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Contos
20/11/2007 - 07h53
A cunhada Heloísa
Celamar Maione
 

- Estou bonita Alfredo?
- Tá!
- Só isso?
- Isso o quê?
- Tá!?
- Ué você não perguntou se estava bonita? Respondi.
- Tenho certeza que se fosse a Heloísa você faria um monte de elogios.
- Vai começar com essa história?
- Sei que gosta da minha irmã mais nova. Se casou comigo porque ela preferiu o Mário. Agora que está viúva, ficou livre pra você.
- Não vou nem responder. Vamos logo senão chegaremos atrasados na festa da sua sobrinha.

Durante o trajeto não conversaram. Maria Luíza ruminava pensamentos. Imaginava o marido de caso com Heloísa. O coração ficou apertado. Entristeceu-se. Foram os últimos a chegar à festa de quinze anos da filha de Helena, a irmã mais velha. Preocupada, ela os aguardava na porta.
- Vocês demoraram. Mamãe já estava nervosa. Estão todos naquela mesa grande. É a mesa da família.

Quando se aproximaram, Maria Luíza viu Heloísa com uma taça de vinho na mão. Com um sorriso amarelo, comentou com o marido:
- Nossa, como Heloísa está elegante! Cada dia mais linda! A viuvez lhe fez bem.
- Mesma coisa de sempre.
- Não adianta disfarçar Alfredo, sei que gosta dela.

Cumprimentaram os familiares e se acomodaram. Maria Luíza fez questão que o marido sentasse ao lado de Heloísa. A festa estava animada. Os jovens se divertiam entre uma dança e outra. Na hora da música lenta, os casais se formavam na pista de dança e Maria Luíza saiu-se com essa:
- Por que não chama Heloísa pra dançar, Alfredo?

Sem graça, ele fingiu não ouvir. Maria Luíza foi insistente:
- Heloísa, Alfredo quer dançar com você. Não negue essa dança ao seu cunhado.
- Vamos Alfredo?

Contrariado, pegou a cunhada pelo braço e foram dançar. Maria Luíza observava o casal de longe e, fingindo uma falsa felicidade, comentou com Helena:
- Fala a verdade, os dois não formam um belo casal?
- Tá doida Maria Luíza? Alfredo é seu marido!
- Mas acho que se dá melhor com Heloísa. Sempre achei.
- Parece maluca! Isso é coisa que se diga?

Alfredo e Heloísa empolgaram-se na pista de dança. Passaram a festa inteira dançando. Suando e sorridente, Alfredo comentou com a cunhada:
- Fazia tempo que eu não me divertia tanto!

Maria Luíza chegou naquele instante e ouviu a frase. Irritada, puxou o marido pelo braço.
- Acho que já dançaram o suficiente. Hora de ir embora!

Não se despediram de ninguém. A discussão começou no carro.
- Sabia que na primeira oportunidade você daria em cima da minha irmã.
- Não entendi, foi você quem sugeriu que eu dançasse com Heloísa.
- Uma dança só. Vocês dançaram a noite toda. Esqueceu até da minha existência.

Entraram em casa e trocaram-se para dormir sem dizer uma palavra. Maria Luíza pegou o travesseiro e foi deitar-se no sofá da sala. Pela manhã, a esposa acordou Alfredo, puxando-lhe a coberta.
- Acorda, anda. Você vai ter que ir ao supermercado comprar refrigerante e cerveja. Heloísa vem almoçar com a gente.
- Não entendi. Ontem você não estava chateada porque dançamos na festa?
- Hoje é outro dia. Passou.

Contrariado por levantar cedo em pleno domingo, Alfredo se vestiu e foi ao supermercado. Chegou com duas sacolas de compras. Maria Luíza aproveitou para fazer um comentário maldoso:
- Nossa, só porque Heloísa vem almoçar, comprou o supermercado inteiro.

A irmã foi pontual. O almoço correu tranqüilo, com os três conversando amenidades. No final da tarde, Maria Luíza arrumou uma dor de cabeça e foi descansar no quarto. Deixou Alfredo e Heloísa sozinhos na sala. Quando a irmã foi embora, Maria Luíza destilou novo veneno:
- Aposto que aproveitou para cantar minha irmã quando ficaram sozinhos.

Alfredo não respondeu. Ligou a televisão e aumentou o som. A mente fantasiosa de Maria Luíza infernizava-lhe a vida conjugal. Ela acreditava que um dia o marido sairia de casa, e assumiria a paixão por Heloísa. As desconfianças só acabaram quando a irmã anunciou o novo casamento. O escolhido era um antigo amigo de escola.

Com a nova união de Heloísa, o coração de Maria Luíza acalmou-se e ela já não briga quando sábado, depois do almoço, o marido diz que vai jogar futebol com os amigos. Livre das desconfianças, Alfredo entra no carro assobiando e aproveita para ajeitar o cabelo no espelhinho lateral. Dez minutos depois, estaciona em frente ao número 392 da Avenida Princesa Isabel, em Copacabana.
- Entra logo antes que nos vejam. Vamos aproveitar nossa tarde de amor. No de sempre?
- Sabe que adoro aquele motel.

Seguem em direção à Barra da Tijuca numa conversa de amantes:
- Maria Luíza está mais calma?
- Agora está.
- Ainda bem. Hoje você é só meu. Não vai sobrar pedaço para Maria Luíza.

No caminho, enquanto olham o azul do mar, naquela tarde quente de verão, trocam juras de amor. Normais, na boca de velhos e bons amantes.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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