Domingo chuvoso. Terezinha e Beatriz estão na fila do cinema, aguardando a vez para entrar. Enquanto esperam, devoram dois enormes sacos de pipoca e conversam futilidades. De repente Beatriz fala. em tom confessional: - Quando acabar o filme, vamos lanchar, quero lhe contar um segredo. Terezinha nem presta atenção ao que a amiga lhe diz e dá um gritinho nervoso: - Aquele ali na fila é o Alfredo! Quanto tempo! - De onde você o conhece? - perguntou Beatriz, curiosa. - Da faculdade. Era apaixonada por ele. Continua lindo! - Mas pelo jeito tá casado. Aquela do lado deve ser esposa. Alfredo sai da fila e segue em direção ao banheiro. Passa distraído pelas amigas e se assusta quando Terezinha o segura pelo braço. - Lembra de mim? Ele dá um sorriso sem graça e responde, educadamente: - Sim. Como vai? - Como sempre bonito! - Obrigado. Aquela na fila é minha esposa. - apressou-se em dizer. Terezinha falava sem se importar com o jeito incomodado do colega de faculdade. Quando a fila andou, ela lhe pediu o telefone. Alfredo deu o número do celular, contrariado e saiu apressado. Beatriz alertou a amiga: - Você não reparou que o cara tava querendo se livrar de você? - Que nada! É tipo. Tava adorando. - Não parecia. Mas enfim, quando você se interessa por alguém, fica cega. Terezinha nem prestou atenção no filme. Acreditava que o encontro era um sinal. Coisa do destino. Quando saiu do cinema, falou para Beatriz, com ar sonhador: - Vamos lanchar? - Não. Perdi a fome. Quero ir pra casa. - Você não tinha uma coisa pra me contar? - Mudei de idéia - falou, com ar misterioso. No dia seguinte, Terezinha liga para Alfredo. Quando se identifica, ele faz voz de enfado. Ela finge não perceber e fala durante dez minutos. Quando desliga o telefone, aperta os olhos e pensa: "Esse homem vai ser meu, sempre fez parte dos meus sonhos. Não vou deixá-lo escapar, jamais". Por volta das sete da noite, sai do trabalho e passa na casa de Beatriz. Encontra-a meio reticente. Mesmo assim, a amiga aconselha: - Por que você não esquece o Alfredo? Ele é casado. - E daí? Casado não é homem? Diante da insistência, Beatriz calou-se. Já passava das dez, quando Terezinha foi pra casa. Dormiu agitada. Sonhou que andava por um túnel escuro. No final do túnel, avistava duas sombras acenando. Quando se aproximava, escutava gargalhadas alucinadas e identificava os rostos de Alfredo e Beatriz. Acordou suando. Pela manhã, antes de ir trabalhar, passou na casa da amiga e contou-lhe o pesadelo. Beatriz, com voz de sono, pareceu não se importar. - Deixa de ser impressionada. Pesadelo é pesadelo. Não é vida real. Terezinha acalmou-se. Assim que chegou no trabalho, ligou para Alfredo. Dessa vez, ele foi receptivo. Marcaram um encontro para quinta-feira. Ela chegou primeiro. Quando o viu aparecer na porta do bar, deu um sorriso aliviado. - Nem acreditei que viria. - E por que não? - Foi frio comigo da primeira vez que liguei. Alfredo passou-lhe a mão no queixo, carinhosamente. - Mudei de idéia. Quero você. Só tem um problema: sou casado. - Eu sei. Já me falou. - Não se importa? - Não. Marcaram novo encontro para o início da semana seguinte. No dia marcado, Alfredo liga para Terezinha e murmura: - Não vai dar pra ser hoje. Minha esposa está aqui no escritório. Ligo depois. Terezinha decepciona-se. Seria um momento só deles e a rival estragou tudo. Beatriz ouve o desabafo da amiga, mas dessa vez, não dá opinião. Dois dias depois, Alfredo liga e marca novo encontro. Vão para o motel. Carente, Terezinha cai na sedução do amante e apaixona-se. Ele passa a fazer parte dos seus sonhos. Quer tê-lo para sempre. A esposa torna-se um obstáculo à sua felicidade. Obcecada, propõe ao amante: - Por que não se separa? - Separar? Jamais! Se me separo perco tudo. Terezinha vive esperando, ansiosamente, pelos encontros furtivos. Quando num final de tarde de uma sexta-feira Alfredo liga, adiando o compromisso, porque a esposa o espera no escritório, ela fica enfurecida. Com a inveja envenenando-lhe as vísceras, pensa: "Sempre essa mulher atravessando meu caminho, impedindo minha felicidade". Cega de amor, vai até o trabalho do amante. Chega no escritório e encontra a rival lendo um livro. Quando a esposa de Alfredo vê Terezinha entrar, assusta-se: - Quem é você? Com o coração apertado, responde, com voz trêmula: - Amante do seu marido. Nós nos amamos. Discutem. Terezinha pega uma estátua de mármore e joga na cabeça da outra, que cambaleia. Ensandecida, empurra a rival pela janela do décimo segundo andar. O corpo estatela-se na calçada. Uma multidão de curiosos cerca o cadáver. Alfredo chega de uma visita a um cliente, meia hora depois da tragédia e reconhece o corpo da esposa. No carro da polícia, vê Terezinha algemada. Faz o papel de viúvo infeliz. Em seguida, disfarça, se afasta do tumulto, pega o celular e faz uma ligação: - Beatriz, aconteceu como você previu. Estamos livres. Das duas. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|