Sexta-feira. Final de expediente. Verinha se arruma no banheiro da empresa e comenta com as amigas: - Tenho que ficar linda para o Aristeu. Marlene debocha: - Como é o nome dele? Repete. - ARISTEU. Qual o problema? - Isso é nome de namorado que se arranje? - O nome dele tem história na mitologia grega. - Mitologia à parte, me diz se ele é bonito, pelo menos. - Bonito e gostoso. Um príncipe encantado! Marlene grita, com ar sonhador: - Homem gostoso é tudo de bom! Então já experimentou? - Ainda não. Estamos no reconhecimento de campo, mas dá pra sentir, né? Vânia entra na conversa: - Tem carro? - Do ano. Você acha que vou namorar desmotorizado? Aristeu é perfeito. - Só o nome é que não bate – comenta Marlene - Imagina na hora de transar: Aristeu, pega aqui, Aristeu, mais embaixo. Verinha reage, bem-humorada: - Homem hoje é artigo de luxo e quando arrumo um, vocês jogam piadinhas por causa do nome?! Eu tava a perigo. Sabe há quanto tempo eu não dava um beijinho de língua? Seis meses! - Pior eu – disse Marlene - sabe há quanto tempo não rola um sexo básico com o maridão? Oito meses! Até peguei emprestado o vibrador da minha irmã. - Acho que vou precisar de um. É bom pelo menos? – perguntou Vânia, curiosa. - Não tem pegada, mas no sufoco, é melhor do que nada. - Bom, eu pelo menos tenho o Aristeu e quando rolar não vai sobrar pedra sobre pedra. Ele é todo gostoso. Perna grossa, bumbum arrebitado, tórax de dar inveja no Van Damme. Vânia aproveita a conversa afrodisíaca e desabafa: - Tô com água na boca. Sabe há quanto tempo não transo? Dois anos! Acreditam?! - E aquele cara que vi com você no metrô? – Verinha pergunta, curiosa. - Um babaca. Pratica o desapego carnal para atingir o nirvana. - Cruzes! Esses homens de hoje estão perdidos! Ainda bem que tenho o Aristeu. - Vamos embora, meninas, porque o meu maridão broxão tá me esperando pro jantar. Descem no elevador contando suas agruras amorosas. Na portaria despedem-se. - Bom fim de semana, Marlene! Com ou sem vibrador. - O meu será com muito DVD e pipoca! – falou Vânia, desanimada. - Esperamos que você experimente o gostosão do Aristeu. Cinco minutos depois, ele estaciona o carro e, com jeito de poucos amigos, abre a porta para Verinha. Deixa-a em casa uma hora depois, alegando dor no estômago. O final de semana foi decepcionante. No sábado foram à praia e antes das seis, Verinha já estava em casa. Domingo, apenas uma ligação de meia hora. Segunda-feira as amigas quiseram saber: - E aí, e o Aristeu? - Nada. Inventou um monte de desculpas para não ficar sozinho comigo. - Não rolou nem um amasso mais ardente? - Nada. Nem mão naquele lugar, se quer saber. - Vai ver faz parte de alguma seita religiosa, sei lá! Será que é gay enrustido? - Você disse que gostava dele? Homem quando descobre que a mulher se apaixonou, foge. Eu tenho um ex que já deve estar no Japão! - Que nada. Namoro hoje é assim mesmo. Se você tiver sorte, o gostosão aparece uma vez por mês. São muitas namoradas. Verinha fica zonza: - Vocês estão me deixando confusa. É muita mulher falando ao mesmo tempo. As mal-amadas continuam nas conjecturas: - Será que é viciado em drogas? Alcoólatra, pedófilo? - Já sei – grita Marlene – faz sexo com cachorro! - Chega, Marlene. Pára Vânia. Não adianta tentar adivinhar. - Só mais uma pergunta: Quando vocês se beijam você reparou se... se? - Sobe. Já reparei. E é grande! – Verinha responde sem muita paciência. - Vai ver o problema é grana, quando homem tá duro, nada funciona. - Queridinha, isso é desculpa. Quando tá a fim, escala até prédio de vinte andares. Verinha perde a paciência: - Olha só, o namorado é meu, a vida é minha e quem tem que resolver esse problema sou eu, tá bom? - Tá!!!! Já não está mais aqui quem falou. Vamos trabalhar. Vem Vânia. Durante os cinco meses que se seguiram, o casal viveu um namoro em total abstinência sexual. Cansada do jejum, Verinha aproveita uma sexta-feira, de clima romântico num happy hour e coloca-o contra a parede: - Aristeu, você não acha que está faltando alguma coisa no nosso namoro? - Tá? - Fez voto de castidade? Tem algo de anormal com você? Vou saber entender. Diz. Segurando o rosto de Verinha com as duas mãos, olha fundo nos olhos da namorada e dá um sorriso enigmático: - É isso o que você quer? Tem certeza? - Tenho. Amo você e quero ser toda sua. Pressionado, Aristeu marca para o dia seguinte. Verinha duvida que ele apareça. À noite, na hora marcada, buzina em frente a casa dela. Escolhe a melhor suíte. Bebem champanhe. A performance sexual impressiona. Tudo perfeito. Depois da noite de amor, desaparece sem deixar rastro. As invejosas amigas de Verinha chamam-no de Aristeu, o ilusionista. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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