Josiel conversa com amigos na festa de aniversário de Evaldo, quando Lúcia chega num vestido tubinho vermelho. Ele acompanha-a com o olhar, pede licença ao grupo e se aproxima da moça. - Você está linda! Pensei que não viesse. - E por que não viria? Adoro festa. - E quando vai me adorar? - Gosto de você. Como amigo. - Não quero apenas amizade. - Você é insistente. Oito anos tentando. Não desiste? - Nunca. Quero você. Não desisto fácil das coisas que desejo. Lúcia deu um sorriso provocante e jogou os longos cabelos pretos para trás. Josiel segurou-lhe as mãos com força e implorou: - Vamos tentar. Você está sozinha, eu também. - Não. É só amizade. - Nem um beijinho? - Sem envolvimentos. Você é mulherengo. - Porque ainda não encontrei a mulher certa e acho que essa mulher é você. - Você quer que eu acredite nisso? Você só pensa em sexo, Josiel. - Eu seria capaz de amá-la, juro. - Cínico. Homem promete qualquer coisa quando quer levar uma mulher pra cama. Colocou a mão no queixo do amigo, deu um leve sorriso e o deixou falando sozinho. Quando Lúcia foi trabalhar na empresa, Josiel encantou-se por ela à primeira vista. Acostumado a sair com as mulheres que quisesse, Lúcia tornou-se um desafio ao recusar suas investidas. Sua lista era extensa. Já saíra com mulheres comprometidas, bissexuais, estrangeiras e até com duas primas e uma tia. Lúcia, porém, resistia ao assédio e quanto mais resistia, mais ele ficava excitado. As amigas que sabiam do jogo de sedução, incentivavam: - Não entendo você. O Josiel é charmoso, bonitão, está solteiro com 32 anos. - E daí?! Só por causa disso eu devo cair na conversa dele? - Qual o problema? Ele é altamente sedutor. Se conhecem há oito anos. São amigos. - Não quero. Ele é conquistador barato. Depois que usar, vai jogar fora. - Que nada, vai ver, se apaixona. - Você acredita que homem é capaz de se apaixonar? No íntimo, Lúcia nutria um amor platônico por Josiel e preferia que continuasse na imaginação. Aos 20 anos, foi abandonada na porta da igreja. Desde então, jurara nunca mais se relacionar com ninguém. Acreditava que a realização de uma paixão e a rotina tiravam a magia do amor. Rejeitava todos os homens que se aproximavam e lutava para resistir aos encantos de Josiel. O rapaz ficava confuso com a dubiedade da amada. Via nos olhos dela o brilho das apaixonadas, mas ela o recusava com veemência. Lúcia tornou-se um enigma na vida dele. Quando exagerava na bebida, Josiel socava a mesa do bar e dizia aos companheiros de copo, com ar desesperado: - Essa mulher é o meu sonho de consumo. Vai ser minha. Custe o que custar! Quando contavam a Lúcia, ela balançava os ombros e fingia não se importar. - Coitado! Vai morrer de tanto tentar. E ria. Um riso nervoso. Antes de dormir, sempre pensava nele e muitas vezes, sonhava que se amavam numa cachoeira. Acordava, angustiada, e dizia com voz trêmula: - Nunca! Josiel nunca me terá! NUNCA! Foi na festa de aniversário dos 20 anos da empresa, que tudo aconteceu. Beberam além da conta. Flertaram. Josiel acreditou que, finalmente, a muralha construída por Lúcia, desabava. Ela aceitou sair com ele. Saem da festa discretamente. No estacionamento, entram no carro e beijam-se com paixão. Josiel murmura palavras de amor. Lúcia corresponde, mas entre um beijo e outro, empurra-o e fala, respirando com dificuldade: - Preciso que me prove que seu amor por mim é verdadeiro. - Me diz. O que você quer? Eu faço. Prometo. Ela tira a navalha da bolsa e entrega nas mãos dele. - Você teria coragem de cortar seu pênis? - diz, em tom desafiador. - Por amor a você, eu corto. Nervoso, Josiel abaixa a cueca e decepa o órgão sexual. Em seguida, segurando-o nas mãos ensangüentadas, olha para Lúcia, com ar vencedor e antes de desmaiar, geme: - Eu não disse que cumpriria a promessa? Amo-a! Josiel não resiste ao ferimento. No velório, os amigos comentam, consternados, que o morto enlouqueceu de paixão. Quando Lúcia chega em casa, depois do enterro, vai até o banheiro, olha-se no espelho durante alguns segundos, penteia os cabelos, passa batom e coloca perfume. Com o olhar perdido, caminha até o quarto, abre a porta do armário, pega um vidro contendo formol e olha, fascinada. Dentro, bóia o pênis de Josiel. Ela o retira, acaricia-o e dá um sorriso de satisfação. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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