Soninha e Alberto entraram no bar conversando animadamente. Pediram uma mesa. Sentaram-se e enquanto esperavam pelo chope, acariciavam-se. Quando Raquel aproximou-se e sorriu para Alberto, o idílio amoroso terminou. O rapaz deu um forte abraço na jovem que estava com um vestido curto vermelho que deixava as pernas grossas á mostra. - Que saudade! Quanto tempo!? Conversaram em pé, durante cinco minutos. Raquel se despediu de Alberto com um beijo no rosto. - Depois passa lá na mesa para lhe apresentar minha amiga. Quando Raquel saiu a discussão começou. - Quem é essazinha? - Uma amiga. - Amiga? Seus olhos brilharam quando você a viu. - Tá delirando, é? - Não me dê diploma de idiota, quem é? - Foi uma ficante. - Quer dizer que vocês tiveram algo mais do que uma simples amizade? - Passado. Nada sério. - Você ficou muito empolgado. Nem me apresentou. - Nem reparei. Desculpe. - Claro, quando não lhe interessa, você não repara. É sempre assim. Lembra daquela festa na casa do Flávio? - Ah não! Vai começar a relembrar coisa que já passou, só porque a Raquel veio falar comigo? - Muita intimidade. Sorrisinho pra lá. Sorrisinho pra cá. - Garçom, mais dois chopes, por favor. - Não quero mais beber. - Como não? Você me disse que estava com vontade de tomar um chope, conversar e depois sair para namorar. - Não vou namorar. Vou pra casa. Perdi a vontade. - Vai estragar nossa noite por causa de coisa que já passou? - A Raquelzinha está sorrindo pra você. Não tira os olhos da mesa. - E eu tenho culpa? Não posso fechar os olhos dela. - Você e essa sua mania de ser cavalheiro com todo mundo. Menos comigo. - Quando eu não fui cavalheiro com você? - Naquele dia do bote. Se o Carlos não me segurasse, eu ia cair na água. Você é desatencioso. - Reclama mas gosta de mim. - Não sei mais se gosto. Soninha fez biquinho. Ficaram em silêncio durante cinco minutos. Até que, com voz magoada, a namorada falou, pegando a bolsa: - Já vou. - Vamos? - Vou sozinha. Não tem mais clima. Você estragou tudo. Você e a sua mania de ser gentil com as OUTRAS. - Não vou ser grosseiro só porque você quer. Sou educado. - Então fique com a sua educação. De repente amanhã você liga para a Raquelzinha. Quem sabe vocês não recordam os velhos tempos? - Soninha, sua mente é muito fértil. - Sabe o que mais? Não precisa ligar. Vai até a mesa dela e faz o convite. - É isso que você quer? Soninha não respondeu. Olhava para o alto, com o rosto apoiado na mão. - Estou falando com você. É isso que você quer? - Eu, não. Você. Quando a piranhete se aproximou da mesa, sua cara se transformou. - Sua visão é poderosa. - É? E quem passou a língua nos lábios e mexeu nos cabelos? Sinal de interesse. - Tá vendo demais. Mas você está certa. Quem sabe minha noite não vai ser melhor com ela, já que você está cheia de coisinha!? Soninha fuzilou Alberto com os olhos. Pegou o copo de chope e jogou-lhe no rosto. - Pois então, faça bom proveito. Tchau! Virou as costas e se foi. Sem graça, Alberto pagou a conta, se dirigiu ao banheiro, limpou o rosto e foi até a mesa de Raquel. - Minha namorada já foi. - É, nós vimos. - Posso sentar? - Claro. Senta ai. Quer um chope? - É, vou pedir. - Bom, deixa eu apresentar. Lurdinha, Alberto, Alberto, Lurdinha. - E aí, depois daqui o que vocês vão fazer? - Nós? Vamos pra casa, namorar. - Namorar? - É. Eu e a Lurdinha estamos ficando. - Peraí, quando a gente ficava, você nunca me disse que era bi. - Eu era hetero. Mas a Lurdinha me fez mudar de idéia. Agora sou homo. E fiel. Levantaram-se e se despediram de Alberto, deixando-o pensativo. - Ah sim, em homenagem ao encontro, paga a conta, Alberto? Dê lembranças à namorada. Como é mesmo o nome dela? Nem esperaram pela resposta. Alberto deu um sorriso amarelo e um tchauzinho sem graça. Quando o garçom veio lhe trazer mais um chope, ele comentou: - Rapaz, hoje eu estou com um azar. O garçom deu um risinho tímido e limpando a mesa com um paninho, filosofou: - Não repete essa palavra. Atrai coisa ruim. O senhor está é com falta de sorte. Pegou o paninho e virou as costas. Alberto olhou para o nada e falou baixinho com cara de poucos amigos: "É, todo metido a esperto, também tem seu dia de otário". Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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