Duarte saiu do banco e caminhava distraído pela Senador Dantas, quando sentiu alguém segurar seu braço esquerdo, com força. Assustado, já ensaiava uma reação, quando a mulher falou primeiro: - Desculpe moço, dá para o senhor fingir que é meu namorado? A loira alta, cabelos longos escovados, olhos verdes, corpo escultural, vestida num tubinho preto, parecia saída de um conto de fadas. Desconfiado, Duarte pensou que se tratava de uma brincadeira. - É pegadinha? Pra qual programa? Vê lá o que vai fazer, sou casado. - O senhor está vendo aquele homem do outro lado da rua? E apontou discretamente para um ruivo alto, mal encarado, de óculos escuros. - O que tem ele? É seu namorado? Se é, por favor não me meta em confusão. - Não conheço. Está me seguindo desde que saí do restaurante. O senhor só precisa fingir que é meu namorado. Sorria e converse comigo até o meu trabalho. Quase chorando, a loira só faltou se ajoelhar em plena Senador Dantas. Duarte aproveitou, apertou o braço da mulher e para dar mais realidade à cena, tascou-lhe um beijo no rosto. Ela sorriu sem graça e os dois caminharam abraçados, conversando, como se fossem velhos conhecidos. Empolgado, ele nem percebeu que do outro lado da rua, passava a cunhada Marizete acompanhada da filha. - Fabiana, aquele ali não é o Duarte? - É, é o tio, sim. Com um mulherão. Quem diria? Faz o gênero quietinho, barrigudinho, mas tá mandando ver na rua. - Anda, Fabiana, me dá seu celular, vamos tirar umas fotos, a Maria Augusta precisa saber disso. Seguiram os dois, que sorriam e se abraçavam, como um casal apaixonado. Quando chegaram na portaria do trabalho da mulher, Duarte se despediu a contragosto e perguntou: - Antes de subir, você podia pelo menos me dizer o seu nome? - Amanda. Muito obrigada pelo que o senhor fez por mim. Deus lhe pague. - Quando precisar é só chamar. Duarte, às suas ordens! Educadamente, Amanda se despediu, virou as costas e pegou o elevador. Duarte voltou para o trabalho sonhando com as pernas grossas da mulher no tubinho preto. Marizete e Fabiana chegaram em casa ansiosas e conferiram as fotos. - Olha essa, Fabiana, Duarte faz pose como se fosse um ator de Hollywood. - E essa, mãe? Parece que saíram do motel. A loira não tá com o cabelo molhado? - Pois eu vou lá na Maria Augusta mostrar essas fotos e é agora. Maria Augusta acabava de fazer o jantar quando a campainha tocou. Abriu a porta. Marizete e Fabiana entraram, eufóricas: - O que houve? - O Duarte já chegou? - Não. Vai chegar mais tarde. Por quê? Mãe e filha se entreolharam. - Aconteceu alguma coisa com o meu marido? Marizete falou, meio reticente: - Eu tenho uma coisa pra lhe mostrar e eu não sei se você vai gostar. - Anda, o que é? Chamou a irmã para sentar ao seu lado no sofá, abriu o celular e mostrou as fotos: - Você vive reclamando do Duarte, diz que ele não quer saber de sexo. Pois ele trai você com uma loira que parece filha dele. Maria Augusta via e revia as fotos. Boquiaberta, juntou as sobrancelhas, apertou os lábios e roendo as unhas se despediu da irmã e da sobrinha: - Vocês foram muito gentis em me mostrar as fotos. Obrigada. Agora podem ir. - Ei, o que você vai fazer? Vai pedir a separação? Vai procurar a loira? - Eu preciso pensar. Daqui a pouco o Duarte chega. Podem ir, obrigada. Tchau. Bateu a porta empurrando a irmã e a sobrinha. Quando o marido chegou, Maria Augusta serviu o jantar sem dar uma palavra. Acostumado com a frieza da esposa, Duarte não notou nada de errado. Jantaram em silêncio. Durante a madrugada, enquanto o marido roncava, Maria Augusta olhava para ele dormindo e curiosa pensava: "O que essa loira viu no Duarte? Não tem dinheiro. É gordinho, baixinho, sem graça!? O que ele faz com ela que não faz comigo?" A carência tomou conta de Maria Augusta. Tremeu de desejo. Fazia tempo que não sabia o que era o carinho de um homem. Sonhou que dançava numa boate erótica rodeada por vários homens vestidos de cigano. Acordou decidida. Sábado, aniversário do marido, daria uma festa surpresa. Comunicou a vizinhança. Convocou os cunhados e chamou a irmã. Marizete estranhou: - Festa surpresa?! O Duarte trai você com uma mulher que tem metade da sua idade e você vai fazer uma festa surpresa pra ele? - Isso é problema meu. O marido é meu e quem decide sou eu. No sábado, quando Duarte chegou do futebol, os convidados o esperavam e assim que entrou na sala, cantaram parabéns. O homem chorou de felicidade. Nunca imaginara que a esposa, que o tratava tão friamente nos últimos anos, pudesse organizar tamanha surpresa. Enquanto a música tocava e a bebida era servida, Maria Augusta falava com orgulho do aniversariante: - Marido bom é o Duarte. O Duarte é um garanhão! Orgulho da raça! As vizinhas lambiam os beiços de inveja, curiosas para saber, afinal, qual o borogodó do Duarte. Os maridos comentavam, enciumados: - O que será que o Duarte anda fazendo que a gente não faz? Marizete, horrorizada, reclamava com a filha: - Minha irmã é uma depravada! Louca. Devassa. Onde já se viu uma mulher traída fazer festa surpresa e ainda chamar o marido de garanhão? Sentindo-se decepcionada com a atitude de Maria Augusta, pegou a filha pelo braço e foi embora antes de partirem o bolo. Quando a festa acabou, Duarte se trancou no banheiro para chorar, emocionado. Ao entrar no quarto, se deparou com Maria Augusta deitada na cama de calcinha e sutiã. Passando a língua pelos lábios, ela disse, em tom de voz sensual: - Vem meu garanhão. Faz comigo o que você faz com as outras! Sem entender o comportamento liberal da esposa, mas excitado, Duarte se jogou nos braços de Maria Augusta e se amaram como há muito tempo não acontecia. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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