Norminha acabara de sair do banho, quando Moraes chegou do trabalho com a novidade: - Amor, sábado a Yolanda vem jantar aqui em casa. - QUEM?!! - Yolanda. - Você é muito cara-de-pau, Moraes. Chamar sua amante para jantar?! - Yolanda não é minha amante. É colega de trabalho. - Mas vocês têm muita intimidade. E tentando imitar o marido, engrossa a voz e fala, balançando a cabeça: - Hoje fui almoçar com a Yolanda. Hoje fiz hora extra com a Yolanda... Yolanda... Yolanda... - Mas é o nome dela. Você queria que eu a chamasse de quê? Ela vem com o marido. - E o detalhe dela vir com o marido impede de vocês serem amantes, por acaso? - Ela é apaixonada pelo Cardoso. Você mesma vai comprovar. A mulher de Moraes ficou pensativa. Em seguida, mordeu os lábios, colocou uma colônia refrescante atrás da orelha e falou em tom amistoso, virando a boca pro lado: - O que a Yolanda gosta de comer? - Faz o seguinte: amanhã liga para o escritório, vocês conversam e decidem o cardápio. Isso é coisa de mulher! Norminha balançou a cabeça, desconfiada, mas também aliviada, já que, finalmente, conheceria Yolanda. Desde que o marido foi trabalhar no escritório de contabilidade da Rua do Ouvidor que o nome da nova colega de trabalho virou rotina na conversa entre eles. A esposa passou a suspeitar e fazer acusações. - Yolanda é sua amante. Você vive com o nome dela na boca! Moraes desconversava. Os irmãos, que num final de semana, participavam de um churrasco na casa dele, também comentaram: - Conta logo, você está comendo essa tal de Yolanda. Moraes se defendia: - Que nada, ela também é casada. Isso é ciúme de esposa. Intriga de mulher. Quando Moraes foi trabalhar no dia seguinte, contou sobre o jantar para Yolanda. - Norminha já sabe que você e o Cardoso vão jantar lá em casa no sábado. - Ela aprovou? - quis saber, preocupada. - Não só aprovou, como vai ligar pra cá, para vocês combinarem o cardápio. - Graças a Deus! Pelo menos agora ela tira essa bobagem de que somos amantes da cabeça. No final da tarde, Norminha telefonou e falou com Yolanda. As duas conversaram por dez minutos. Yolanda ficou de levar a sobremesa. Desligou o telefone, encantada com a esposa de Moraes. - Sabe que não consigo imaginar a Norminha ciumenta? Ela é uma simpatia. - Não se empolgue tanto. Norminha adora fazer tipo. Esconde o que sente. É perigosa. Mesmo assim, ele respirou aliviado e se perguntou : "Será que finalmente a agonia da desconfiança vai terminar e a paz voltará ao lar?". A noite de sábado, de céu estrelado, prometia ser tranqüila. Norminha caprichou no assado com batatas. Yolanda e Cardoso tocaram a campainha às oito horas. Com um vestido azul de muito bom gosto, Norminha abriu a porta numa mistura de excitação e curiosidade. A primeira coisa que fez ao olhar para a suposta rival, foi avaliá-la dos pés a cabeça. A mulher que lhe despertava ciúmes era morena, alta, cabelos pintados de ruivo e vestia uma calça preta e uma blusa de seda branca. Abraçaram-se cordialmente. Um abraço invejoso. Dissimulado. Em seguida, Yolanda apresentou-lhe Cardoso, que sorriu simpaticamente. O jantar correu em clima amistoso. Cardoso era extrovertido, adorava contar piada e fotografar. Levou a máquina digital para registrar os novos amigos. Norminha ainda observou o marido na tentativa de flagrar uma troca de olhares entre ele e Yolanda. Mas, depois do jantar, concluiu que o ciúme alimentado durante tantos meses, era infundado. Despediram-se prometendo novos encontros. Na segunda-feira, quando chegou no trabalho, Moraes percebeu que Yolanda o encarava. Estranhando, perguntou: - Algum problema? Gostou do jantar? A colega de trabalho respondeu, sensualmente: - Meu assado é melhor do que o da Norminha. - e deu uma risada enigmática. Sem jeito, Moraes desconversou. Porém, durante toda a semana, Yolanda flertou com ele, que de início, estranhou a mudança de comportamento, mas acabou entrando no gostoso jogo da sedução. Na quinta-feira, agarraram-se no escritório e ela o convidou para um assado no dia seguinte, depois do trabalho. - Agora Norminha não desconfia mais. Você pode ir à minha casa. - Na sua casa? E o Cardoso? - Sexta-feira Cardoso faz hora-extra. Saíram do trabalho às cinco. Foram direto para a casa de Yolanda. Moraes espantou-se quando entrou no quarto e deparou-se com paredes vermelhas e espelhos no teto. - Nossa, parece um quarto de motel! - Sou ou não sou uma mulher surpreendente? Beijaram-se e abraçaram-se com fúria. Cinco minutos depois, Moraes sentiu que não estavam mais sozinhos no quarto. Viu Cardoso tirando fotos. Tentou sair da cama. Yolanda o segurou pelas pernas com força. - É a tara dele. Cardoso é inofensivo. Não se preocupe. Só faz tirar fotos. Moraes respirou fundo, sentiu-se confuso, mas excitado, se entregou à situação inusitada e fez poses para a câmera. Na despedida, comemoraram o sucesso do encontro com batida de maracujá, especialidade do Cardoso. Empolgado com a nova experiência, Moraes comentou, ao dar o primeiro gole: - Acho que vou comprar uma máquina fotográfica para a Norminha! Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|