dos meus filhos e dos meus pais?
- Não falei nada demais. Só fiz uma pergunta inocente. Não tinha motivo pra confusão.
- Todos sabem que namoramos na adolescência e você vive se insinuando e fazendo piadinhas bobas.

Alice sorri, debochada, segura o primo pela mão, e cochicha-lhe no ouvido:
- Bem que podíamos ser amantes - diz, provocante.
Um frio percorreu a espinha de Robertinho. Ia responder, quando a esposa o chamou.

Alice olhou o casal, ressentida. Estava com trinta anos. Acreditava que Robertinho era o amor da sua vida. Recusou vários casamentos, na esperança do primo separar-se. Não conseguiu esquecer as brincadeiras de infância, nem o namoro da adolescência. Robertinho conheceu Sônia na faculdade. Dois anos depois, casaram-se. Apaixonada pelo amor adolescente, Alice desiludiu-se e prometeu que reconquistaria o primo.

Por volta de uma da manhã, os parentes se despediram, prometendo um novo encontro para comemorar o aniversário do filho mais novo de Robertinho e Sônia. Alice foi para o quarto e antes de adormecer pegou a foto do primo e colocou debaixo do travesseiro. Na segunda-feira, acordou disposta a procurá-lo para declarar-se.

Chegou no escritório dele antes do meio-dia e foi recebida com descaso.
- Estou ocupado. O que você quer comigo?
- Não posso visitá-lo? Sou sua prima.
- Eu sei. Mas aqui é meu local de trabalho. Aconteceu alguma coisa?

Alice sentou-se, puxou a saia, deixando as pernas à mostra e respondeu, sensualmente:
- Sim, aconteceu. Sonhei que fazíamos amor.

Sem jeito, com a resposta inconveniente, expulsou a prima. Alice insistiu. Ele aumentou o tom de voz. Ela partiu, prometendo voltar. Obcecada pelo amor da adolescência, passou a visitá-lo toda semana com desculpas familiares. Na quinta semana, Robertinho se entregou à luxuria, ao ver a prima nua, deitada no sofá do escritório, dizendo-lhe, selvagemente:
- Sonhei que você me dava na cara e mordia meu corpo, vem!

Cheio de desejo, agarrou-a com violência e fizeram amor até o final do expediente. Passaram a se encontrar toda semana. Quando a esposa desconfiou que estava sendo traída, resolveu questionar o marido. Robertinho decidiu acabar com os encontros extraconjugais.

Alice desesperou-se.
- Você não pode destruir meus sonhos! Seu corpo pertence a mim. Nos amamos.
- Não. É só sexo. Não é amor. Amo minha esposa e meus filhos.
- Mentira! Você é meu! Foi meu primeiro homem. Ela o roubou de mim.
- Coisa de adolescente. Passou. Não adianta querer reviver o que não existe mais.
- Você ME PAGA, Robertinho!

Alice vai embora, mas antes, promete vingar-se. Um mês depois volta a procurá-lo.
- Precisamos conversar!
- Vai embora. Esquece o que passou.
- Impossível. ESTOU GRÁVIDA!
- Mentira!
- Olha o exame.
- Sai daqui, Alice. Sônia vem ao escritório. Não quero você aqui quando ela chegar.
- Me trata como lixo? Goza em mim como um cachorro no cio e agora me descarta?

Discutem. Alice chega até a janela e grita, enlouquecida:
- Você vai me pagar! Você NUNCA vai ser feliz! Vou encontrá-lo no inferno!
Ele ainda tenta segurar a prima, que toma impulso e se joga do oitavo andar. Robertinho coloca as mãos na cabeça e urra desesperado:
- Não tive culpa! Essa doida se jogou! Ela se jogou!

Logo a confusão se formou na portaria. Quando Sônia chegou, Robertinho contou-lhe que a prima, num ataque furioso, se jogou pela janela. Aos policiais, falou a mesma coisa. Omitiu, porém, que eram amantes. Disse que a prima sofria de problemas psiquiátricos e já ameaçara suicidar-se outras vezes. A família confirmou.

No enterro, a melhor amiga de Alice lê uma carta deixada pela suicida. Fotos de um celular e um exame de gravidez confirmam o envolvimento amoroso entre Alice e o primo. A família fica estarrecida. Sônia, furiosa com a revelação, transtorna-se:
- Traidor! Mau-caráter! Nunca mais quero olhar na sua cara! ADEUS!

Sônia sai da capela aos prantos. Robertinho vai atrás. O velório vira uma grande feira na hora da xepa. A morta sorri no caixão, ao ver a confusão armada. Na porta do cemitério, Sônia atravessa a rua gritando:
- Não me procure mais, Robertinho! Nosso casamento acabou! SOME DA MINHA VIDA, vigarista!

Quando Robertinho vai atravessar, fica confuso ao ver, do outro lado da rua, Alice acenando para ele. Não percebe a aproximação do carro em alta velocidade. Morre na hora. Em meio à aglomeração, Alice se aproxima, acaricia o rosto ensangüentado do morto e murmura:
- Eu não disse que você iria para o inferno junto comigo?!


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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