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Contos
05/12/2007 - 17h00
Só as feias são fiéis
Celamar Maione
 

Ivan e Aldemiro conversam no churrasco do amigo Valdo quando todas as cabeças masculinas se voltam para a porta. Lenícia e a irmã Lenivalda chegam ao churrasco, acompanhadas de uma amiga. Lenícia era perfeita. No frescor dos 24 anos, a morena deixava homem comprometido de cabeça virada. As mulheres se mordiam de inveja. Era o terror das namoradas, noivas e esposas. Quando estava nas festas, as ciumentas recolhiam seus parceiros.

O que tinha Lenícia de bonita, tinha a irmã mais velha de feia. Lenivalda era desengonçada, gorda, dentes amarelados, seios espalhados, olhos esbugalhados e cabelos ralos. Era uma diferença constrangedora. Assim que chegaram ao churrasco, começaram os comentários maliciosos. Ivan e Aldemiro confabulavam às gargalhadas:
- Imagina você casado com esse avião, Ivan.
- É muita areia para o meu caminhão. Prefiro a irmã. Não dá trabalho.
- Tá maluco? A irmã é muito feia! Não dá para agüentar olhos nos olhos na hora do pega pra capar.

A conversa continuava animada quando Valdo se aproximou.
- Ivan, tá vendo aquela morena?
- Claro, não sou cego.
- Quer conhecer você.
- Tá de sacanagem com a minha cara?
- Tô falando sério. Gostou de você. Vou lhe apresentar.

Aldemiro revirou os olhos de inveja. Ficou com um sorriso amarelo, perdido no canto. Lenícia convidou Ivan para sentar-se à sua mesa. Conversavam próximos, enquanto a morena mexia nos cabelos, fazendo charme. Quando Lenícia pediu licença para ir ao banheiro, retocar a maquiagem, Ivan puxou conversa com Lenivalda. Em seguida, chamou a jovem para dançar. Dançaram de mãos dadas durante todo o churrasco. Enquanto isso, Lenícia ficou sentada com cara de poucos amigos. A bela morena acreditou que tudo não passava de um truque de Ivan para conquistá-la mais rápido. Sem graça, comentou com a amiga que a acompanhava:
- Joga charme para a minha irmã para me fazer ciúme. Mal sabe que já estou caída por ele.

Na hora de irem embora, Ivan pediu o telefone de Lenivalda. Lenícia não estranhou. Achou que era jogo de cena de Ivan. Enquanto isso, Lenivalda vai às nuvens. Apaixonou-se por Ivan. Foi o único homem que lhe deu atenção. No caminho para a casa, dividiu sua felicidade com a irmã:
- Lenícia, ele me chamou para ir ao cinema.
- Você?!
- Por que? Não posso?

Ivan ficou no churrasco. Foi chamado num canto para conversar com Valdo.
- Não entendo você. Ficou na cara do gol com a mulher mais cobiçada do pedaço e foi dançar com a irmã dela?
- Prefiro a irmã. Não gosto de mulher bonita. Logo lhe mete um par de chifres.
- Medo de ser corno?
- Mulher bonita é chave de cadeia. São muito assediadas. Esposa tem que ser feia. E de mais a mais, mulher feia se contenta com pouco.

Ivan teve que suportar a encarnação dos amigos.
- Não esquece de quando for se encontrar com o dragão levar São Jorge. Ou qualquer outro santo. Mulher feia sempre tem um santo de devoção. Santo Antonio, de preferência. Aldemiro, com ar de inveja, gritava:
- Leva São Judas Tadeu, padroeiro das causas impossíveis. Vai precisar!!

Ivan começou a namorar a irmã feia. Lenícia ressentiu-se. Foi ao trabalho de Ivan tomar satisfação. Quando viu a futura cunhada, sentiu um desejo ardente. Lenícia estava com um vestido vermelho justo, que lhe deixava marcada a cintura fina. Suas pernas, bem-torneadas, se sobressaíam. Suas coxas à mostra quase fizeram Ivan cair no chão. Lenícia sentou-se numa cadeira na frente de Ivan e cruzou as pernas.
- Vou ser direta. Que palhaçada é essa com minha irmã?
- Palhaçada? Não entendi. Estamos namorando. Não vejo palhaçada aí.
- Diz logo, qual é seu truque?
- Não tenho truque. Qual é a sua de vir aqui no meu trabalho com essa historinha?
- Estou interessada em você e você prefere minha irmã?
- Você é linda! Capaz de fazer qualquer homem perder a cabeça. Mas não estou disposto a ser corno. E namorando a sua irmã tenho você por perto.
- Bela teoria a sua. Você é um babaca! Covarde!
- Psiu! Estou no trabalho. Se esqueceu?

Combinaram de se encontrar depois do expediente. Uma súbita paixão os consumiu. Saíram do bar aos beijos e fazendo promessas. Mesmo pressionado por Lenícia, não teve coragem de terminar o namoro com Lenivalda. Ela era uma feia cheia de ternura. Fazia-lhe todas as vontades. "E para quê mexer na situação?", pensava. Estava com as duas. Com Lenícia, realizava seu lado animal. Lenivalda representava a vida tranqüila. Sabendo que teria uma esposa dedicada pelo resto da vida e, ainda, uma amante fogosa, procurou Lenícia para uma conversa definitiva.
- Você gosta da sua irmã?
- Adoro. Sabe que sim.
- Então vamos deixar tudo como está. Ela ameaçou se matar se eu terminar o namoro.

Ivan preferiu a mentira. Com medo de ficar com a consciência pesada, Lenícia concordou com a união do amante e da irmã. Depois do casamento, Ivan estava feliz. Amava a dedicação de esposa de Lenivalda. E amava o amor selvagem com Lenícia. Quem descobriu a vida dupla de Ivan foi Aldemiro. Ele viu o amigo e Lenícia entrando num motel. Cheio de inveja, procurou Lenivalda.
- Seu marido a trai com sua irmã!

De início, Lenivalda não acreditou. Mas com a frieza que só as feias têm, contratou um detetive. Diante das evidências, encostou Ivan contra a parede.
- Descobri tudo, Ivan! Você não presta. Me trai com minha irmã.
Ivan ainda tentou mentir. Mas, diante das fotos, confessou a traição.
- A culpa é da sua irmã. Me seduziu.
- Toma, um revólver, vai matar Lenícia.
- Tá maluca? Não sou assassino!
- Ou mata ou peço a separação.
- E se descobrirem?
- Não deixaremos pistas!

Pegam Lenícia em casa. Lenivalda conta que vai mostrar o sítio que comprou em Petrópolis. No meio do caminho, Lenivalda pára o carro. Vira-se para Ivan e ordena:
- Mata! Anda!

Ivan tira o revólver do porta-luvas e dá três tiros em Lenícia. O corpo de Lenícia fica na estrada. Sem Ivan perceber, Lenivalda tira a carteira de identidade do marido da bolsa e joga-a ao lado do corpo da irmã. Ivan é preso e condenado. No presídio, é conhecido como o homem do santo. Na hora do banho-de-sol, anda agarrado à imagem de São Judas Tadeu. Presente de Lenivalda e Aldemiro, que se tornaram amantes e visitam-no todo final de semana.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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