Durante o velório de Maciel, Suely chora ao lado do caixão, quando Tavares vai cumprimentá-la. - Meus pêsames. A senhora sabe como eu era amigo do seu finado marido. Suely agradece, pega um lenço e chora mais alto. Respeitando o momento de dor da viúva, Tavares afasta-se e vai conversar com Artur, irmão do morto. Na entrada da capela, estão Iracema e Raquel, as fofoqueiras do bairro. Cochichando, comentam a viuvez de Suely. - Não é estranho? Esse já é o terceiro marido que a viuvona enterra. - E todos enfartados. - Qual era a idade do morto? - Acho que cinqüenta. Encerraram o assunto quando viram Tavares de cara feia, olhando para elas. O sepultamento foi acompanhado por cem pessoas, a maioria vizinhos e amigos da Pavuna. Dois dias depois do enterro, recuperada da terceira viuvez, Suely sai para comprar pão com uma minissaia de invejar as vizinhas mal amadas. No caminho, encontra Tavares e conversam empolgados. Não demorou para que ele passasse a freqüentar-lhe a casa. Os amigos mais chegados o alertam: - Ela já enterrou três. Você será o próximo. Irritado com a maledicência alheia, bate na madeira e engrossa a voz: - Nada. Sou pedra. Vou fazer quarenta anos e tenho saúde de ferro. O que os amigos não sabiam é que o namoro não passava de uns beijinhos insossos no sofá da sala. Quando Tavares pedia mais, Suely cobrava: - Sexo só depois do casamento. Sou viúva de respeito. E para provocá-lo, desafiava: - Você tem esse fogo todo ou é propaganda enganosa? - Não me desafie que fico nervoso! Amo sexo e não nego fogo. Para provar que dizia a verdade, cedeu aos encantos da morena alta, de trinta anos, coxas grossas e duas covinhas no rosto e a pediu em casamento. Suely fez questão da igreja, do bolo e do vestido de noiva. Na lua-de-mel, Tavares empolga-se com o fogo da mulher. Passam a noite em claro. Pela manhã, insaciável, Suely quer mais. - Acorda, Tavares. Sempre desejei você. Vem satisfazer sua mulherzinha. O marido volta da lua-de-mel exausto. Nada consegue apagar o fogo sexual da esposa. Ela não se contenta com sexo somente á noite. De dia, na hora do almoço, Suely aparece no trabalho do marido. - Vamos dar uma ligeirinha? Olha a cinta-liga que eu comprei no sexo shop! Para não decepcioná-la e querendo provar a macheza, cedia. O cansaço prejudicou-o no trabalho. O médico licenciou-o. Em casa, implorou à mulher por descanso. Suely ameaçava: - Se não transar, espalho para a vizinhança que você é broxa. Logo vira corno! O medo de ser humilhado publicamente, fez Tavares recorrer a receitas afrodisíacas e depois, a pílulas contra impotência. Ficou traumatizado. Durante o sexo, via Suely se transformar numa bruxa com verruga na ponta do nariz. Seis meses depois do casamento, Tavares tem um enfarte fulminante. Entristecida, Suely comenta com a irmã durante o velório: - Será que não existe mais homem no mundo? São todos uns frouxos? Não satisfazem mais as mulheres? Em meio aos comentários maldosos da vizinhança, Otília, amiga de Suely, entra na capela e as duas se abraçam chorosas. Quando a viúva vê Carlinhos, filho de Otília, enxuga as lágrimas e seu rosto torna-se sereno. Pelo seu olhar passa uma sombra diferente, uma espécie de renascimento. Agarra forte o braço da amiga e pergunta, curiosa: - Seu filho já completou dezoito anos? Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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